A paisagem musical na aurora da década de 1980 era instigante e sedutora, já que novas vertentes davam seus primeiros passos, endossando, sem nenhuma reserva, em sua essência e DNA os sons produzidos nos anos anteriores por nomes como Black Sabbath, Motörhead, Thin Lizzy, Deep Purple e afins.
Um dos novos rebentos de tal época fora o thrash metal norte-americano, que não se esquivou ou evadiu de mostrar sua descendência ao New Wave of British Heavy Metal, no entanto, as novas bandas, à época, como Metallica, Slayer, Exodus, Anthrax e Megadeth trataram de elevar a velocidade e o peso das músicas, além disso, o vocal vinha embalado em um sabor bastante ácido e picante.
Do outro lado do Oceano Atlântico, na mesma época, o thrash metal alemão fora forjado a ferro, fogo e inúmeras canecas de Erdinger pelas bandas Sodom, Destruction, Tankard, Holy Moses, por exemplo.
Assim, os grupos citados também despontavam como precursores de uma nova era musical, sendo, pois, um sopro de inovação ao mercado fonográfico e tendo de lambuja, diga-se, um papel crucial na criação e edificação de estilos ainda mais extremos.
Pelas bandas de cá, o Sepultura, por exemplo, já nos primeiros passos da carreira, comungava dos mesmos princípios dos gringos e, rapidamente, se sobressaiu para os padrões domésticos. E, ao longo dos anos, a curva de crescimento do quarteto foi claramente apresentada em álbuns como Morbid Visions (1986), Schizophrenia (1987), Beneath the Remains (1989) e Arise (1991).
É importante ressaltar que o crescimento do grupo brasileiro e sua constante atuação no mercado internacional, principalmente no europeu e norte-americano, acabou forçando uma mudança aos padrões musicais dos gringos – se os estrangeiros foram capazes de impor em suas músicas o DNA tupiniquim é uma outra história que abordaremos num outro dia.
O ponto é que o som do Sepultura serviu de base para muita gente iniciar carreira musical e para muitos outros veteranos do mercado fonográfico darem uma repaginada na casa. Tal fenômeno tomou maior proporção quando o quinto trabalho de estúdio da banda, Chaos A.D., estourou nas paradas de rock e metal.
A sábia e cirúrgica alteração no gene musical abriu novas portas e perspectivas ao quarteto brasileiro. A pluralidade de grooves e a sofisticação nos arranjos rítmicos colaboraram para um repertório dinâmico e ainda mais agradável aos ouvidos. As novas nuances conferiam aos sons menos velocidade, mas mais peso de que outrora.
E as jogadas de mestre não pararam por aí, pois o grupo aumentou o sarrafo no campo lírico; com isso atacou com primazia assuntos delicados como política, guerra, conflitos sociais, censura, alienação e toda gama dos mais repulsivos tópicos que a humanidade pode ofertar com sua falta de indulgência e refinamento moral e intelectual.
Outro ativo importante para a grandeza musical de Chaos A.D. fora o trabalho impecável do produtor Andy Wallace, que conferiu aos doze sons a harmonia ideal entre o peso e a clareza instrumental.
Dessa forma, não é exagero e ou devaneio afirmar que Chaos A.D. é o parâmetro de qualidade – quiçá o sonho – de toda banda de thrash metal que queira se firmar no mercado como uma imponente força do estilo.