Catar as memórias de shows lá dos idos das décadas de 1980 e 1990 é uma tarefa prazerosa e envolta a muita nostalgia, mas no bom sentido. Nostalgia, quando bem balanceada, é um sentimento positivo, diga-se de passagem. Em tais tempos jurássicos, ir e assistir show de banda rock n’ roll e heavy metal era o evento do ano, visto que o mercado doméstico não era tão aquecido como os dias atuais.
Portanto, curtir aqui em nosso país espetáculos de Van Halen em divulgação ao quinto álbum, Diver Down; Venom e Exciter no ginásio do Corinthians em 1986 e o Iron Maiden com a World Slavery Tour em 1985 e a Fear of the Dark Tour em 1992 foram marcantes e significativos para a cena nacional e, obviamente, para o pessoal que prestigiou os eventos.
O entusiasmo e a entrega dos fãs eram literalmente de corpo e alma. Os poucos meios de comunicação que existiam voltados à música pesada davam as dicas do que rolaria na agenda nacional e quando aconteceriam os arrasta-pés. O passo seguinte era um salve-se quem puder para conseguir comprar ingresso e, claro, comparecer ao evento.
O ponto que queremos chegar é que tudo era mais complicado e cansativo até chegar ao êxtase de ver a banda favorita no palco. Dessa forma, havia, de certa maneira, uma valorização por estar ali presente no espetáculo e vivenciando cada segundo da festa. É claro que existiam os tontos que enchiam o caneco, perdiam o rumo de casa, davam trabalho para os amigos e não faziam ideia de onde estavam, contudo, eles não eram a maioria.
Com o passar do tempo e o amadurecimento do mercado doméstico, os eventos passaram a ser mais corriqueiros, o que foi ótimo, visto que a cena ficou coalhada de apresentações para todos os gostos. E com tal avanço do tempo, o público passou a levar outras bugigangas para os concertos, a câmera analógica com filme de doze ou vinte e quatro poses cedeu lugar à câmera digital e, posteriormente, ao celular, que é o objeto agregador de mil e uma utilidades, entre elas, pasmem, tirar de foto e filmar.
E são estas duas pragas que têm tomado conta dos espetáculos ao vivo, hoje em dia. Usar o objeto para imortalizar o momento com os amigos e familiares é perfeito e faz parte da experiência em curtir uma exibição musical ao vivo. No entanto, sacar o maldito aparelho para filmar na íntegra o concerto é um desrespeito com o artista/banda e com as outras pessoas que estão no evento, pois, invariavelmente, o “bendito cineasta” ergue as mãos para registrar as imagens e atrapalha quem está na parte posterior.
Não é raro precisar mudar de posição na casa de show para desviar das centenas de mãos que estão erguidas para fazer filmagens toscas da festança. Se a pessoa quer perder a experiência de ver o conjunto ao vivo e deseja ver tudo pelo filtro virtual e estéril da tela de um celular, isto é integralmente o seu problema e azar, mas, o que é inconcebível, é impor o mesmo expediente aos outros pagantes.