Certa vez, em entrevista a um site, Courtney Love afirmou que Kurt Cobain era mais ávido por sucesso do que a Madonna. Ok! Courtney passa muito, muito longe de ser uma fonte confiável de qualquer informação; se a moça falar direita, é mais confiável seguir pelo caminho da esquerda.
Mesmo assim, vamos fazer uma breve reflexão sobre o que Love falou. Em Bleach, primeiro álbum do Nirvana, o som dos caras ficou essencialmente na seara do alternativo raiz; agradou a parcela de público que curtia só o que era veiculado na cena underground.
Até neste ponto, tudo estava dentro dos conformes e do enredo de quem queria ficar à margem do grande público.
Para o segundo ato, o Nevermind, o trio, nas palavras do próprio Kurt Cobain, adocicou muito o som. Será que era a vontade de ser mais popular que a Madonna?
Apesar de ser difícil prever o efeito de uma obra musical no mercado, a banda, bem como sua produção e equipe, consegue traçar certos panoramas, levando em consideração o trabalho desenvolvido em estúdio. É claro que tem variáveis em tal equação, mas o bruto da coisa é possível delinear.
Além disso, é bastante explícito o caminho artístico seguido em estúdio. É possível – e mais do que recomendado – verificar o teor sonoro do que está sendo criado. À vista disso, se o quê doce era um problema, tal “deslize” poderia ser remediado, imediatamente.
Portanto, este papo de que Kurt odiou a produção – porque soava muito doce, brilhante e leve – é balela. Isto foi feito de maneira deliberada, de caso pensado para sair do buraco sujo e frio do underground de Seattle.
Desplugado e endinheirado
Nos anos 90, o filão criado pela indústria musical para alavancar as vendas de discos e, consequentemente, a carreira das bandas e artistas era o MTV Unplugged.
Do hard rock ao grunge, do heavy metal ao country, do classic rock ao blues, boa parte das bandas/artistas queriam ostentar o selo MTV Unplugged em uma obra musical e abocanhar as benesses que chegavam a reboque: popularidade, agenda cheia, capa nas principais revistas/editoriais do horizonte musical e, claro, grana, muita grana.
Se o sucesso era algo desconfortável e dolorido, como um espinho no pé que atrapalha as passadas, o mais inteligente e viável é tirar a farpa, ou seja, é tirar o time de campo, deixar a coisa toda arrefecer, recalcular rota e seguir outro rumo.
Ao contrário disso, o Nirvana quis o bilhete de ouro do MTV Unplugged! Ainda que o repertório não fosse coalhado de hits como Smells Like Teen Spirit e Lithium, a garantia de adesão do público era certa, com isso o êxito comercial dava as suas caras.
Logo, por mais que falasse com toda raivinha do mundo que odiava o sucesso, Kurt Cobain seguiu todo o script para alcançá-lo. Se Cobain soube conviver ou não com o sucesso e ou deixou vozes venenosas tomarem o protagonismo de suas decisões, isso é uma outra história. Contudo, muitas de suas ações e escolhas foram em direção ao êxito comercial.