É comum vermos o público rock n’ roll e heavy metal de nosso país usar as redes sociais, por exemplo, para lamuriar todo seu descontentamento em relação ao mercado doméstico da música pesada. Pleitear e desfrutar de uma cena saudável e pujante é absolutamente justo e pertinente. Contudo, algumas questões indigestas precisam receber luz e entrar no debate, assim o bate-papo ganha profundidade e grandeza.
Antes de entrarmos nos meandros musicais, é preciso refletir sobre a cultura popular brasileira, onde o terrível termo “jeitinho brasileiro” ganha papel de protagonismo, e os resultados são, invariavelmente, infelizes e ineficazes, pois são meros remendos para a resolução de assuntos que, em muitas das vezes, demandam maior dedicação e empenho.
Evoluir, sob quaisquer aspectos como intelectualmente, moralmente e até espiritualmente, é uma atividade laboriosa, cansativa e até dolorida. Em resumo, dá um trabalhão danado, mas vale à pena. Todavia, é uma parcela ínfima da população disposta a investir energia em tais ações.
Uma ampla parcela da população brasileira não é adepta à leitura, sequer já visitou uma livraria e ou biblioteca – física ou virtual; são pessoas criadas e educadas culturalmente por programas de palco, futebol e novela, o que favorece a aderência de uma mentalidade mais simples e uma redução do debate de todo e qualquer assunto, passando, inclusive, pela seara musical e seus desdobramentos no mercado nacional. É importante ressaltar que as críticas à fragilidade intelectual de grande parte da população brasileira não é um discurso elitista, é apenas a constatação de um aspecto de nossa sociedade.
Puxando a reflexão para o nosso campo de interesse, que é o mercado musical brasileiro, as bandas e artistas clamam por uma cena próspera e produtiva, o que é digno. No entanto, a classe artística está fazendo a parte que lhe cabe? Ou está esperando alguém estender a mão para prosperar? Pois é, as perguntas são incômodas e intransigentes, mas vamos respondê-las baseadas em nossas experiências e ideias, em razão de estarmos no mercado jornalístico/publicitário/musical há muitos anos.
Então, a resposta é um sonoro não! Diariamente, recebemos contatos de bandas e artistas pedindo ajuda ou alguma forma de apoio. Obviamente, atendemos na medida do possível. Porém, a maioria do material que chega é, no mínimo, amador. Quer exemplo? O nome da própria banda escrito de diferentes formas, ou seja, se os integrantes do grupo não sabem ao certo a grafia da própria empresa, é a imprensa que irá saber?
Releases mal escritos, com informações desconexas é chover no molhado, já que é corriqueiro! Já vimos também, inclusive de banda consolidada no mercado, dar de ombros a aquisição de backdrop. A justificativa de um dos integrantes foi: “O público não liga pra isso, não. Não vamos gastar dinheiro com isso, não”. Ou seja, se investir na própria empresa, pois uma banda de rock e metal é uma empresa, não é a prioridade do músico, então não seja uma das vozes a criticar o mercado fonográfico, já que o amadorismo e o boicote estão partindo, primeiramente, de você.
Então, passou da hora de cessar a síndrome de Menino Charlinho, onde o coitadismo do público brasileiro é a tônica da cena. Bandas e artistas, vocês querem um mercado musical exitoso e próspero? O primeiro passo precisa ser dado por vocês, perceba sua carreira como uma empresa, com metas tangíveis a curto, médio e longo prazo. Seja profissional e esqueça o tal jeitinho brasileiro, que é pautado pelo remendo inescrupuloso, e assuma as rédeas do negócio.
Alguns podem reclamar que falta recurso financeiro para a edificação de uma carreira profissional. Bem, só é possível investir em um negócio caso tenha dinheiro no bolso. Caso não tenha, visto que a situação econômica do país é desafiadora, faça sociedade com quem tenha um montante e esteja disposto a investir em sua arte, assim podem formar uma parceria.
Se porventura não tenha verba para investir na carreira musical e não conheça quem tenha e possa se aliar ao projeto, o movimento óbvio é se contentar como ‘hobbista’. É uma posição fria e desprovida de emoção, mas é a lógica de um mercado que queira se edificar de forma profissional e deixar o coitadismo para trás.
Um outro ponto que vale contemplarmos é o romantismo juvenil com que o público vislumbra o mercado musical europeu e norte-americano. É evidente que há brutais diferenças entre as praças como fatores socioeconômicos, todavia, a maior diferença reside na percepção real de conduzir a própria carreira como uma empresa, a qual exige volumosos investimentos.
Além disso, na maioria das vezes, os gringos deixam o coitadismo de lado e partem para ação do que precisar ser feito. Um adendo, o mercado europeu e norte-americano têm seus desafios, também – vamos abordar os detalhes em outra oportunidade – ou seja, não são as mil maravilhas como algumas pessoas fantasiam, porém, o menino Charlinho passa longe.
Concordo em gênero, número e grau!
A referência a Hermes e Renato foi a cereja do artigo. Hahahaha
E da3para concorrer com a mega indústria sertaneja no Brasil?
Acho q não porque o comportamento das pessoas mudaram junto com o que elas escutam essas músicas se adaptão ao estilo de vida delas . E a cada 5 10 anos vai piorar. Só observar as conversas é a mesma cosa que escultar uma música sertaneja atual. Me desculpa quem gosta
“Evoluir, sob quaisquer aspectos como intelectualmente, moralmente e até espiritualmente, é uma atividade laboriosa, cansativa e até dolorida. Em resumo, dá um trabalhão danado, mas vale à pena”.
Esse trecho da matéria explica tudo, todos querem o retorno rápido e sem esforço e dedicação, o medíocre jeitinho brasileiro.
Parabéns pela matéria.