Ninguém previa ou acreditava, mas Ozzy Osbourne alcançou um sucesso comercial estrondoso em sua carreira solo. O ápice aconteceu com o lançamento do impecável No More Tears (1991), que vendeu mais de cinco milhões de cópias, faturou a sétima posição da Billboard 200 e abocanhou o Grammy de Melhor Performance de Metal com a faixa I Don’t Want to Change the World.
A turnê, pois, seguiu o sucesso do disco e acabou lotando as arenas por onde passou e o clã Osbourne, obviamente, encheu ainda mais o bolso de dindim. Cansado da estrada, o Madman, ao final da No More Tours, pendurou as chuteiras e foi tentar levar uma vida mais tranquila em sua mansão, na Inglaterra.
Com pouco tempo de aposentado, o músico se cansou do marasmo de ser um milionário ocioso – e de ter que aguentar a Sharon Osbourne no esquema 24/7 -, com isso resolveu ligar para os parças para retomar as atividades.
O trabalhos preliminares ocorreram em parceria dos virtuosos Steve Vai (guitarra) e Bob Daisley (baixo).
É muito importante frisar que Daisley é essencialmente o fiador da carreira solo do Príncipe das Trevas; então, a César o que é de César, pois sem as habilidades de Bob como letrista, arranjador e baixista, e a genialidade de músicos como Randy Rhoads, Jake E. Lee e Zakk Wylde, os rumos artísticos de Ozzy seriam bem diferentes.
Contudo, com pouco tempo de parceria, Osbourne – vide Sharon – reconfigurou o time, assim Geezer Butler (baixo), Zakk Wylde (guitarra), Deen Castronovo (bateria) e Rick Wakeman (teclado) foram escalados para ajudar o cantor em sua nova empreitada em estúdio.
Outros nomes importantes da cena metal como Lemmy Kilmister (Motörhead), Mark Hudson, Steve Dudas, Jim Vallance, John Purdell e Duane Baron também participaram do processo criativo do então novo álbum do vocalista que colocaria a sete palmos sua aposentadoria.
A gravação do material, que ocorreu em três estúdios: Guillaume Tell Studios, em Paris, França; Electric Lady Studios, em Nova Iorque, Estados Unidos, e Bearsville Studios, também em Nova Iorque, ficou na responsabilidade de Michael Beinhorn (Soundgarden, Aerosmith, Korn, The Cult, entre outros).
Musicalmente, a fórmula empregada pelos caras fora não mexer em time que está ganhando, ou seja, utilizar os ativos sonoros que edificaram a carreira solo do Madman. Para isso, a turma soube entrelaçar o peso e a virtuosidade em texturas, nuances e dinâmicas mais acessíveis, as quais melodias açucaradas tomam o protagonismo da obra.
Do open track potente com Perry Mason, indo para a “sabbatiana” Thunder Underground, passando pela comovente See You on the Other Side e finalizando com o duo morde e assopra com My Jekyll Doesn’t Hide e Old L.A. Tonight, o repertório de Ozzmosis provou que a tal aposentadoria do cantor, caso fosse à vera, seria um erro, pois nos tiraria a possibilidade de curtir uma seleção de canções tão caprichadas.
A tour do álbum foi bem-sucedida e chegou, inclusive, a passar pelo Brasil, durante a segunda edição do festival Philips Monsters Of Rock, que rolou no dia 2 de setembro de 1995, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.
Infelizmente, depois deste full-length, o poderio sonoro dos álbuns seguintes do comedor de morcego foi caindo de forma vertiginosa.
Down to Earth (2001) tenta ao máximo entregar um vislumbre musical de outrora, mas peca por apresentar uma incomoda instabilidade sonora, já que os bons momentos não conseguem suprir os desfalques da obra como um todo.
Black Rain (2007) seria um álbum bacana se viesse com o logotipo do Black Label Society! Mas, como se trata de um disco do come pombo, o álbum é uma baldada de água fria aos fãs que estavam ávidos por ouvir o DNA musical do cantor, e não o da banda de seu funcionário. Uma pena!
Já Scream (2010) é um bolachão insípido, desprovido de qualquer resquício de genialidade artística. Da arte da capa, passando pelo teor lírico e até os riffs e os solos, Scream é um disco monótono e sem vida.
E mais, por conta dos minguados ingredientes, as canções, durante a produção, foram soterradas por camadas e camadas de penduricalhos. Scream é praticamente um rato de laboratório, vítima dos mais diversos abusos químicos.
A dupla Ordinary Man (2020) e Patient Number 9 (2022) podem dar as mãos e se jogar no abismo sem fim, visto que toda punição é pouca para o que é apresentado nestas duas… bem, nestes álbuns.
Concordem os fãs ou não; gostem os fãs ou não, Ozzy sempre foi dependente da genialidade de outrem para conseguir dar vida a sua música e, até mesmo, ao seu talento. O primeiro passo em seus discos sempre vieram de outros músicos, portanto, ter alguém ao seu lado que entenda do riscado é uma questão prioritária; caso contrário, a coisa não anda, não vinga.
Os discos citados logo acima sofrem deste mal, pois Andrew Watt (guitara), Duff McKagan (baixo) e Chad Smith (bateria) são, com muita boa vontade e amor no coração, músicos medianos. Dito isso, não deram conta do recado; as performances em ambos trabalhos são risíveis e se encontram no limiar entre a mediocridade e o sofrível.
Patient Number 9 ainda tenta camuflar suas deficiências e fraquezas com a presença de mil e um convidados. Todavia, nem assim a coisa decola, tampouco gera a vontade de aumentar o volume do player.
Portanto, não é um contrassenso ou fora de esquadro afirmar que Ozzmosis é o último álbum de Ozzy Osbourne que vale sua atenção. Quase como o canto do cisne de sua carreira! É lamentável que um artista de tamanha importância para a música contemporânea e para o rock n’ roll e heavy metal esteja encerrando carreira de uma forma tão fajuta e irrelevante.
Realmente, o morcegão ficou devendo trabalhos mais caprichados depois de Ozzmosis, mas curto os álbuns seguintes do cara, com exceção para os dois últimos que, não há como negar, são fraquíssimos.
Infelizmente parece que a falta de uma assessoria de qualidade vai continuar, por que ele já divulgou que vem um próximo trabalho ano que vem e que a produção continuará nas mãos de Andrew Watt.
A não ser que haja um milagre até lá, parece que a carreira de Ozzy será encerrada com uma trinca de discos de baixa qualidade, para a tristeza de seus fãs.