Eu não te conheço, mas talvez consiga descobrir se você é mais fã de Guns N Roses ou de Marvin Gaye – não vou precisar de nenhuma foto sua; só de uma cópia do seu exame de sangue mais recente. Um estudo das universidades de Nagazaki (Japão) e de Trento (Itália) apontou que o nível de testosterona do seu corpo está intimamente ligado à sua seleção de favoritos do Spotify.
Para conseguirem chegar nessa conclusão, os envolvidos recrutaram 37 homens e 39 mulheres. Todos os voluntários tiveram que cuspir em um potinho (para, posteriormente, fazer uma medição dos níveis de testosterona) e depois sentar em frente a um computador. À máquina estava conectado um fone de ouvido, assim que eles fossem colocados, a tela fazia uma contagem regressiva de três segundos e iniciava um trecho de música. Coisa rápida, a composição durava apenas 15 segundos. Após a reprodução, uma mensagem aparecia na tela e o voluntário tinha que afirmar o quanto ele havia gostado da música, selecionando um dos 19 níveis de satisfação que iam de “Gostei muito” à “Não gostei nem um pouco”. Cada participante repetiu esse processo 25 vezes.
Os resultados apontaram que, quanto maior o nível de testosterona do participante, maiores as chances dele curtir músicas que tendiam para o rock n’ roll, e, ao mesmo tempo, não serem tão fãs assim de música clássica e jazz.
A conclusão, porém, só vale para os homens. Entre as voluntárias não foi possível estabelecer nenhum tipo de conexão entre hormônios e partituras. E os pesquisadores arriscam uma resposta do porque. “Nós não controlamos o ciclo menstrual das participantes”, escrevem os responsáveis pelo experimento, na conclusão do estudo. Como durante o mês o corpo da mulher tem diferentes picos de testosterona, o não monitoramento desse fator pode ter impactos diretos em um estudo como esse. “Isso pode ter servido para mascarar as associações entre os níveis de testosterona e o gosto musical”, completam.
A explicação do gosto masculino, no entanto, pode ter relação com os efeitos comportamentais da testosterona. Diversos estudos já fizeram relação do hormônio com atitudes rebeldes e desrespeito à autoridade. Como o rock é associado à transgressão, os cientistas acreditam que os voluntários fazem essa ligação inconscientemente, preferindo o estilo musical.
Os pesquisadores porém admitem que como o estudo foi feito com um número pequeno de participantes – todos japoneses de educação similar – havia uma homogeneidade cultural no passado dos voluntários. Na prática não dá pra saber como o testosterona se relacionaria com um brasileiro ouvindo funk, por exemplo. Não dá nem mesmo para cravar que um carioca ouvindo a mesma música que os participantes japoneses reagiria da mesma forma, mesmo se os níveis de testosterona de ambos fossem idênticos. “A influência da testosterona na nossa personalidade e gosto musical deveria ser testada e validada em outros diversos ambientes sociais e culturais”, dizem os pesquisadores. Fica a dica para o pesquisador que quiser replicar a ideia durante o nosso carnaval. Até lá, som na caixa.
Por Felipe Germano
Fonte: Super Interessante