A história é conhecida pela maioria: o heavy metal é um dos filhos mais barulhentos e nervosinhos do rock n’ roll. O nascimento da criança foi com o álbum homônimo ao Black Sabbath, no comecinho da década de 1970. O resto, como é falado no jargão popular, é história.
Mas tem uma parte da história que precisa de um pouco mais luz e atenção, que é a presença feminina na cena. Desde o começo, o metal foi vendido e percebido pelo público como um lugar essencialmente masculino, como um tal clube do bolinha.
É uma miopia, para não dizer cegueira, de quem percebe o mercado musical desta forma tão pequena. A música pesada é forma de arte e comunicação para quem tiver a fim de curtir. Simples assim! Não pertence a esse ou àquele gênero. Então, algumas mulheres foram imprescindíveis para fincar a bandeira feminina no universo heavy metal e ajudar a enfraquecer os preconceitos – que infelizmente ainda existem e empobrecem a nossa sociedade.
A presença e o trabalho de nomes como Rosetta Tharpe, Tina Turner, Suzi Quatro, The Runaways, Janis Joplin, Stevie Nicks, Heart, Debbie Harry, Pat Benatar, entre outras, no rock, ajudaram abrir caminho para a turma que ganharia fama e reconhecimento anos depois no metal.
A eterna Metal Queen, Doro Pesch, liderando o poderoso Warlock e, em seguida, em carreira solo, foi uma das primeiras garotas a desbravar o mundo metal. A alemã Sabina Classen, que é conterrânea de Pesch, também entrou com tudo no estilo no começo dos anos 80.
Durante a citada década, a presença feminina foi aumentando de forma gradativa, com o surgimento de inúmeras instrumentistas, cantoras e bandas essencialmente formadas por mulheres. O estouro, no entanto, aconteceu nos anos 90, com o surgimento da banda finlandesa Nightwish, que contava com a soprano Tarja Turunen nos vocais.
Com técnica apuradíssima, performances irrepreensíveis, beleza angelical e carisma, que continha um quê inocente e tímido, a cantora cativou um lugar especial no coração dos fãs, que logo, logo a colocaram no centro das atenções do mercado fonográfico, o que gerou, claro, um grande interesse daqueles que outrora negavam e ou subestimavam a presença das mulheres à frente de um grupo de metal.
Goste ou não! O fato é que o sucesso de Turunen abriu a porta para que inúmeras mulheres entrassem com tudo na música e para que outras que já estavam no mercado recebessem a devida atenção e respeito.
De maneira direta ou indireta, Tarja colaborou para que o trabalho de bandas como The Gathering, Within Temptation, Lacuna Coil e afins chegasse a mais pessoas e, naturalmente, se estabelecesse na cena.
Ao longo dos anos, em sua carreira com o Nightwish ou em formato solo, Turunen passou por altos e baixos, mas sua importância à música pesada e o seu trabalho de consolidar a presença feminina no universo metal continua imaculado. Nós, fãs – e não importa o gênero – somente devemos agradecê-la e prestigia-la.