Calma lá, pois o fato da Celebrating Life Through Death Tour ser uma turnê em clima velório não quer dizer que precise ser silenciosa ou calma. Pelo contrário, e para nossa sorte, o Sepultura tocou alto como sempre em um palco digno dessa celebração.
Quarenta anos de Sepultura! Quando eu nasci, o Sepultura já existia, mas levei pouco mais de uma década para encontrar o grupo brasileiro, que já fazia um baita sucesso no mundo todo cantando em inglês.
A primeira metade dos anos 90 fez da banda uma potência mundial, que, junto dela, desenvolveu o heavy metal no brasil como nunca se poderia imaginar, até então. Mas, como já é tradição por aqui, crises internas destruíram o crescimento da banda no seu auge, quando o poderoso, inovador e aclamado Roots chegou nas prateleiras, em 1996.
De lá pra cá, passaram-se quase 30 anos, período que o Sepultura foi sobrevivendo, criando ótimos materiais, entretanto, nunca mais teve a atenção que recebeu na fase anterior. Em 2024 veio então a notícia: o Sepultura iria justificar o seu nome e encerrar a carreira, mas não sem antes fazer uma tour se despedindo dos fãs.
Como em todo “bom” velório, as pessoas dão um jeito de ir dar o seu último adeus, de relembrar os grandes momentos vividos e celebrar, de certa forma, a vida que ali se finda, e não foi diferente nesta última quinta, dia 21 de março de 2024, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre.
Casa lotada, nada de show de abertura e apenas uma noite para celebrar os reis do metal brasileiro.
Com uma trinca arrasadora, a banda subiu ao palco já em clima de nostalgia e levando todos os presentes ao delírio. Refuse/Resist, Territory e Slave New World são faixas que dispensam apresentações e todo mundo que conhece minimamente a banda sabe o impacto que elas causam.
Após essa introdução, o público passou a admirar a interpretação de músicas da era mais recente como Phanton Self, Kairos, Guardians of Earth e Mind War, além da mais atual e significativa como em Means to and End.
Apesar da boa recepção aos sons, foram, pois, nos clássicos que o público voltou a bater cabeça e celebrar. Attitude e Cut Throat animaram bastante e uma longa viagem ao passado com Escape to the Void surpreendeu os mais jovens que talvez nunca tenham escutado o álbum Schizophrenia (1987).
O telão mostrava trechos daqueles vídeos que cansamos de assistir: o Sepultura misturado com a tribo Xavante, com isso tocaram Kaiowas, que foi seguida por Sepulnation, Biotech is Godzilla e desaguou na pesadíssima e intensa Agony of Defeat.
A partir daí, foi pura porrada sonora, foi quando o caixão começou a ser fechado e os sentimentos ficaram a flor da pele.
Troops of Doom, Inner Self e Arise. Consegue imaginar o pandemônio no meio do pit? O bis veio com Ratamahatta e com o telão exibindo a bandeira do Brasil com o S do grupo estilizado no meio flâmula. Imagem clássica que vai deixar saudades.
Porém, o velório chegou ao seu momento de maior emoção; o enterro precisou ser finalizado e era hora de ir para baixo da terra, lá onde ficam as raízes. Roots Bloody Roots, o grande hino do metal brasileiro, foi o ato final.
Com a mais pura honestidade, foi uma honra viver no mesmo período histórico que o Sepultura! E mais, foi muito bom por ter tido a oportunidade de assistir a banda inúmeras vezes ao longo de sua vitoriosa carreira.
Obrigado, Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Derrick Green (vocal) que mantiveram o grupo por tanto tempo; obrigado aos irmãos Cavaleira por essa maravilhosa criação e os demais músicos que passaram pelo grupo.
Como diz o trecho de Born Stuborn: “Sepultura in our hearts, Can’t take it away, These Roots will always remain”.