É simplesmente impossível conceber uma banda essencialmente rock n’ roll e heavy metal sem as maravilhosas linhas de guitarra; sem os riffs, pois são um convite aberto aos fãs cantarem junto as hipnóticas melodias e, decerto, sem os bombásticos solos que desafiam, em muitas vezes, as regras convencionais do instrumento e, até mesmo, os limites humanos e dão um nó na cabeça da turma que tenta tocar e emular tais sons.
No recente festival Summer Breeze Brasil, que aconteceu no Memorial da América Latina, em São Paulo, algumas dezenas de guitarristas usaram e abusaram de suas propriedades técnicas e performances fascinantes para entreter e cativar o público.
Dito isso, relacionamos 5 duplas de guitarristas que brilharam no festival com um espetáculo à parte às bandas em que integram.
1. Tainá Bergamaschi & Jéssica di Falchi – Crypta
É fato! A Crypta ampara seu death/black metal nas guitarras de Tainá e Jéssica – e no furacão percussivo proposto por Luana Dametto, diga-se de passagem. Mas é claro como cristal que a pujança sonora da banda reside na pegada firme e na técnica apurada de Bergamaschi e Falchi. Escoltadas pelas marcas pesos-pesados Solar e ESP/LTD, as garotas mostraram muita desenvoltura técnica e presença de palco.
Além disso, evidenciou que o som praticado pela Crypta não contempla toda amplitude musical da dupla das seis cordas. Um projeto paralelo voltado apenas às guitarras seria deveras interessante e prazeroso de curtir.
2. Dave “The Snake” Sabo & Scotti Hill – Skid Row
A experiência e a bagagem musical sempre vão pesar a favor de uma performance harmônica e bem azeitada. Com mais de trinta anos de hard rock nas costas, Sabo e Hill sabem como poucos que muito ganho em camadas e mais camadas de efeitos tendem a deixar o timbre uma bagunça sonora, o que pode prejudicar uma percepção mais apurada e prazerosa do playing.
Então, sabiamente, a dupla defendeu seu saboroso som com o timbre encorpado de uma ESP e Gibson, respectivamente, com distorções vindas do bom e velho amp. Simples, direto e pesado, o que fora um deleite aos ouvidos.
3. Phil Demmel & Mark Morton – Lamb of God
Tocar as linhas de guitarras criadas por Mark Morton e Willie Adler é sinônimo de cilada e uma intimidade com o metrônomo que pode até irritar! Nas últimas turnês, Adler não vem se apresentando com a banda, pois está focado na resolução de problemas pessoais. Com isso, o grupo recebeu o reforço de Phil Demmel, do Vio-Lence, e despejou toda a brutalidade de seu groove metal nas dezenas de milhares de fãs que prestigiaram seu show.
Phil usou sua Jackson King V inspirada na lendária Polka Dot Flying V, de Randy Rhoads; já Mark preferiu o som cheio de sua Gibson Les Paul. Claramente influenciados pelo Sepultura, a dupla priorizou passagens dissonantes em meio ao maravilhoso caos sonoro produzido pela banda, além disso, o sincronismo e o peso nas bases fizeram o chão do Memorial da América Latina tremer.
4. Wolf Hoffmann & Philip Shouse – Accept
Os fãs mais puristas e ortodoxos sempre irão torcer o nariz para a atual formação do Accept, o que é lamentável e azar de tal público, pois estão perdendo sensacionais shows e uma “parede guitarrística” liderada Hoffmann. Assim como o Iron Maiden e Lynyrd Skynyrd, o grupo conta com três guitarristas: Philip Shouse, Uwe Lulis e o big-boss, Wolf. A comissão de frente, no entanto, fica na responsabilidade de Shouse e Hoffmann.
E é tal duo que brilhou no Sun Stage, com solos acrobáticos, bases sólidas e muitos, muitos riffs que fizeram os fãs soltarem o gogó nas envolventes melodias. Apesar do cansaço diante da imensa maratona de shows, foi impossível ficar apático aos licks e frases de Balls to the Wall, Princess of the Dawn e Metal Heart.
5. André Olbrich & Marcus Siepen – Blind Guardian
Numa comparação meio irresponsável, André e Marcus são como Angus Young e Malcolm Young, do AC/DC, do power metal, pois a codependência entre os músicos sempre fora evidente e bem-vinda! Enquanto Siepen segura a pesada tarefa de sustentar os tons médios em temas como Imaginations From the Other Side, Nightfall, Time Stands Still (At the Iron Hill), Valhalla e Mirror Mirror, Olbrich costura a parte melódica, mais aguda, regada ao efeito wah wah. Uma obra-prima das seis cordas que só é possível na tutela de mãos habilidosas, pois, caso contrário, soaria como um arremedo insosso dos baluartes do heavy metal.