Não seria difícil e ou fora de esquadro que adjetivos como musicalidade e complexidade se tornassem sinônimos de Steve Vai, visto que o guitarrista norte-americano é um dos poucos, quiçá, o único que consegue alinhar e edificar uma carreira de trinta e sete anos sob os dois citados predicados. E na noite de ontem (03), o público carioca pôde testemunhar mais uma apresentação do músico, onde, além dos citados atributos, o talento, carisma, técnica apurada e competência foram as palavras de ordem durante as quase duas horas e meia de show do guitar hero.
A viagem ao mundo encantado dos arpejos; sweeps; escalas maiores e menores; menor harmônica; tríades; tétrades; bends; vibratos; pull offs; hammer ons; harmônicos artificiais e naturais e, lógico, ao mote da atual turnê, a celebração dos vinte e cinco anos do clássico Passion and Warfare (Nota: O álbum completou, em 2017, vinte e sete anos de lançado, no entanto, o tema da turnê se ampara nos vinte e cinco anos de seu lançamento), começou no telão, posicionado atrás do preciso e competente baterista Jeremy Colson, onde um fragmento do filme Crossroads (1986), que tem o próprio Vai como uma das estrelas da obra, atiçou a memória emocional dos fãs que acompanham, passo a passo, a carreira do virtuose.
O hit Bad Horsie foi o responsável por dar o pontapé à noite memorável regida pelo suprassumo da carreira de Steve. As melodias de The Crying Machine são cantaroláveis e agradou facilmente o público que já estava sob o comando e batuta do regente Vai. A pegada hard rock de Gravity Storm colabora, e muito, para a dinâmica do show, garantindo com seu peculiar peso para o saldo para lá de positivo da noite. E por falar em dinâmica, as frases suaves e calmas de Whispering a Prayer parecem transportar os fãs a um estado contemplativo da vida, favorecendo sentimentos salutares como apreço, amizade e empatia.
Mesmo sem a necessidade de se expressar por meio das palavras, visto que o diálogo era conduzido pelas seis cordas, Steve fora simpático, extrovertido e cordial com o público, conversando e brincando com a grande legião de fãs que lotou as dependências do Imperator. O guitarrista é tão bacana que deixou um fã pedir, em cima do palco, sua namorada em casamento, e tendo, lógico, à benção e aconselhamento de Steve para que o casamento vingue. O telão, usado durante toda a apresentação, fosse para estampar a capa de determinado álbum ou imagens que remetessem às respectivas canções do repertório, ganhou, para a surpresa dos fãs, a interação com músicos consagrados como Joe Satriani, John Petrucci e Brian May, o que deixou o show com um quê ainda mais especial.
Segundo SV, era a primeira turnê em que ele executava o álbum Passion and Warfare na íntegra, já que nunca havia se sentido seguro e à vontade de interpretar tal material em absoluto, no passado. Bem, hoje, a banda de Vai, completada por Philip Bynoe (baixo); Dave Weiner (guitarra) e o já citado Jeremy Colson (bateria), é o sonho em termos de técnica e precisão, e proporcionou, sem sombra de dúvidas, a base perfeita para que o guitarrista brilhasse e executasse, de forma irrepreensível, o álbum.
Como comentado, Passion and Warfare fora executado na íntegra, ou seja, não faltaram sons como a melódica Liberty; as intricadas Erotic Nightmares e The Animal; a jazzy Answers; a singela Ballerina 12/24; a clássica e magistral For the Love of God; a lenta e pegajosa Sisters e as transloucadas Alien Water Kiss e Love Secrets. Se não fosse o bastante, o incansável guitarrista tirou do fundo do baú Stevie’s Spanking, que teve o saudoso Frank Zappa no telão interagindo com Vai e fechando a noite com Fire Garden Suite IV – Taurus Bulba.
Não à toa que Steve Vai é considerado um Deus da guitarra, já que sua musicalidade, timbre, técnica, bom gosto em escolher as notas certas e no momento certo e elegância são qualidades almejadas por muitos músicos, no entanto, conquistadas por poucos. Os fãs cariocas que se dispuseram a prestigiar o guitar hero em divulgação dos vinte e cinco anos do clássico Passion and Warfare testemunharam uma apresentação que figurará fácil, fácil, naquelas listas de debates, entre amigos, de quais os melhores shows já assistidos.