No início e meados dos anos 90 fui apresentado ao estilo folk metal, bandas com elementos de música folk irlandesa, holandesa e escocesa, isso era algo meio raro ainda, mas bandas como Skyclad e Cruachan iam surgindo com seus kilts irlandeses e portando guitarras misturadas às flautas, violinos e gaitas de fole. Assim, o movimento, timidamente, foi crescendo e ganhando espaço dentre os festivais mais antigos do Brasil que abriram portas para que bandas do estilo pudessem se apresentar.
Além disso, o estilo tem ganhado se unindo a outro movimento, o viking metal, que fora um gênero criado por bandas como Bathory. Hoje no Brasil temos festivais especializados em manter viva a cultura folk metal e viking metal, e nesta nova edição do Odin’s Krieger Fest, um festival que vem crescendo pouco a pouco e se tornando o maior de São Paulo, trouxe os holandeses do Rapalje, que apesar de ser uma banda em atividade desde 1996, é pouco conhecida em nosso país.
No entanto, o grupo é bem atuante nas redes sociais e principalmente Youtube onde em seu canal tem mostrado enorme interação com seus fãs, com isso, aliado a sua ótima música e talento, a banda conseguiu junto com um bom line up (Tuatha de Dannan, Hunin Mugin, Confraria da Costa e Hagbar) encher pouco mais da metade da ótima casa de shows, o Tropical Butatã, que merece elogios e tem se mostrado a melhor opção para grandes eventos em São Paulo, já que sua ótima acústica; espaço confortável; acesso fácil; palco; banheiros e camarote com boa qualidade são ótimos diferenciais.
E vale ressaltar que a parceria fechada entre a produtora Odin’s Krieger com a respeitada marca de Vodka Vorus contribuiu, e muito, no crescimento de ambos e sucesso nesta edição do Odin’s Krieger Fest.
A primeira banda do line up escalada para abrir a casa às 14h foi o Hagbard, de Juiz de Fora-MG. Com dois álbuns lançados, o grupo segue uma linha heavy death metal com vocais divididos entre o gutural de Igor Rhein e vocais limpos do tecladista Gabriel, e implementa um visual e melodias na linha Amon Amarth, e ora lembra os vocais limpos do Bathory.
Never Call The Sage/Curse Dware foram de cara disparadas pela banda, mostrando muita energia para o público que a recebeu bem e assim a banda seguiu o show com faixas de seu primeiro trabalho: Relic Of The Damned e War For The Dawn, já o público agiu de forma bem morna com boas músicas do grupo, entretanto, os caras mostraram o porquê de terem sido os escolhidos para abrir o festival.
O show seguiu com Warrior Legacy, March To Glory, e após mais três pedardos: Deviant Heathen, Sieldwall e Let Us Bring Something, a banda foi ganhando o público e, para se despedir do palco, guardava uma carta em suas mangas: um cover de Dimmu Borgir, os primeiros riffs de teclados anunciou o hino Mourning Palace, que fechou o show dos mineiros tendo aprovação do público.
A próxima banda a subir ao palco, ou melhor, a atracar ao palco foi a Confraria da Costa. Vinda da bela Curitiba, a banda segue uma temática lírica e visual inspirada em piratas, e o seu som levantou mais ainda o público, apesar de não ser uma banda de heavy metal, viking ou folk. O grupo tinha uma boa energia de palco e misturava muitas passagens de vários estilos do rock, mas eu diria que apesar de diversas influências mostradas em cada música, faltava uma guitarra distorcida.
Todavia, o público mostrou conhecer bem as músicas cantadas em português e acompanhou em coro diversos versos e refrãos. O vocalista Ivan Halfon é um ótimo frontman, muito comunicativo e talentoso tocando violão, guitarra e flauta. Além da percussão comandada pelo André Nigro, a banda contava com o saxofonista Jhonatan Carvalho e o violinista Richard Lemberg, que foram muito bem aplaudidos entre as faixas Cadaverico e A Deriva.
Mas o público pirou no momento de A Vida É Cruel, e no embalo positivo a banda aproveitou para apresentar uma música nova: Polka Do Diabo, que foi aprovada pelo público, tendo em A Última Garrafa o encerramento do extenso e aprovado set banda.
Durante o intervalo de 30 minutos, abriu um círculo no meio do público, e com a trilha sonora do seriado Vikings alternando com algumas bandas de viking metal no som mecânico, iniciou-se algumas lutas cênicas no estilo combate medieval com o grupo Ordo Draconis Belli, tendo aprovação imediata do público. Uma grande atração que reforça a viagem ao mundo medieval.
Com 10 anos de estrada e dois álbuns de estúdio, o Hugin Munin, com seu death metal com letras inspiradas em batalhas vikings, adentrou ao palco com muita empolgação, mas o som estava terrivelmente estourado e a guitarra distorcida com péssima regulagem, o que foi uma missão muito difícil para o técnico de som, mas de forma muito rápida e profissional conseguiu ajustar a qualidade de som nas duas primeiras músicas emendadas: What Lies Below e All For Nothing.
E com muita empolgação, o vocalista Surt anunciou que o Hugin Munin estava registrando o áudio da apresentação para o lançamento de um CD ao vivo em comemoração aos 10 anos de banda. Flight Of Ravens foi apreciada de forma clara, assim como as melodias do guitarrista Hjalmar em Look Skyward.
Depois do solo do baterista Ymir, os integrantes retornaram ao palco e o show seguiu com Ashes Of My Enemy. O vocalista Surt recitou um poema em inglês e anunciou a canção Lords Of War com ferocidade; já Hail foi acompanhada pelos fãs, e antes que a próxima música fosse anunciada, subiram ao palco dois guerreiros medievais do grupo Ordo Draconis Belli, o que foi a deixa para Death Or Glory e finalizando a apresentação com Swords Speak e uma chuva de confetes.
Além dos ótimos shows, o festival comportava um espaço no mesanino onde o público podia visitar uma feirinha medieval e assim encontrar desde um delicioso pavê até joias, canecas customizadas, artesanato, horns pirocados, roupas, hidromel, elmos e braceletes, o que foi bem interessante.
Após o intervalo, a cortina do palco subiu e eis que o ET de Varginha trouxe aos palcos de São Paulo os duendes bêbados do empolgante e profissional grupo Tuatha de Dannan. Com seu animado brazilian irish folk metal, a banda apresentou o novo guitarrista, Julio Andrade, o qual fez uma ótima performance, e a participação do Alex Navar, que introduziu o show com sua gaita de fole. Então, com Bruno Maia (guitarra e vocal); Giovani Gomes (baixo); Rodrigo Abreu (bateria) e Edgar Britto (teclado), o Tuatha destilou sons de seu último álbum e os clássicos de sua carreira, tendo o destaque em Tan Pinga Ra Tan.
Às 21h30 o público todo se voltou para a frente do palco quando começou a ouvir novamente o som de uma gaita de fole vindo dos PAs. Na verdade, a surpresa veio do fundo da plateia, onde um andaime com rodas trazia ao público David tocando sua gaita de fole, iniciando a apresentação do Rapalje. Assim, Maceál (harmônica e bandolim), Dieb (violino) e William (bodhrán) adentraram ao palco e o clima folk, que já contagiava a todos por conta da apresentação do Tuatha de Dannan, teve seu auge, os holandeses mandaram ver em seu repertório recheado de canções divertidas e alguns covers de hinos folclóricos holandeses, escoceses e irlandeses.
A banda tem uma perfomance muito bem entrosada, vozes marcantes, boa interpretação, além das boas doses de diversão e interação com o público. Com isso, o Rapalje, sem dúvida, é um dos ícones do folk rock europeu, e aliado ao seu repertório, a banda inseriu o famoso hino folk irlandês, Whiskey In The Jar, que já fora gravado por diversos artistas, dentre eles o Metallica.
O set list foi muito bem escolhido, com uma bela canção seguida de outra, mas os pontos fortes do show foram Kaledonia; Raggle Taggle Gyspy, com a convidada gypsy dancer, Amanda Kenda, para uma performance de dança; e o cover de Stand And Fight, do Manowar, em uma versão linda e folk de uma das músicas mais fortes da banda norte-americana.
Com um ótimo repertório, o Rapalje concluiu o show sendo muito aplaudido, e com Maceál segurando uma caixa grande com CDs, sugerindo aos fãs que pagassem o quanto eles achassem que valeria, e os músicos desceram do palco pela frente em direção a sua banca de merchandise e distribuíram os CDs para os fãs com muita alegria, prometendo voltar em breve.
O Odin’s Krieger Fest cumpriu novamente sua missão com sucesso nessa edição e assim vem se firmando desde 2011 como um dos melhores e já tradicionais festivais de folk metal de São Paulo e do Brasil. É notório o crescimento do público, e por conta disso, o festival, pouco a pouco, vem mudando para casas maiores e com melhor estrutura como o Tropical Butatã.
O OKF tem ajudado a fortalecer o movimento e matado a sede do público pela cultura folk, celta e medieval. Muitos fãs e lojistas presentes no Odin’s Krieger Fest comentavam a ansiedade para o próximo festival medieval, o Festival Medieval Brasil, que acontecerá por quatro dias (07, 08, 09 e 10 de setembro) em Brasília, com o grande nome da música medieval, o Wardruna, que é responsável pela trilha sonora da série Vikings, além de outros nomes da música celta, folk e gothic como o Wolfheart and The Ravens, Celtic Soul, Olam Ein Sof, Bardow, entre outros. Todos a bordo no próximo Drakar com destino a Brasília. Horns up!