Não há como evitar o trocadilho, aproveitando o nome da banda italiana, eu diria que as duas bandas fizeram dessa noite a perfeita trilha sonora para um apocalipse. Essa é uma das turnês mais esperadas por aqui esse ano, tour Latina Americana que começou por nosso país, aproveitando o feriado nacional, passando por São Paulo capital e segue nesse fim de semana ainda por Limeira-SP e Rio de Janeiro-RJ.
A produtora Overload tem beneficiado os fãs de metal e fortalecido a nossa cena nos brindando com bandas que muitas vezes nem esperávamos que tão cedo viriam ao nosso país e outras que são tão aguardadas por sua extensa carreira e que ainda não haviam tocado, desta vez a Overload com a IDL Entertainment trouxeram dois poderosos nomes, praticamente comandantes do death metal sinfônico da atualidade.
A primeira, Fleshgod Apocalypse, surpreendendo, pois muitos ainda não sabiam, mas o baterista e fundador do grupo, Francesco Paoli (vocalista original do primeiro álbum), voltou ao posto de vocalista e guitarrista deixado por Tommaso Riccardi poucas semanas antes do início da tour. Para a bateria trouxeram David Folchitto e para a guitarra solo Fabio Bartoletti, lineup fixa completada pelo baixista e backing vocal Paolo Rossi e o pianista e orquestrador Francesco Ferrini, todos muito bem entrosados, nem parecia que a banda havia passado por essa mudança alguns dias antes de iniciar a tour, visto a complexidade de sua música.
Outra surpresa que trouxeram foi a excelente soprano Verônica, com uma máscara misteriosa e um bastão como de uma sacerdotisa, assim completava o visual teatral da banda, o que casou perfeitamente com todo o clima tétrico dos pianos junto ao peso avassalador do seu death metal.
Foram um pouco prejudicados pela equalização do som no início, mas ao longo das duas primeiras músicas isso foi sendo ajustado e ao início da terceira já podia se ouvir perfeitamente os solos de guitarra, vocal da soprano Verônica, os backing vocals e o piano, que estava bem audível em meio a todo o apocalipse sonoro executado pela banda.
Paolo Rossi tocou guitarra e cantou de forma excelente as músicas antes executadas pelo outro vocalista, apesar de fazer um estilo de mau no palco, brincou algumas vezes com o público, principalmente em um momento o qual iria anunciar a próxima música e pediu silêncio, mas dois fãs continuavam a conversar em frente a ele, e, então, ele pediu novamente de forma engraçada se fazendo de mau, esse momento soou hilário.
Ao anunciar a música, ela não foi iniciada por um pequeno problema técnico em que ele desabafou: ” Dia dos problemas”, a banda teve problema com a empresa aérea que perdeu ou extraviou uma de suas bagagens contendo um equipamento que seria usado ao vivo.
O Fleshgod Apocalypse fez uma excelente estreia em nosso país, surpreendeu a muitos que como eu, apesar de já conhecer a banda, não esperava que ao vivo fossem ser tão bombásticos como foram. Após a soprano abrir e ler um pergaminho manuscrito, iniciaram a execução da última música de forma avassaladora e assim despediram-se dos brasileiros.
Como eu havia dito acima, a Overload vem trazendo bandas relativamente novas as quais jamais imaginávamos que já estariam em tour em nosso país e também tem realizado o sonho de muitos fãs que ainda esperavam por um dia ver ao vivo seus artistas prediletos, quando falo a espera, quero dizer mais de 20 anos, é o caso deste nome principal da noite, o Septicflesh.
A Grécia, no início dos anos 90, revelou ao mundo grandes nomes do metal extremo como: Rotting Christ, Thou Art Lord, Acheron, On Thorns I lay, Nightfall e muitos outros, mas uma banda em especial tem se destacado e se tornado o maior nome do death metal grego atual, principalmente após o início dos anos 2000, embora seus discos anteriores sejam grandes clássicos do death doom e até flertadas com o gótico e o industrial, como no caso do Falen Temple e do Revolution DNA, a banda ao longo da carreira foi construindo uma sonoridade própria e cada vez mais interessante, intensificando o uso de elementos eruditos orquestrados e alguns étnicos ao mesmo tempo em que o peso e brutalidade do seu death metal foi cada vez mais evidenciado.
Às 22h15 em ponto, reabriu-se as cortinas e iniciou a introdução, já abriram com War in heaven, com um som nitidamente perfeito, bateria muito bem equalizada no triguer e as guitarras extremamente pesadas. Seth Spiros (vocal e baixo) pergunta: “Vocês estão prontos para a comunhão?”, e já disparam a avassaladora Communion, death metal brutal com uma performance animal, após outro breve “Boa noite São Paulo!”, iniciaram Pyramid god, com o público indo ao delírio, Seth pediu para que fizessem um mosh, mas o público estava tão compenetrado na imagem da banda e performance deles que preferiram continuar “imóveis” admirando cada movimento da banda no palco.
Devo confessar que eu também como designer e admirador de suas artes gráficas (Seth é designer gráfico bem conceituado no metal, tendo feito capas para Paradise Lost, Moonspell, Kamelot e até para os brasileiros do Semblant e Of The Archaengel), seu trabalho tem sido uma peça complementar em sua banda, pois além de toda a parte gráfica envolvida em suas capas e encartes, ele também buscou levar isso para o palco, o que engloba desde os belos backdrops até o visual usado pela banda, algo meio que único e que conseguimos identificar suas influências, como do filme Drácula de Bramstoker tanto na “armadura” do Seth quanto em algumas passagens das músicas, como se fosse uma versão metal para uma nova soundtrack criada pro filme.
Seth anuncia uma música especial do novo álbum para São Paulo, a bela Martyr, logo na sequência mandaram Prototype do álbum Titan, seguida de Vampire from Nazare, do Great Mass. Após alguns ajustes no baixo, que por sinal estava com uma distorção e timbre únicos, tornando todo o som muito mais pesado, Seth fala: “Voltando um pouco no tempo, vamos tocar algo do Sumerian Daemons”, e assim inicia uma das músicas mais pesadas do álbum, Unbeliever, então ele volta ao grande communion executando Persepolis.
Tenho que destacar aqui a incrível performance de toda a banda, o mestre e guitarrista Chris Antoniou (com uma roupa que me lembrou algo meio Alien, aliado aos seus longos dreads), o trabalho extremamente técnico do baterista Kerim Lechner (Krimh), além do novo guitarrista canhoto Psychon que se encaixou perfeitamente na banda.
Seth pede para o público acompanhar a melodia da próxima música como um coral em uníssono, iniciou seu maior hino dos últimos anos: Anubis, o que foi um delírio para o público presente. Antes de iniciar a última música (isso mesmo, o set foi muito curto, apenas uma hora cravada) ele tentou falar um pouco sobre como cada lugar possui seus próprios Deuses; tentou falar, mas o público não deixava, então ele resumiu que a última música da noite seria sobre Prometheus, executando, mais uma vez, com total maestria seu death metal sinfônico que a cada música executada parecia contar uma história sobre a humanidade e seu fim.
Gostaria de chamar a atenção do público metal e rock em geral para comparecer aos eventos, fazendo a sua parte você ajuda a fortalecer mais e mais a cena possibilitando o sucesso de investidores que acreditam no metal, como a Overload e Ultimate Music, para continuarem assim trazendo para o Brasil bandas tanto novas como outras de longa estrada as quais ainda não vieram a solo brasileiro. Parabéns as bandas, a produtora e ao público presente que saiu de lá do Hangar realizado.