A guitarra é sem sombra de dúvida o instrumento mais simbólico do rock n’ roll e heavy metal. É fato! A imagem de um músico empunhando uma Les Paul ou Stratocaster, com cabelo esvoaçante e uma plateia em êxtase com os solos e toda sorte de peripécias que o instrumento proporciona, com certeza está na cabeça, no subconsciente, das pessoas, até mesmo daquelas que passam longe, muito longe da jurisdição do instrumento e dos citados estilos.
Então, a ideia aqui é levar você a uma pequena viagem ao mundo do instrumento, relembrando 10 dos principais nomes que cravaram sua marca com ferro e fogo – ou melhor, com riffs e solos – no fantástico mundo do rock e metal.
Com diferentes timbres, técnicas, equipamentos, entre outros quesitos, os nomes abaixo ajudaram edificar um mercado gigantesco, que ainda fatura alto, diga-se de passagem, e influenciaram muita gente a se aventurar nas seis cordas. Cabe reiterar que a pretensão não é esgotar o assunto, pois é praticamente impossível, mas sim recordar e homenagear alguns dos grandes ‘guitar heroes’.
Tony Iommi – Black Sabbath
Iommi fora a pedra fundamental para a criação do heavy metal. A sua ímpar capacidade de criação de riffs é algo que deveria ser estudado por cientistas das mais diversas áreas. O som que Tony extrai de sua Gibson SG é como um tsunami musical, que passa por cima de tudo e todos sem um pingo de piedade.
O quê sombrio e obscuro no ‘playing’ de Iommi é outro fator que colaborou para criação de toda aura mística em torno do músico e do Black Sabbath. Esperto como poucos, Toninho usou e abusou do som do diabo (Diabolus in Musica): o trítono, intervalo de três tons inteiros entre duas notas, o que arrepiou o cabelo da nuca de quase todo mundo que se atreveu a ouvir o clássico Black Sabbath.
Ritchie Blackmore – Deep Purple e Rainbow
Contemporâneo ao mestre Iommi, Blackmore preferiu seguir uma jornada diferente, focando em um estilo intimamente influenciado pela música erudita europeia, em especial da era barroca, que tem na persona de Johann Sebastian Bach o principal expoente. É importante ressaltar que Ritchie fora um dos primeiros, quiçá o primeiro – nomes a mesclar influências eruditas com blues, com isso criar sua própria roupagem de rock n’ roll. O resultado está em clássicos do Deep Purple e Rainbow como Since You’ve Been Gone, Highway Star, Burn, Tarot Woman e Man on the Silver Mountain.
Jimmy Page – Led Zeppelin e The Yardbirds
Page é contemporâneo à dupla citada anteriormente. Iommi, Blackmore e Page formam a santíssima trindade da guitarra setentista! Original como poucos, Jimmy tomou um outro caminho musical, incorporou ao tradicional blues do final da década de 1960 e começo de 1970 uma grande quantidade de folk para dar luz ao seu som. A pura genialidade do músico o gabaritou a desconstruir uma simples escala pentatônica para criar temas do quilate de Whole Lotta Love, Heartbreaker e Kashmir.
Eddie Van Halen – Van Halen
Eddie Van Halen foi um ponto de ruptura no universo das seis cordas! A forma de se tocar, estudar, enfim, a forma de se abordar o instrumento fora para sempre transformada com sua inserção do tapping, também conhecido como two hands, que é técnica de “martelar” as cordas da guitarra usando a mão rítmica.
A técnica do tapping, no entanto, não fora uma invenção de Eddie, já que músicos eruditos dominavam o movimento muitos anos antes do ‘guitar hero’. Até na seara do rock e blues alguns outros nomes como Steve Hackett (Genesis) já haviam introduzido o recurso a sua caixa de ferramenta. Eddie, porém, fora o nome que popularizou o artifício musical e deu uma embalagem puramente à la estrela do rock. O gênio Eddie Van Halen, infelizmente, morreu aos 65 anos em outubro de 2020, após uma longa batalha contra o câncer de pulmão.
Ah, os guitarristas de plantão que queiram se aventurar na incrível Eruption precisam estar com a técnica em dia. Caso contrário, não passarão da primeira frase.
Randy Rhoads – Ozzy Osbourne e Quiet Riot
Rival de Eddie Van Hale! Isso mesmo, Randy e Eddie não se bicavam, pois rolava uma competição entre Quiet Riot, primeira banda profissional de Rhoads, e o Van Halen, no final da década de 1970. Mas, fofocas à parte, Randy fora um dos responsáveis em colocar o pessoal para estudar, caso não quisessem ficar pelo caminho e choramingando pelo fato de não encontrar oportunidade no mercado fonográfico.
A magistral técnica de Rhoads era como uma perfeita alquimia musical de música erudita, violão clássico e muita distorção. Frases rápidas, licks de blues e muita criatividade estavam sob o domínio do saudoso músico, que faleceu em um fatídico acidente aéreo, no dia 19 de março de 1982. Randy tinha apenas 25 anos. Mas seu legado é impecável e tem pérolas como Mr. Crowley, Diary of a Madman e Revelation (Mother Earth).
Jake E. Lee – Ozzy Osbourne e Badlands
Depois da morte de Randy Rhoads, a banda de Ozzy ficou instável e no modo entra e sai de guitarrista. Bernie Tormé (Gillan, Desperado) e Brad Gillis (Night Ranger) não deram conta de tamanha responsabilidade e rapidamente tiveram que passar no RH para assinar a rescisão de contrato. A figura do salvador da carreira de Osbourne veio com a entrada do guitarrista Jake E. Lee.
O trabalho de Lee é um oásis aos apaixonados por guitarra, pois conseguiu mesclar com maestria o quê neoclássico de Rhoads a sua peculiar abordagem de hard rock e blues com licks rápidos e complexos que demandam uma grande abertura de mão.
A parte rítmica de Jake também merece destaque, já que sua original interpretação e, por conseguinte, inserção de levadas de shuffle o proporcionou uma gama de recursos que seus pares não dispunham. Curta sem moderação os álbuns Bark at the Moon (1983) e The Ultimate Sin (1986) e, caso você queira tocar os brilhantes solos e riffs de Lee, prepara um local de estudo bem bacana e aconchegante, pois passará um bocado de tempo por lá, devido a grande quantidade de material para estudar.
Adrian Smith – Iron Maiden e Bruce Dickinson
Adrian, ao lado de nomes como Carlos Santana, David Gilmour (Pink Floyd) e, claro, Dave Murray (Iron Maiden), é facilmente reconhecido na primeira nota em que toca, o que é o sonho de muitos guitarristas, no entanto, é a conquista de pouquíssimos instrumentistas. O senso melódico de Smith é único! Em seus solos, que são recheados de tríades e arpejos, o guitarrista não executa uma nota fora de esquadro, tampouco há o esquema dos guitarristas modernosos, que cismam apostar em movimentos rápidos que vão do nada para lugar nenhum.
Com bends e vibratos caprichados, cortesia de suas influências musicais: Paul Kossoff, do Free; Martin Barre, do Jethro Tull, e Ritchie Blackmore, do Deep Purple, Adrian é personificação do bom gosto e sempre tem soluções criativas para seus solos, que mais parecem uma composição inserida na canção. Classe, elegância e timbre único são alguns dos atributos de Adrian Smith.
Paul Gilbert – Mr. Big e Racer X
Paul, também conhecido como O Professor, é a essência do termo fluidez e dinâmica nas seis cordas. Técnicas complicadas de dominar como palhetada alternada, salto de corda e legato são, para o músico, como um passeio no parque em tarde de domingo ensolarado. No entanto, a maior riqueza de Gilbert reside no fato de conseguir, em meio aos licks ultra velozes repletos de ligados, dar um ar leve e divertido às composições, passando longe da ideia de que algo complexo precisa ser sisudo e mal-humorado. Curta na íntegra, por exemplo, o álbum Lean into It, do Mr. Big, e você captará a natureza do ‘playing’ de Paul.
Steve Vai – ex-Whitesnake e ex-David Lee Roth
Imagina a seguinte cena do cotidiano: O cônjuge acorda e você o/a ouve escovando os dentes com uma escova de dente elétrica e tal ruído serve de inspiração para um riff. Bem, isso te dá uma breve noção de como funciona a mente criativa de Vai.
O músico consegue a façanha de “cantar” com a guitarra, a carga de emoção contida em cada nota é capaz de fazer o ser mais frio e apático cair em graça e regozijo. É irrelevante e supérfluo rememorar que sweep picking, tapping, legato, entre outras incontáveis técnicas, estão sob o domínio de Vai. Você só precisa se entregar a sons como For the Love of God e Bad Horsie.
Edu Ardanuy – ex-Dr. Sin
O guitarrista brasileiro é uma fonte inesgotável de criatividade nas seis cordas! Ardanuy merece um olhar atento do fã do instrumento. Com a simplicidade e humildade que todo mestre tem – ou pelo menos deveria ter – Edu sempre fora categórico ao afirmar em entrevistas ao longo de sua carreira que suas referências estão nos inigualáveis Jimi Hendrix, Jeff Beck e Eddie Van Halen. No entanto, o músico possui sua voz própria no instrumento e um domínio técnico fora do comum.
Dinâmico como poucos, o guitarrista tem êxito em abordagens mais avassaladoras, onde o uso da alavanca vem, por exemplo, em forma de dive bomb e amplificação dos harmônicos naturais e artificiais. Os momentos intimistas caminham em pé de igualdade com sua faceta “fritador”, e artifícios como bends são uma das suas ferramentas para dar voz a sua Tagima. Ouça em alto e bom som o disco Wild.