No final de 1999 e começo de 2000, o metal nacional foi virado do avesso com o colapso da formação considerada original do Angra. Por mil e uma razões, Andre Matos (vocal), Ricardo Confessori (bateria) e Luis Mariutti (baixo) abandonaram o barco para começar do zero um capítulo da música pesada brasileira.
Desde o início, ficou evidente que o trio dissidente do Angra não estava disposto a ficar no canto acuado, lambendo as feridas abertas e, ainda pior, lamuriando sobre as tribulações vividas há pouco. A energia negativa, as frustrações e a vontade de se impor como uma força musical foram alguns dos propulsores que deram vida ao Shaman.
A trinca, portanto, se alinhou ao irmão mais novo de Luiz Mariutti, Hugo, e com o apoio incondicional do produtor alemão Sascha Paeth, o time deu vida ao debute Ritual. A expectativa logo cedeu lugar para satisfação. E já numa primeira audição era possível vislumbrar que o álbum não seria meramente um adorno na prateleira do fã colecionador e passaria com sobras ao implacável teste do tempo
Com Ritual, o heavy metal brasileiro adquiriu força e corpo e novos fundamentos num momento em que a alta casta da música pesada doméstica se encontrava abatida, prostrada e combalida. O disco correu por fora das linhas pré-demarcadas e imposta pelo power metal, o que produziu um novo e bem-aceito código auditivo, que contribuiu para delinear a base sonora do metal nacional, em tal época.
Alinhado nos mínimos detalhes, Ritual exibe proficiência em seu repertório, capa e produção; com isso, congregou fãs nos quatro cantos do país. O disco se saiu muito bem no mercado internacional, também, diga-se. Porém, o êxito em território nacional foi assombroso, o que acarretou a uma repercussão grande no mercado interno.
Produtores de inúmeras cidades almejavam pela apresentação do Shaman! Apenas para ilustrar a frase anterior, o grupo chegou, durante um determinado ano, visitar uma mesma cidade três vezes, e lotou a casa de show nas três ocasiões.
Em suma, Ritual é uma obra musical que ampliou ainda mais o espectro artístico do heavy metal nacional e fixou firmemente o conceito de que a música, quando feita com capricho e amor, se relaciona diretamente com o coração do público. E essa premissa consumada pelo Shaman, em Ritual, deveria converter-se em regra para quem queira se aventurar na seara musical e artística.