A nostalgia paira no ar quando se lembra que já faz mais de vinte anos desde que Tarja Turunen e Marko Hietala, então membros do Nightwish, trabalharam juntos no álbum Century Child (2002). Quem já conhecia pôde desfrutar uma banda que viria a se tornar uma das maiores do planeta, sem imaginar a série de intrigas que também se seguiria, com a demissão nada amistosa de Tarja.
Um longo e tortuoso caminho depois, os ex-desafetos desembarcaram no Rio de Janeiro nesta quinta, 15, para a turnê Living the Dream – The Hits. Na teoria, a turnê faz parte da atual carreira solo de Tarja, tendo Marko como convidado. Na prática, não é segredo o que todo fã gostaria de vê-los tocar: os clássicos do passado. E, no fim das contas, a apresentação teve um pouco de tudo.
Pontualmente às 21h e com a casa cheia no Sacadura 154, Marko subiu ao palco para seu show solo. Descalço e confortável como quem faz um som no churrasco dos amigos, o comunicativo Hietala fez uma apresentação intimista, no formato voz e violão, acompanhado apenas por um segundo violão de apoio.
Em cerca de 40 minutos, tocou covers variados e uma música de sua carreira solo, a cativante Stones. Quando chegou a hora de The Islander (Nightwish), o público soltou a voz e cantou em uníssono, criando um dos momentos mais belos da noite.
Apesar da satisfação geral em vê-lo novamente no palco, seria ainda melhor se Hietala substituísse alguns covers por músicas mais pessoais. Por exemplo, mais uma faixa de seu álbum solo, que é um bom disco (Pyre of the Black Heart, 2020).
Ou uma versão simplificada de Endlessness, que o Nightwish jamais tocará ao vivo. Ou algo do Delain, com quem Marko já tanto contribuiu. Ou, para o espectador que joga heavy metal no modo avançado, algo do Tarot ou do Sinergy. Enfim, opções não faltam, partindo de uma carreira tão vitoriosa.
Eis que, cerca de 20 minutos após Marko sair ovacionado do palco, Tarja entra com sua banda de apoio. Sem pano de fundo ou efeitos, o foco da noite era celebrar a música, o legado e a amizade.
Então, após quatro faixas de seu setlist usual, chega o grande momento que todos esperavam: Hietala retorna para o início da apresentação conjunta, e a casa vai abaixo com Dead to the World (Nightwish).
Passado e presente se unem: Tarja e Marko ainda performam juntos a inédita Left on Mars, um rock n’ roll sinfônico que a dupla acabou de gravar como single, além de Dark Star e Dead Promises, ambas da carreira solo de Tarja e bem recebidas pelos fãs.
Aliás, quem acha que as guitarras são muito altas em um show de rock é porque nunca viu o público. Brincadeiras à parte, com a sequência de pedradas Planet Hell e Wish I Had An Angel (Nightwish), o público vai ao êxtase e faz, provavelmente, o maior barulho que a casa de Sacadura já testemunhou.
Depois dessa, Marko pode se despedir e deixar o palco, pois o jogo já está ganho. Tarja agradece pela energia do público e emenda a trinca final de sua carreira solo: I Walk Alone, Victim of Ritual e Until My Last Breath, que também obtiveram calorosa recepção. No encerramento da noite, Hietala retorna para Over the Hills and Far Away.
Sem dúvida, o poderio vocal e a presença de palco de Turunen e Hietala ficaram evidenciados, para deleite dos fãs. Mas também é importante ressaltar que, durante toda a apresentação, a dupla se manteve próxima, demonstrou boa química e, acima de tudo, pareceu realmente ter feito as pazes com o passado. Afinal, essa é a única forma de uni-lo ao presente.