“Depois de três anos e dessa porcaria de pandemia, estamos de volta”, disse o vocalista Bruce Dickinson no primeiro contato com o público carioca na noite da última sexta-feira, dia 2 de setembro. De fato, depois de longos e incertos anos e uma assustadora pandemia, o Iron Maiden retornou ao seu ‘habitat natural’, que é o palco, e mostrou, mais uma vez, para um Rock in Rio lotado, o quão impecável é o seu show.
A convocação, como é de praxe, veio com Doctor, Doctor, do UFO, que tomou os PA’s e injetou doses extras de ansiedade nos cem mil fãs que desejavam curtir os clássico da Donzela de Ferro. Com belo palco que remetia o Japão feudal, a quase tribal Senjutsu, faixa-título do mais recente álbum de estúdio da banda, fora a responsável por começar os trabalhos, com direito a presença do mascote Eddie na versão samurai.
O código genético do grupo, com ritmo acelerado e a indefectível galopada de Steve Harris & Cia, deu as caras pela primeira vez em Stratego, que colocou o público para cantar em alto e bom som o pegajoso refrão. E por falar em refrão pegajoso, The Writing On The Wall, que tem uma bem-vinda alquimia musical, onde elementos do folk e blues se entrelaçam ao DNA do grupo e formam uma única entidade musical, fez até o mais apático fã vibrar em profusão.
Depois do trio formado pelas citadas novatas, o Maiden tirou da cartola a primeira representante do álbum Piece of Mind (1983), Revelations, que fez relembrar a primeira edição do Rock in Rio, em 1985, onde o grupo debutava em terras brasileiras, com sua World Slavery Tour. O quê progressivo veio com Blood Brothers, que Dickinson enfatizou ser uma ode aos fãs, já que todos, segundo o cantor, são parte de uma única família: a família Maiden.
Da fase Blaze Bayley, a banda ressuscitou do vale da sombra morte, Sign of the Cross, que trouxe um ar sombrio ao show com vozes dobradas e coros à la igreja gregoriana. Flight of Icarus fora ovacionada pela plateia, que não se intimidou e duelou com Bruce em cada verso da canção, sendo assim, um dos destaques da apresentação.
Não é novidade, no entanto, seria irresponsável não destacar a bela produção de palco da banda, com backdrops acompanhando cada música e belo jogo de luz, que ofereceram o perfeito pano de fundo para o espetáculo. Apesar de pequenos deslizes no começo do show, onde certa inconstância sonora pôde ter sido percebida pelos fãs, a boa qualidade sonora se impôs e colaborou para o saldo positivo da noite.
A despeito das críticas, devido a sua periodicidade no repertório dos shows, Fear of the Dark é um ás de espadas na mão da banda, o que é um fato incontestável. Dito isso, a faixa cumpriu sua cota de responsabilidade, que fora manter a galera animada do primeiro ao último acorde. A primeira etapa do show terminou com a trinca Hallowed Be Thy Name, The Number of the Beast e Iron Maiden, que brindou os fãs com pegada veloz, solos diretos e virtuosos e refrãos idealizados para que milhares de fãs os entoassem a plenos pulmões, e fora exatamente o que aconteceu.
Depois de um breve intervalo, o grupo retornou com a última representante do já citado Piece of Mind, The Trooper, que ajudou reacender o clima de festa dos fãs. O Iron Maiden expandiu suas fronteiras no setlist ao adicionar a medieval The Clansman, faixa inspirada no filme Coração de Valente, de 1995. Já Run to the Hills provou que é um clássico e conseguiu passar com honras ao implacável teste do tempo. Mais uma breve pausa, o último ‘encore’ da noite veio com a acelerada Aces High, que ainda contou com a presença do imponente Spitfire, avião monomotor inglês, que ganhou destaque na Segunda Guerra Mundial.
Há quem queira criticar o Iron Maiden por apresentar basicamente o mesmo repertório nos últimos anos. Ok! Existe razões para tais críticas e ressalvas, pois o grupo tem uma vasta discografia e trabalhos grandiosos que ajudaram edificar o heavy metal, então, sons como Deja-Vu, Infinite Dreams, Alexander the Great e The Duellists seriam ótimos reforços ao setlist.
Mas, mesmo com os já manjados clássicos e os truques cenográficos como o enorme Eddie aparecendo atrás da bateria de Nicko McBrain, o Iron Maiden provou, de novo, que é uma banda necessária. Enquanto não há para quem passar o bastão, o grupo segue cumprindo a sua responsabilidade de ser um dos bastiões do metal.