Mr. Big e Sebastian Bach fazem a festa hard rock no Rio de Janeiro

Se uma banda de hard rock já faz uma festa danada, leva todo mundo a cantar de forma uníssona e proporciona motivos de sobra para abrir o sorrisão no rosto, agora imagina três bandas de hard rock! Pois é, o Vivo Rio, no Rio de Janeiro, neste último domingo, 28, foi agraciado com as apresentações dos veteranos Mr. Big e Sebastian Bach e do calouro Dino Jelusick.

Jelusick

O clima quente da capital fluminense serviu como um reflexo do que se viu em cima do palco e, claro, na plateia, assim o croata Jelusick debutou em território carioca para provar que rostinho bonitinho, caras e bocas não fazem verão – ou melhor, não fazem rock n’ roll -, já que tem que ter gogó afiado e um repertório caprichado para segurar a bronca na frente de milhares de pessoas.

Divulgando o álbum de estreia Follow The Blind Man (2023), Dino, em cerca de uma hora de apresentação, desfilou seu hard n’ heavy, deixou uma boa impressão em sons como Reign of Vultures, Acid Rain, What I Want e Animal Inside e conquistou muitos aplausos e apoio do público.

É bem nítido que Jelusick é uma pedra preciosa que carece de lapidação para chegar ao patamar da turma veterana, mas a essência de um grande artista corre nas veias do garotão.

Foto: Livia Teles

Tião

Sebastian Bach, que assumiu de corpo e alma e muito bom humor o carinhoso apelido de Tião que fora dado pelos fãs brasileiros, iniciou seu espetáculo com o jogo ganho. Figura tarimbada da cena musical, o cantor sabe que as rateadas vocais podem ser contornadas com muito carisma, brincadeiras, danças, bateção de cabeça e bastante comunicação com a plateia, e assim fora o teor de toda a apresentação do canadense.

Temas como Big Guns, Sweet Little Sister e Here I Am prepararam o terreno para o primeiro momento de catarse, que chegou com os acordes e versos do mega hit 18 and Life. Assumindo o nickname de Tião, o vocalista sacou uma cola, que virou motivo de piada pelo próprio artista, para ajudá-lo com o português, dessa forma frases como “Tião ama o Rio de Janeiro” e “são mais de vinte e cinco anos de rock n’ roll” ganharam a simpatia dos cariocas e colaborou para o clima de festa em família.

Danças meio desengonçadas ao ritmo de um suposto samba também estavam no arsenal de entretenimento do músico e banda. Já o perfil fraternal de Sebastian chegou com os pedidos de gritos às lendas do rock e metal que já morreram como Eddie Van Halen, Lemmy Kilmister (Motörhead) e Taylor Hawkins (Foo Fighters).

Foto: Livia Teles

Dos medalhões oitentistas do hard rock à la Axl Rose (Guns N’ Roses), Jon Bon Jovi (Bon Jovi), Stephen Pearcy (Ratt) e Vince Neil (Mötley Crüe), Tião é o cantor que mais conservou a voz e, mesmo com os limites impostos pela idade e o alto preço pago pelos anos de loucura e depravação dentro e fora dos palcos, consegue impor um bom ritmo nos shows e oferecer performances interessantes como a versão à capela da balada Wasted Time.

A tropeçada mais escandalosa da noite foi na execução de Rattlesnake Shake, que só engrenou na quarta tentativa: as duas primeiras investidas deram com os burros n’água por erros de Sebastian; a terceira vez foi acometida por uma pane na guitarra de Brent Woods – completa a formação o baixista Clay Eubank e o baterista Andy Sanesi – e a coisa só rolou, como foi dito anteriormente, na quarta tentativa.

Valeu o esforço, mas o show apenas voltou a esquentar com a trinca final que fora composta pelo clássico I Remember You, o cover de Tom Sawyer, do Rush, e o hino hard rocker, Youth Gone Wild.

Em pouco menos de noventa minutos de concerto, Sebastian Bach mostrou que ainda possui relevância na cena musical e muita disposição para quem tem mais de três décadas de carreira. E se depender do público carioca, Tião pode fixar residência pelas bandas de cá e gozar de muitos mais anos de rock n’ roll.

Foto: Livia Teles

The Big Finish

O terceiro e último ato da noite ficou na responsabilidade dos donos da festa, o Mr. Big. O quarteto simplesmente conseguiu o que é o sonho de muitos artistas e bandas, mas a conquista de poucos nomes da música, que é envelhecer com dignidade e não parecendo e soando como um pastiche de si mesmo.

Os tons mais altos de Eric Martin não têm o mesmo brilho e potência de outrora, contudo, a simpatia e a condução magistral do show continuam afiadas como nunca.

Os “professores” Paul Gilbert (guitarra) e Billy Sheehan (baixo) são da mesma natureza de Neil Peart (Rush), Roland Orzabal (Tears For Fears) e Simon Phillips (ex-The Who, ex-Toto), ou seja, não erram e têm a capacidade de filtrar o complexo para uma sonoridade melódica, acessível e agradável – completa a formação do grupo o boa praça e virtuoso baterista Nick D’Virgilio.

Para estabelecer o teor do show, o Mr. Big não economizou nos hits e iniciou os trabalhos com a bluesy Addicted to That Rush, a balada Take Cover e a cadenciada Price You Gotta Pay. Com os ânimos dos fãs devidamente a flor da pele, a banda executou na íntegra o seu segundo álbum de estúdio, o multi-platinado Lean Into It, de 1991.

Dessa forma, temas como as eletrizantes Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song) e Road to Ruin, as açucaradas Just Take My Heart, To Be with You e Green-Tinted Sixties Mind e a blueseira Alive and Kickin’ subiram o tom e a temperatura da noite.

Foto: Livia Teles

Mr. Big tem a ímpar capacidade de incorporar nuances de diferentes universos sonoros e compilá-los a seu favor, dentro de um esquadro próprio, portanto, há contornos doces da música pop, a complexidade do jazz, a sensualidade do blues e a energia e vigor do rock n’ roll.

Ao mesmo tempo que a pegada acelerada e virtuosa de Alive and Kickin’ soaram como uma aula aos amantes do virtuosismo, Wild World, cover de Cat Stevens, vibrou como um bálsamo aos ouvidos mais delicados e aos casais apaixonados.

A bola fora do show ficou na conta dos quatro covers: Shy Boy (Tallas) e 30 Days in the Hole (Humble Pie) foram legítimas e não causaram tanto desconforto, visto que estão no repertório do grupo há décadas. Baba O’Riley (The Who) e Good Lovin’ (The Olympics), no entanto, soaram supérfluas e desnecessárias, por mais que sejam canções incríveis.

Como se trata da derradeira turnê do Mr. Big, isto é, última passagem do quarteto pela capital fluminense, seria justo e pertinente trocar Baba O’Riley e Good Lovin’ por temas como Undertow, All the Way Up, Gotta Love the Ride, Defying Gravity, entre outras boas opções.

Mas, assim como todo show do Mr. Big, o tempo passou voando, o sentimento de felicidade e alegria foi compartilhado pelos fãs e músicos e o gosto de quero mais ficou pairando no ar. Eric, Paul e Billy vão pendurar as chuteiras ao final da The Big Finish Tour, contudo, o legado musical dos caras e a memória do saudoso baterista Pat Torpey vão viver para sempre.

Foto: Livia Teles
Foto: Livia Teles

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