Se manter no mundo da música com uma carreira de 4 décadas sem se vender aos modismos de cada geração é uma tarefa hercúlea, onde poucos têm privilégio de realizar e sair com a bandeira da vitória em mãos. E um destes abastados é o líder da banda Iron Maiden, Steve Harris, que concedeu entrevista ao jornal argentino Clarín, onde falou, dentre muitos assuntos, sobre o atual momento da banda e o que o futuro pode reservar ao grupo.
Como estão soando as novas músicas ao vivo?
Steve Harris: Elas estão soando muito boas, nos estimulam. Estamos tocando seis delas e estamos satisfeitos. Não vamos alterar o setlist agora, talvez no próximo mês, mas agora estamos com um bom resumo de músicas novas e clássicas.
“The Book Of Souls” tem um bom equilíbrio: É complexo, mas também soa quente e orgânico.
Steve: Bem, passamos um bom tempo gravando. Basicamente fizemos em um estúdio que já conhecíamos e que tem excelente som. O produtor foi, mais uma vez, Kevin Shirley.
Nos sentimos muito confortáveis. Normalmente compomos fora do estúdio e depois nos reunimos só para gravar, desta vez foi tudo junto: escrita, ensaios e gravação tudo no mesmo lugar, para capturar esse imediato ao vivo. Definitivamente faríamos do mesmo modo na próxima vez.
Planejam tocar “Empire Of The Clouds” alguma vez? Qual o desafio de escrever uma música de 18 minutos?
Steve: Eu acho que não vamos tocar, pois ela simplesmente é muito longa. Existem várias musicas longas no set, mas não tanto. Tocamos mais ou menos duas horas, misturando músicas de todas as nossas épocas, não está ruim. Queremos dar um bom show, não que o som seja completamente novo, nos interessa ver qual o efeito no publico, essa é a ideia. Estamos ansiosos para ver qual será o melhor público entre Argentina, Chile e Brasil. É como no futebol, às vezes é para um, outras para outro.
Qual o segredo para manter-se em evidência e superar os diferentes cenários da indústria que se sucederam durante todos estes anos?
Steve: Não nos preocupamos em ter um segredo. No final das contas isto o que fazemos é o que as pessoas gostam, e por sorte a gente gosta também. Somos muitos sortudos! Temos fãs muito leais que dariam tudo pela banda, compram os álbuns ou escutam no Spotify, o que seja. É como se nos vissem o tempo todo com uma banda nova. Estamos nisso há bastante tempo, sabemos que o fim de nossa carreira está próximo, temos dado um grande retorno. Por sorte, nossos fãs ao redor do mundo ainda nos seguem.
Como se sente a respeito de ter o The Raven Age, banda de seu filho George, abrindo para o Iron Maiden?
Steve: É incrível! É algo fantástico. Eles estão lá porque são bons e não porque meu filho toca na banda. Tem que ser bom para continuar no cenário musical. A resposta do público está sendo ótima.
O seu som é uma marca registrada. Como você fez no começo? Foi uma busca consciente ou saiu naturalmente?
Steve: Acho que em parte saiu naturalmente, junto ao nosso estilo de tocar. Mas eu também estava buscando um som que tivesse guitarras pesadas, pois naquela época não era fácil ouvir o baixo no palco.
Queria estar bem presente na base, não que tenha ido buscar meu som ou desaparecer entre os demais sons. Provei diferentes tipos de baixos, diferentes marcas, dedilhados e velocidades e assim apareceu meu som, e isso levou muito tempo. Foram dois ou três anos de experiência e finalmente cheguei ao que eu queria. Estou muito feliz com meu estilo de tocar, tenho sido muito consistente com ele.
Está com 60 anos.
Steve: Não me lembre disso! (risos)
Como você vê e como vê o Iron Maiden dentro de dez anos?
Steve: Uh, não é fácil dizer. Agora mesmo nos sentimos muito bem em poder tocar, de ter nosso avião, o álbum novo, especialmente depois do que aconteceu com Bruce. Estamos felizes de estar aqui e poder tocar. Não pensamos muito nisso, talvez em um ano voltamos a sair e fazer outra turnê, não damos muita importância.
Quais foram suas principais influencias quando começou a tocar?
Steve: É uma boa pergunta por que minhas influencias não são muito conhecidas. Wishbone Ash, The Who, Genesis, Jethro Tull e várias outras. Todas bandas incríveis. Tive muita sorte de crescer em uma era onde a música progrediu em uma excelente direção, na verdade.
E das bandas que Iron Maiden influenciou. Quais poderia nomear que realmente você goste?
Steve: Realmente não posso eleger uma, tem muitas bandas por aí. Penso eu, na verdade é que prefiro não escolher uma.
A ultima vez que Iron Maiden esteve na Argentina, esteve revisitando a tour de “Maiden England” de 1988. Como se sente ao recriar algo que fez no passado?
Steve: Bem, depende. Já fizemos isso em outras turnês. É bom voltar a tocar músicas que não tocamos faz vinte anos . É bom e é um desafio tocar o material novo. Nunca fugimos de tocar as musicas novas, tal como estamos fazendo nessa turnê.
No futuro, veremos se vamos repetir isso, já que, olhando nosso repertório, vemos que poderíamos ter dez shows diferentes, mas ao mesmo tempo é uma posição muito boa para estar.
Este tipo de turnê te dá uma perspectiva da historia da banda?
Steve: Sim, para ser sincero, a razão de fazermos isto é estarmos na estrada há muito tempo e termos muitos fãs que, talvez, não tenham tido a oportunidade de viver esses álbuns ao vivo, que conhecem muito bem os álbuns de estúdio, mas a experiência ao vivo é diferente.
Se tivesse que apresentar a sua banda a alguém que nunca escutou. Quais três álbuns escolheria e por quê?
Steve: É uma pergunta muito difícil, porque temos muitos álbuns para mostrar. Possivelmente escolheria The Number Of The Beast, Seventh Son Of A Seventh Son e o outro seria A Matter Of Life And Death, talvez.
Se tivesse a chance de escolher músicos para formar uma nova banda, uma espécie de Dream Team de Steve Harris, quem escolheria?
Steve: É uma pergunta muito difícil, realmente, não consigo pensar em alguém de imediato. Sempre gostei de Paul Chapman, guitarrista de UFO, é um dos meus favoritos. Possivelmente o escolheria.
Por que?
Steve: Provavelmente porque resume bem o que fazemos. E caso a pessoa não goste, possivelmente ela não goste nada dos outros (risos).
Fonte: Jornal Clarín