Tachar o Men At Work como um mero grupo de rock n’ roll é uma preguiça danada com a arte criada pelo conjunto australiano. O Men At Work circula com desenvoltura pelo reggae, ska e pop, com, aí sim, a gênese cravada em um rock alto astral.
Em termos práticos a banda é uma mistura de The Police e os seus inconfundíveis toques de reggae, The Cars e as suas melodias fortes e grudentas, além de lançar mão de algumas bem-vindas pitadas de Traffic, com as saborosas linhas de saxofone e o quê despretensioso e solar – praiano, se você preferir – bancado pelo arremate percussivo.
Já o nome do conjunto não é nenhum trocadilho e ou gracinha feita por músicos nascidos em berço de ouro, que em um estalar de dedos tem tudo ao dispor. Longe disso, o Men At Work foi originalmente concebido por cinco modestos trabalhadores: um professor, um ajudante de cozinha, um operador de guindaste, um porteiro e um motorista de caminhão.
Como a grana era curta para a turma, a música era uma forma barata e gostosa de lazer. No entanto, tudo mudou de uma hora para a outra, quando o primeiro álbum, Business as Usual (1981), caiu nas graças do público. A partir desse momento, o trabalho oficial dos caras – a saber: Colin Hay (vocal e guitarra), Greg Ham (flauta, teclado e saxofone), Ron Strykert (guitarra), John Rees (baixo) e Jerry Speiser (bateria) – passou a ser divertir as pessoas ao redor do mundo.
E essa cativante e animadora diversão desembarcou no Rio de Janeiro neste sábado, dia 17 de fevereiro. A atual encarnação do grupo conta apenas com um integrante original: o frontman Colin Hay – completa o vigente timaço San Miguel Pérez (guitarra e vocal), Yosmel Montejo (baixo e vocal), Jimmy Branly (bateria), Scheila Gonzalez (teclado, saxofone, flauta e vocal) e Cecilia Noël (percussão e vocal), mas, nem por isso, a apresentação ficou pendendo para o lado negativo ou capenga nesse ou naquele aspecto.
Pelo contrário, a discografia do MAW, que tem vida própria e já passou pelo implacável teste do tempo, foi recordada com muito carinho pelo público carioca e apresentada de maneira orgânica e com primor de execução.
A noite começou esquentando ao ritmo da serena Touching the Untouchables, que logo cedeu lugar à primeira representante do álbum Cargo, a animada No Restrictions. Como o Men At Work de 2024 é uma instituição particularmente financiada por Mr. Hay, então, importar algumas canções de sua carreira solo não é um tropeço grave, sobretudo quando estamos nos referindo a Come Tumblin’ Down e o seu espírito festivo à la country.
Naquela altura, o jogo já estava ganho, banda e plateia eram uma entidade só, e a alegria, fosse no palco ou na pista, era o sentimento que embalava todos.
Down by the Sea, Blue for You, I Can See It in Your Eyes, Dr. Heckyll & Mr. Jive e No Sign of Yesterday foram preparando os fãs para os ápices radiofônicos formados por Who Can It Be Now?, It’s a Mistake e Down Under. Em determinados momentos, os fãs cantaram mais alto que o som vindo dos PA’s – algo que não é raro, mas que é sempre prazeroso de contemplar.
A convencional saidinha do palco é apenas um charme, um docinho, para deixar subentendido que o espetáculo está perto do fim e que alguns clássicos ainda irão, pois, agraciar o já extasiado público. Dito e feito, uma breve ida à coxia para um retorno triunfante com a trinca poderosa formada por Overkill, Into My Life e Be Good Johnny.
Em pouco mais de noventa minutos de apresentação, Colin Hay e companhia reforçaram que o poderio sonoro do Men At Work continua inabalável e presente nos corações de dezenas de milhares de fãs que lotaram o Qualistage. Algum desalmado pode querer encrencar ao afirmar que a banda não é o Men At Work, visto que lança mão de apenas um integrante original.
Bem, Colin Hay sempre foi a essência da banda e a grandeza visual e vocal do quinteto – sem desmerecer, é claro, a importância do saudoso Greg Ham e o resto da trupe. Portanto, proclamar que o Men At Work 2024 é um mero pastiche de outrora, é tremenda injustiça a Colin e ao grande espetáculo apresentado na Cidade Maravilhosa.