Todos nós sabemos a história, mas não custa rememorar, brevemente! Quatro jovens, lá nos idos dos anos 60, resolveram juntar forças para criar música; embalados por estilos como blues e jazz e pelo rock n’ roll perfumado dos Beatles, Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria), sob a tutela do poderoso nome Black Sabbath, trataram de pesar a mão em suas canções, mas sem a menor ideia de que estavam criando uma nova faceta musical.
O novo caldo sonoro a mídia, o mercado e os fãs consideraram de bom tom batizar de heavy metal. Do primeiro disco, que é o autointitulado, lançado em fevereiro de 1970, para cá, o Sabbath e seus quatro cavaleiros do apocalipse mudaram o curso da música contemporânea como nenhum outro grupo e ou artista o fez.
Nunca é demais ressaltar que o som criado pelo quarteto foi o pano de fundo para carreiras bem-sucedidas de nomes como Metallica, Pantera, Black Label Society, Soundgarden, Black Flag, entre muitos outros.
Contudo, em um olhar aprofundado no cantor Ozzy Osbourne, as chances do sucesso do Madman eram, sob o ponto de vista racional, nulas, inexistentes. O rapaz sofria de dislexia, hiperatividade e de transtorno de déficit de atenção, isto é, sentar para criar algo que exigisse muita concentração e foco seria uma tortura a Osbourne e, quiçá, fosse uma atividade infrutífera.
Certa vez, o artista chegou alegar que nunca conseguiu ler direito e que parte de seu cérebro era uma pedaço inútil de geleia.
Mas a vida é cheia caprichos, reviravoltas – plot twist, se preferir – e sarcasmos. E como bem disse o pai de Ozzy, o Senhor John Thomas Osbourne, ou seu filho ia fazer algo muito especial ou ia acabar na cadeia. Bem, anos depois de tal afirmação, chegou a acontecer as duas coisas com o Príncipe das Trevas, mas por ter grana, fama e contatos saiu do xilindró em pouco tempo.
Na juventude, para tentar levantar uma grana, a futura estrela do rock trabalhou como afinador de buzina de carro, encanador e como uma espécie de faz tudo em um abatedouro local, na região em que morava. Não poderia estar mais longe do arquétipo de um rockstar.
A faísca, o lampejo que mudaria sua vida e o curso do rock n’ roll, ocorreu ao ter contato com a arte do The Fab Four; o germe artístico fora plantado no coração, no âmago do jovem, e a vida artística passou a ser a sua busca constante e inabalável.
O que faltava de concentração e foco, sobrava em carisma, dedicação e originalidade, assim, Ozzy começou a dar seus primeiros passos na música. Tudo mudou para melhor quando o São Tony Iommi, que não ia muito com a cara do doidinho do bairro, concordou com o desafio de montar uma banda com o rapazote e outros dois mancebos, Geezer e Bill.
Por ter dificuldade de ler, Ozzy nunca foi muito íntimo com as palavras, portanto, mesmo com o ofício de frontman, o trabalho de letrista no Sabbath ficou na responsabilidade de Butler, que tinha mais desenvoltura com a escrita e mais bagagem cultural.
A função do Madman era interpretar as letras, aplicar a dose exata de emoção e cobrir tudo com sua inigualável voz anasalada.
Então, basicamente, o BS funcionava sob estes ditames: música na conta de Toninho, letra na responsabilidade de Geezer e a costura de todo material sob a tutela da ímpar voz de Osbourne – Mas e o Bill? Calma lá, porque Ward era a fortaleza sonora do grupo, pois trazia estabilidade ao som e novas dinâmicas ao aplicar nuances do sofisticado jazz.
Derrubar padrões e moldes pré-estabelecidos na indústria fonográfica sempre foi uma das especialidades de Ozzy. Na hora em que o mundo rezava na infantil cartilha hippie de paz, amor e incenso de patchouli, o cantor e seus camaradas não tinham pudor em cantar os versos implacáveis de War Pigs, Children of the Grave e Symptom of the Universe.
Já em carreira solo, o mercado queria menos solos de guitarra, mais baladas e muitos paetês e lantejoulas; o cantor pisou fundo no acelerador das seis cordas e tratou de colocar ainda mais distorção, riffs e solos em sua arte.
E olha que não estamos desenterrando as loucuras e as pisadas na jaca dadas pelo vocalista, porque ficaríamos escrevendo aqui pelo resto da eternidade.
Mas é este pacote de loucura e insanidade, em perfeita sintonia com atributos como carisma, originalidade, que atingiu o estrelado e ajudou a mudar o norte da música contemporânea.
Poucos artistas têm o privilégio de ser um dos tutores de um estilo musical e de estar na vanguarda durante toda sua carreira, John Michael Osbourne – para os íntimos, Ozzy Osbourne – é um dos tais felizardos. Vida longa, Mestre!