Há certas coisas que ainda reservam alguns mistérios à humanidade; seja as Cifras de Beale, os Agroglifos, o Stonehenge, entre outros enigmas. A área musical também tem sua parcela de mistério, e uma destas incompreensões se voltam aos inúmeros discos com repertório caprichado, produção bacana, capa bem sacada e performances individuais de tirar o chapéu, mas que não emplacaram no gosto popular.
Uma destas obras incompreendidas e subestimadas é No Rest for the Wicked, quinto álbum de estúdio do comedor de morcego, Ozzy Osbourne. O disco coleciona acertos em praticamente todos os quesitos: do teor lírico aos riffs e solos, da timbragem dos instrumentos à performance de Osbourne, do lineup à capa, da produção encorpada às linhas de baixo e bateria, da disposição das faixas aos videoclipes das canções Miracle Man, Crazy Babies e Breaking All The Rules, ou seja, está tudo em seu devido lugar.
Achar defeitos em No Rest for the Wicked é como procurar pelo em ovo. No entanto vamos forçar bastante a barra e enumerar alguns pontos, arestas que poderiam ser aparadas. Os penteados de poodle de dondoca ostentados por Zakk Wylde (guitarra) e Randy Castillo (bateria), por exemplo, não fariam a mínima falta ao disco – mas isso é perfumaria, já que não implica em alteração no que realmente interessa: o som.
O produto entregue por Ozzy e seus parças é tão bem-feito, que os trinta e oito minutos de som passam num piscar de olhos. Portanto, adição de mais duas canções ao repertório do disco seria interessante.
Curiosidades
Na segunda metade dos anos 80, Bon Jovi era uma das bandas que comandava as paradas e, até mesmo, o direcionamento do mercado rock e hard rock, por conta do sucesso comercial de Slippery When Wet (1986) e New Jersey (1988). Os discos mantinham a essência roqueira, mas os solos de guitarra vieram mais econômicos e as músicas essencialmente mais melosas.
Uai, o que isso tem a ver com o som do Madman? Bem, o produtor Keith Olsen queria de todo jeito impor à música do Príncipe das Trevas a mesma receita musical. Ozzy, evidentemente, cuspiu abelhas e marimbondos ao ouvir tal proposta, e acabou seguindo sua vontade artística: fazer um disco essencialmente escorado nas linhas de guitarra, repleto de riffs e solos e com muita energia.
De birra ou não, o Madman fez exatamente o contrário da proposta de Olson; até as baladas do disco, Fire in the Sky e Hero, vieram com o pé no acelerador e esbanjando vitalidade. Esse Ozzy é um bocado atrevido, né?
Outra excentricidade de No Rest for the Wicked é a referência ao ótimo e assustador filme O Exorcista (1973). Numa parte do filme o capeta, que tomou o corpo da pobre Regan MacNeil, personagem de Linda Blair, fala: ‘Your mother sucks cocks in hell’ [‘Sua mãe chupa pau no inferno’, numa tradução livre], então, no álbum, o Príncipe das Trevas colocou a seguinte mensagem ao contrário em Bloodbath in Paradise: ‘Your mothers sells socks that smell’ [‘Suas mães vendem meias fedidas’ – em tradução livre].
Zombaria e ironia sempre foram uma das marcas registradas do cantor, e é claro que tais características estampariam em sua arte.
Veredito
No Rest for the Wicked é um dos álbuns mais bacanas e, infelizmente, subestimados do metal e da carreira do vocalista. Os fãs que se atentarem ao poderio sonoro da quinta obra solo do Madman vão se deliciar com o repertório criativo e saboroso.
Agora, não se assuste ao se pegar colocando o álbum no modo repeat, pois não é obra do capeta que subjugou Regan, é só a ótima qualidade das músicas, mesmo.