Tempos atrás, a gente publicou um conteúdo falando sobre o coitadismo do mercado musical brasileiro. O material era mais centrado nas bandas e artistas que adoram se valer do processo vitimizatório, como se fosse um verniz para encobrir as evidentes e prejudiciais inabilidades de conduzir a própria empresa.
Sim, acredite ou não, goste ou não, uma banda de rock n’ roll ou de heavy metal é uma empresa, que deve ter metas a curto, médio e longo prazo; balancetes periódicos para saber o que entrou e ou saiu de grana; planejamento de marketing com foco na praça em que pretende atuar – às vezes, uma forma de comunicar para o público de um país e, até mesmo, de uma cidade demanda certos ajustes em relação à programação global, previamente elaborada, para contemplar a potencialidade da ação de MKT.
Em suma, há uma série de pontos que precisam ser contemplados para tirar o grupo do papel e colocá-lo no palco. Tocar bem e ter um repertório caprichado ocupam cerca de 40 por cento das atribuições de um artista.
Bem, queremos estender essa reflexão às produções de shows e festivais aqui da terrinha; já que passou da hora da cena nacional amadurecer e se profissionalizar. É simplesmente inconcebível que em pleno 2023 boa parte dos eventos sejam produzidos no pior estilo mambembe, sem um planejamento com começo, meio e fim.
Há aqui produtoras sérias e comprometidas com a realização de eventos caprichados? Claro que sim! É só correr o olho no mercado que os bons exemplos também se destacam. Portanto, as nossas ponderações de hoje não são destinadas ao pessoal que desempenha um ótimo serviço ao público e à cena, assim, ninguém precisa se sentir ofendido e ou com o coraçãozinho partido.
Pouco mais de dez anos atrás, um festival foi anunciado e prometia mundos e fundos ao público, no entanto, a suposta festa se tornou um detestável e dispendioso pesadelo aos fãs, com cancelamento de shows e nenhuma entrega do que fora previamente prometido. De certa forma, a história se repetiu neste ano: um determinado festival prometia o céu e o mar, mas precisou ser cancelado por baixa venda de ingresso.
Logo, voltamos ao começo da nossa análise, visto que claramente tal produção não fez o dever de casa, não planejou. Reunir os envolvidos no projeto em uma mesa de bar para fazer brainstorming do que pode ser oferecido ao público é bacana, rende muitas risadas e enche a turma de entusiasmo, mas não é o suficiente para fazer o projeto sair das falas soltas, regadas a drinks, para ganhar vida.
Fazer um festival é muito, muito caro; demanda, como dizem por aí, muita bala na agulha. Até mesmo um show individual, com apenas uma banda de médio porte, por exemplo, é custoso demais. Portanto, não basta só a vontade e ou o sonho de fazer um festival/apresentação, é preciso muita grana e trabalho duro. E por mais óbvia que seja esta fala, ela não é levada ao pé da letra por muita gente.
Algumas pessoas, produtores ou não, certamente vão culpar as adversidades econômicas do país, vão tentar delegar, colocar na conta das intempéries do sistema econômico o fracasso do empreendimento. É um artifício mais do que manjado que só cola em que tem pouco conhecimento dos meandros da cena musical brasileira, naqueles que congregam na mesma sintonia amadora e nos piratas do mercado.
Trocando em miúdos, só se consegue produzir um show, festival e, inclusive, uma banda quem tem considerável quantia de grana no bolso; saiba elaborar um programa, um plano de negócio, com o mínimo de falhas – erros que devem ser imediatamente corrigidos assim que detectados – ter boa relação com os meios de comunicação também é imprescindível, pois de nada vale se achar o bam-bam-bam, com empáfia de rei, e pedir água no primeiro contratempo.
Possuir fornecedores de ótima qualidade técnica, que se adequem às necessidades do empreendimento e que entregue o requerido no prazo estipulado são peças básicas para fazer a festa acontecer. Contar com parceiros que possam suprir eventual deslize do fornecedor titular não é artigo de luxo, é responsabilidade, maturidade e esperteza empresarial.
Ou seja, é conduzir o negócio/empreendimento como uma empresa, pois é essencialmente o que é. Muitos produtores se concentram em mostrar e ostentar os penduricalhos do evento, mas não fazem os fundamentos do trabalho, portanto, o fracasso vai acontecer cedo ou tarde.
Teste do produtor
Caso tenha esteja com a pulga atrás da orelha e não esteja levando o que fora dito anteriormente a sério, faça o seguinte teste: pergunte aos produtores – e até mesmo aos artistas – que ficam choramingando e caindo no menor desafio que surge no caminho qual é o planejamento a curto, médio e longo prazo de seus eventos; pergunte sobre o custo; sobre o dinheiro em caixa, sobre as cotas de patrocínio, sobre parceiros e fornecedores, sobre os planos de marketing e publicidade e afins.
Você verá que estes itens foram solenemente viciados durante algum momento do processo, e você também verá a cara de menino Charlinho ganhar forma no semblante dos indivíduos, já que não fizeram o dever de casa e vão tentar cobrir o erro com algum verniz, que é, em pura essência, alguma desculpa esfarrapada.
Bem, como dito anteriormente, já passou da hora da cena nacional amadurecer e se profissionalizar.