Belo Horizonte, 1984. A capital mineira não imaginava o que surgia na cidade quando os irmãos Max e Iggor Cavalera decidiram montar uma banda. A música digital nem sonhava em existir, os CD´s eram um projeto do futuro, as turnês internacionais no Brasil eram uma miragem distante, os fãs de heavy metal brasileiros tinham que vasculhar para conhecer o que estava rolando no mundo da música pesada.
Nessa época, diversas bandas nacionais surgiam e eram a distração para os fãs do estilo que gostariam de assistir shows ao vivo. Entre as bandas cover e autorais, surgia nesse ano em BH um tal de Sepultura.
O grupo ganhou destaque nacional e poucos anos depois alcançou o mundo inteiro com os clássicos álbuns Beneath the Remains (1989 e Arise (1991). Com Chaos AD (1993) e Roots (1996) alcançaram o mainstream, inovaram no gênero e passaram a ser uma das mais importantes bandas do mundo.
Nenhuma novidade para os brasileiros o que aconteceu em seguida: Max se distanciou do grupo após o casamento com Gloria Cavalera, com isso se separou da banda no final de 1996. Em seguida, ele montou o Soulfly, já o Sepultura nunca mais atingiu o patamar que havia conquistado.
Foram mais de 10 anos de sucesso com o Soulfly, e até que em 2006 Iggor sai do Sepultura e uma aproximação entre Max e Iggor voltou a acontecer. O baterista tocou em alguns shows do Soulfly e, no ano seguinte, lançou com Max o projeto Cavalera Conspiracy.
Enquanto a tão sonhada reunião da banda não acontece, nesse ano os irmãos Cavalera estão excursionando pelo mundo tocando apenas clássicos da época do Sepultura, especialmente Beneath the Remains e Arise.
Tocando pelo Brasil, Porto Alegre recebeu os irmãos no Bar Opinião na noite do dia 04 de novembro, e os fãs certamente não esquecerão. Um pequeno atraso na passagem de som da banda alterou o show de abertura da banda local Diokane. A banda conta com um nome conhecido na cena local: Rafael Giovanoli (guitarra), além de Homero Pivoto Jr.(voz), Duduh Rutwoski (baixo) e Gabriel ‘Kverna’ Mota (bateria).
O grupo mostrou seu hardcore com algumas pitadas de Grind. Apresentaram um set inteiramente solo com canções como Born With a Curse, Descreditado, The Light That Makes Us Blind e Under the Influence.
Homero agradeceu ao público presente, a produtora e também às esposas e companheiras, destacando a presença de seu filho Benjamin. Por falar no filho, Homero é o idealizador da série “O Ben para Todo Mal”, que apresenta entrevistas com diversos músicos nacionais e internacionais que falam sobre paternidade e a vida em família dos rockeiros doidos. Saíram aplaudidos e com o dever cumprido de aquecer os presentes que lotaram o Opinião.
Era 21h10 quando as luzes se apagaram e a intro de Beneath the Remains surge nos PA’s. Sem enrolar, Iggor e Max surgem no palco, e com um único grito de “Ae Porto Alegre” o grupo tocou logo a sequência: Beneath the Remains, Inner Self, Stronger Than Hate e Mass Hypnosis. Um delírio coletivo e nostálgico na pista do Bar.
Depois dessa sequência avassaladora, Max conversa com os presentes: “Como estão nessa noite? Finalmente em Porto Alegre comemorando Beneath the Remains e Arise, vamos cantar essa junto, ela se chama Slaves of Pain”. Após a apresentação dessa, Max explica que esse foi o primeiro ato do show. “Agora é a hora de Arise, Arise, Arise, pedindo para os presentes gritarem junto.
A intro inconfundível toca nos PA’s e os riffs do clássico homônimo são sinfonia nos ouvidos dos mais de mil presentes na casa. “Mil novecentos e noventa e um. We’re born with pain. No more! We’re dead embryonic cells”, grita Max antes do grupo apresentar a segunda faixa de Arise. Seguem com Desperate Cry e Altered State.
“Como tá o show? Como tá o show, porra? Tá do caralho ou DO CARALHO? Vamos baixar um pouco agora, diminuir o ritmo. Voltamos a programação normal, essa se chama Infected Voice”, que nada tem de baixar o ritmo. Os riffs velozes formam uma roda na pista, e durante a apresentação Max pede: “Bota pra fuder aí, abre a roda caralho”.
Antes de encerrar as músicas de Arise, a distorção e o riff de Orgasmatron levou todos ao delírio mais uma vez. O Sepultura fez dessa uma das melhores regravações do Motörhead já conhecidas. Não satisfeitos, Ace of Spades segue como uma bela homenagem a Lemmy.
A banda vai para o camarim, mas o já batido bis viria em seguida. Se a tour era focada nos álbuns de 89/91, eles voltaram um pouco mais no tempo com outro mega clássico: Troops of Doom, de Schizophrenia (1987). Agora, avançando no tempo, Refuse/Resist e Roots levaram novamente o Opinião abaixo. Para fechar a noite, um medley das já tocadas Beneath the Remains/Arise /Dead Embryonic Cells.
Foram aproximadamente 90 minutos de uma celebração ao metal nacional e a maior banda de metal que a América do Sul já produziu. Fica a esperança de uma nova tour, focando em Chaos AD e Roots em um futuro não tão distante? Certamente. Porto Alegre estará de braços abertos e lotando a casa para mais uma noite assim.