Uriah Heep enfeitiça os fãs cariocas e prova que não precisa de bugiganga tecnológica para fazer rock

O backline de uma banda de rock n’ roll e heavy metal contemporânea é repleto de aparatos tecnológicos, laptops, backing tracks, cliques e toda sorte de apetrecho digital para que a apresentação saia perto de um teor à la Santo Graal. Contudo, para alcançar a suprema glória na música pesada, o caminho é exatamente o contrário, é passar longe das resoluções plásticas e sintéticas da tecnologia e focar essencialmente no quesito humano.

Sabiamente, o veterano Uriah Heep sempre conduziu a sua carreira dessa forma, e o público carioca pôde testemunhar na última quarta-feira, 09 de abril, no Teatro Clara Nunes, como se faz um verdadeiro show de rock.

O mote da recente turnê, The Magician’s Farewell Tour, é uma viagem plena aos cinquenta e cinco anos de carreira da banda e os magos do classic rock não economizaram na energia em seu set de quase duas horas de duração, o qual começou com a única representante do álbum Living the Dream, Grazed By Heaven.

Mesmo em poucos minutos de espetáculo, as bases da noite foram estabelecidas, as quais se firmaram em um classic rock em seu estado mais puro e em performances individuais irrepreensíveis. O novato rebento de estúdio, Chaos & Colour, ganhou holofote nas figuras de Save Me Tonight e Hurricane, que mostraram força dentre os hits dos anos 1980 e 1970.

Colocar um show de rock em um teatro funciona para algumas bandas, porém, para o Uriah Heep, o esquema não ficou tão bem organizado, apesar da oportunidade de ver os artistas bem de perto. Por conta das cadeiras do teatro e o espaço mais limitado, a atuação do público ficou compulsoriamente mais tímida, no entanto, a casa cheia compensou com muita aclamação e cantoria, o que deixou o quinteto inglês claramente feliz.

Mesmo com os novos sons segurando bem a onda da festa, os fãs queriam se banquetear com os clássicos setentistas como Stealin’, The Wizard, Sweet Lorraine, The Magician’s Birthday, Gypsy e July Morning. E a admiração dos músicos pelo entusiasmo dos brasileiro foi clara. O vocalista Bernie Shaw ainda ressaltou que os fãs pareciam torcedores de futebol, visto tamanha euforia.

E por falar em Bernie Shaw, o gogó do canadense continua afiado como o de um mancebo. Mesmo no alto de seus 68 anos, a idade parece não pesar em sua performance vocal! Ele continua com as suas frases cheias de drives e agressividade e alcançando tons altos em diversos momentos da apresentação.

Além da parte técnica, o vocalista também se destaca como anfitrião, visto que carisma está em sua vasta lista de atributos. O resto da turma não fica atrás, pois o líder e guitarrista Mick Box continua enfeitiçando a plateia com sua atuação simples e magistral.

O baterista Russell Gilbrook foi outra figura que agregou muito valor ao concerto com a sua pegada forte e cheia de groove. Já o experiente Phil Lanzon comandou as nuances e as dinâmicas sonoras do repertório e ajudou na harmonia vocal, assim como o baixista Davey Rimmer.

De volta ao concerto, o grand finale foi com a dupla Sunrise e Easy Livin’, que ganharam o reforço de um coro de centenas de vozes. O Uriah Heep provou que não precisa de bugiganga tecnológica para fazer um grande show de rock e reiterou também que as bandas mais novas precisam comer muito arroz com feijão para tentar se equiparar a este baluarte do classic rock.

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