Em 1 de agosto de 2015, o Rush realizou seu último show da carreira; o espetáculo, que rolou na famosa casa The Forum, em Los Angeles, foi recheado de pérolas musicais como Red Barchetta, The Spirit of Radio, Xanadu, Subdivisions e Working Man.
Pouco menos de cinco anos depois de tal show, em janeiro de 2020, o baterista e gênio criativo Neil Peart faleceu, após uma batalha de três anos contra o glioblastoma, uma forma agressiva de câncer no cérebro. Na época, Neil tinha apenas 67 anos.
Apesar do gosto amargo em ver o Rush se despedindo dos palcos e a tristeza contínua assegurada pela morte de Peart, os fãs, de uma maneira ou outra, aceitaram o fato de ver, sentir, curtir e viver o grupo através de sua longa discografia e registros ao vivo.
Cabe fazermos um importante adendo sobre o trio canadense. Rush não é uma mera banda com meia dúzia de sons legais que fizeram barulho na cena musical por determinado tempo. Rush é uma entidade quase angelical da música; tão imponente quanto a força da natureza.
A aquarela musical percorrida por Lee, Lifeson e Peart é definitivamente ampla, contudo, plantou base no rock progressivo, mas assegurou belos passeios pelo classic rock, metal, reggae, eletrônico, blues e folk. E não pense que todos estes estilos se trombavam como em uma lambuzada sopa de letrinhas sem pé nem cabeça.
Não, era exatamente o oposto: tudo era muito bem azeitado, por conta da soma das forças dos três atores. Um completava o outro – era quase como os elementos naturais: água, fogo e ar, ou seja, um dependia do outro, um exercia influência ao outro para que nada saísse dos trilhos, assim o equilíbrio seria cirurgicamente aplicado em suas canções.
Em outras palavras: as peças se uniam à beira da perfeição. Dessa forma, o êxito comercial, centenas de concertos com lotação esgotada – inclusive em nosso querido Brasil -, milhões de discos vendidos, discos de ouro e platina e liderança na seara do rock e metal vieram a reboque, como uma reação óbvia ao belo trabalho constituído pela trinca.
Recentemente, estimulado pelo ex-Beatle Paul McCartney, Geddy comentou que o Rush pode voltar a se apresentar. Bem, levando em consideração a importância igual dos três indivíduos: Lee, Lifeson e Peart, a indagação é óbvia: como um tripé ficará de pé sem uma das partes?
Por mais que tenha no universo musical pessoas tecnicamente capacitadas, o ponto vai além da destreza técnica desse ou daquele músico/instrumentista; tem a ver com a química orgânica constituída pela troika canadense.
Portanto, uma volta do Rush é insensata e desrespeitosa com Neil Peart, seu legado, seus familiares e, até mesmo, com os fãs do músico e da banda. Ter uma reunião de Geddy e Alex tocando as músicas do grupo – quiçá material inédito – seria maravilhoso, contudo, sob uma outra égide, um outro nome.
Na verdade, o mundo do rock precisa da presença ativa da dupla para elevar o sarrafo qualitativo da cena. Ainda assim, certos parâmetros precisam ser respeitados e muito bem delineados, e um deles é deixar o Rush descansar em paz e eternamente.