O primeiro sentimento que define Human Nature é “surpresa”, já que o novo álbum dos finlandeses do Nightwish, lançado em 10 de abril de 2020 (Nuclear Blast), é capaz de surpreender até aquele fã mais ávido e conhecedor do sexteto. Para começar, trata-se de um registro duplo, onde o disco 2 é por inteiro instrumental e ambiental, mas, por hora, esta resenha vai se concentrar apenas no disco 1.
Human Nature rompe com o caráter contemplativo de seu predecessor, Endless Forms Most Beautiful (2015), e traz o peso de volta, mas não é, de forma alguma, um retorno ao estilo explícito de Once, tampouco existe qualquer flerte com o power metal da fase pré-Century Child, e para os que ainda esperam isso, talvez seja melhor procurar outra banda.
Pelo contrário, o álbum é mais um passo à frente na carreira da banda, exibindo uma bela mistura de suas marcas registradas e muitos novos elementos agregados: algo inédito, complexo e impossível de rotular, embora repleto de personalidade. Mas será que é possível ser complexo e direto ao mesmo tempo, passando longe da monotonia ou da enrolação? Sim, é! Tudo é dosado e encaixado com a perfeição milimétrica de um verdadeiro gênio, com o perdão dessa palavra clichê, mas o senhor Tuomas Holopainen (teclado) a merece como compositor.
O que dá a tônica da banda hoje em dia é a atmosfera de teatro musical e storytelling, com uma intensa diversificação de nuances que só é possível devido à versatilidade e qualidade estratosféricas de Floor Jansen (vocal).
A vocalista mostra o porquê de tanto “hype” em torno do seu nome, e dá um show à parte! Já o baixista Marco Hietala, que ganhou muito destaque no álbum anterior, perde um pouco de espaço para Floor e para o guitarrista Emppu [Vuorinen], visto que a guitarra está proeminente e criando muitos momentos de peso, em química uníssona com a bateria do monstruoso Kai Hahto.
Cada faixa de Human Nature é única. Desde a abertura quase jazzística de Music, passando pela porrada na cara de Noise, o folk de Harvest, as magníficas Shoemaker e Pan, a grudenta How’s the Heart, a melancólica Procession, chegando, pois, a crueza exótica e tribal do doom metal semi-gótico de Endlessness.
O álbum transita pelo espectro heavy metal enquanto oferece um desfile impressionante de melodias, camadas, variantes, lindas passagens, sinfonias, peso, elegância, versatilidade, letras poéticas, tendo como referências musicais o som tipicamente europeu, indo do trovadorismo a Andrew Lloyd Webber, o que significa, obviamente, muitos vocais, incluindo o lírico.
Para complementar e apimentar o tempero, sempre em quantidades pinceladas, já que pimenta demais pode estragar o prato, o decorrer do disco apresenta os instrumentos folk de Troy Donockley, corais, solfejos explosivos, batidas tribais e até mesmo trechos de groove metal moderno.
Human Nature é um registro curto (falando do disco 1), mas completo, pois não há fillers dispensáveis, tampouco músicas medianas. A faixa mais fraquinha já é muito boa, e ajuda a construir a unidade indissociável desse “discaço”, que escancara o auge da maturidade musical de uma banda em constante evolução. É quase obrigatório usar mais um clichê: uma verdadeira obra-prima.
Tracklist de Human.: II: Nature.:
Disco 1:
01. Music
02. Noise
03. Shoemaker
04. Harvest
05. Pan
06. How’s The Heart?
07. Procession
08. Tribal
09. Endlessness
Disco 2:
01. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Vista
02. All The Works Of Nature Which Adorn The World – The Blue
03. All The Works Of Nature Which Adorn The World – The Green
04. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Moors
05. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Aurorae
06. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Quiet As The Snow
07. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Anthropocene (incl. “Hurrian Hymn To Nikkal”)
08. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Ad Astra
Nota: 10