“Fazer rock n’ roll é tão difícil quanto compor uma sinfonia de Beethoven”, declarou o compositor e multi-instrumentista Steve Winwood (ex-Traffic) nos longínquos anos 80. Bem, é fato que sempre vai haver um bocado de gente interessada em compor um som caprichado, bem-feito, independentemente da forma, estilo e ou época.
E, para sorte do público, algumas bandas e artistas, em determinado período, estão tão concentradas e entrosadas com sua arte e com o genuíno desejo de colocar na praça um trabalho bacana, que acabam rompendo as barreiras e sistemas pré-estabelecidos em suas carreiras.
Naturalmente, como consequência, essa turma emplaca, querendo ou não, uma revolução no mercado em que atua e, obviamente, na própria carreira. E a cena doméstica está coalhada de tais exemplos benfazejos – e aqui vai uma amostra clássica do citado axioma.
Para os que acharam que o Angra estava fadado a residir a sete palmos do chão com a saída de Andre Matos (vocal), Luis Mariutti (baixo) e Ricardo Confessori (bateria), o grupo brasileiro levantou, sacudiu a poeira, partiu para sua segunda encarnação e deu a volta por cima com o lançamento de Rebirth, em 2001.
A consagração, contudo, de tal sobrevida, fora com o intrincado e primoroso Temple of Shadows, lançado em 2004. O disco é absolutamente requintado e nivelado por cima; a obra lança mão de belos arranjos e orquestrações, afiados solos e riffs, além dos impecáveis e saborosos temperos brasileiros.
Temple of Shadows tem identidade própria e passa longe de ser um espectro das obras da formação anterior incorporado à versão 2003 e 2004 da banda. É, sem um pingo de dúvida, o Angra no melhor de sua forma e brilhando intensamente.
É uma pena que após o ciclo do álbum, as coisas começaram a sair dos trilhos! O relacionamento interno deu sinais de cansaço e os dramas passaram, desde então, a serem a tônica da carreira do grupo.
Portanto, não é exagero, tampouco disparate, afirmar que Temple of Shadows é o último álbum do Angra que presta e merece sua atenção. De lá para cá, a banda vem apenas se escorando em toda forma de arrimo para não se soterrar no próprio terreno movediço que criou.