O ditado popular diz: O tempo cura tudo! Bem, cravar que o tempo tem a pesada e inglória responsabilidade de curar absolutamente tudo é uma grande injustiça e atrevimento com a grandeza física que se impõe em nosso cotidiano. Contudo, se não pode curar, pode, pelo menos, trazer novas perspectivas que estavam, até então, eclipsadas por toda sorte de paixões, impressões e emoções.
E é bem certo que tal premissa é válida nas artes, onde determinados discos e filmes, por exemplo, podem sofrer de um descaso atroz, no entanto, em outra época, podem receber uma adulação e prestígio nunca antes saboreado. Em suma, são obras que tiveram uma segunda chance e puderam mostrar seus respectivos atributos.
No rock n’ roll e heavy metal, principalmente nos anos 90, muitos álbuns foram brutalmente massacrados pelo público, que não titubeou em apontá-los e crucificá-los como alguns dos piores registros da música contemporânea. Porém, muitos discos foram injustiçados e merecem, seguramente, um voto de confiança do público.
Dito isso, listamos 8 álbuns dos anos 90 que merecem uma segunda chance, pois reservam ao ouvinte muitos minutos de música divertida e agradável.
Iron Maiden – The X Factor (1995)
Na primeira metade dos anos 90, Dickinson pediu o chapéu, passou no RH e assinou a rescisão de contrato para se dedicar à carreira solo e empreendimentos particulares. O big boss do Maiden, Steve Harris, cogitou encerrar as atividades do grupo, todavia, ponderou sobre a dramática ideia e resolveu seguir adiante sem o Air-Raid Siren.
Blaze Bayley fora o escolhido para a complicada e complexa missão! Com um estilo vocal bem distinto do de Bruce, Blaze estreou em The X Factor, que é um álbum soturno, sombrio e gélido; bem diferente dos caminhos seguidos pelo Maiden em álbuns anteriores.
Muitos criticam a sábia decisão de Harris em trazer um cantor fora dos ditames do grupo, porém, o movimento não foi tão catastrófico como muitos fãs adoram vociferar. É uma outra faceta do Iron que se mostra tão interessante quanto as de outrora. Uma audição desarmada de preconceitos e críticas pode te apresentar e realçar toda a genialidade de The X Factor.
Iron Maiden – Virtual XI (1998)
Se The X Factor foi apedrejado, Virtual XI foi queimado vivo, e sem um pingo de misericórdia, tampouco teve oportunidade de se defender. Mesmo assim, o disco é uma obra musical bacana, com muitos momentos de sucesso. Vedar os ouvidos a sons como Futureal, The Clansman, Lightning Strikes Twice e The Educated Fool é uma mancada braba.
E por falar mancada, Virtual XI tem seus chutes na canela como a repetição infernal do refrão de The Angel and the Gambler, bem como a bisonha introdução de tal canção. Entretanto, o disco não é um deserto musical, o qual nada se tira de proveito. É só ter paciência e cavar para achar água em Virtual XI.
Pink Floyd – The Division Bell (1994)
Bem diferente do que é apregoado pelos bichos-grilos do rock progressivo e alguns críticos musicais, The Division Bell é um álbum incrivelmente prazeroso de ouvir e reserva aos amantes das seis cordas muito material para estudar.
Marooned, Coming Back to Life, Keep Talking, Wearing the Inside Out, Poles Apart e Take It Back provam que o Pink Floyd conseguiu se virar muito bem sem a mentoria criativa de Roger Waters. É só colocar a bolacha na pickup e ser feliz!
Ozzy Osbourne – Ozzmosis (1995)
Não é exagero afirmar que Ozzmosis fora o último disco do Madman com a capacidade de captar atenção do ouvinte do começo ao fim, já que os trabalhos recentes são, na melhor das hipóteses, fracos.
Ainda assim, quando saiu em meados da década de 1990, o álbum causou um certo espanto em parte do público que esperava uma continuação de No More Tears (1991), e Ozzmosis passa bem longe das melodias comerciais e felizes de NMT.
O disco é pesado, profundo e denso, o que exige mais audições para captação de sua amplitude musical. Todavia, o sétimo trabalho solo de Ozzy merece cada minuto de sua atenção.
Megadeth – Risk (1999)
Risk foi um choque aos fãs do Megadeth, mas somente ao público desatento que fica tropeçando em toda e qualquer lombada da rua. O grupo já havia sinalizado uma adição generosa de melodia em sua música; fato que pode ser facilmente comprovado numa audição despretensiosa de Cryptic Writings, de 1997. Além disso, fora um movimento pensado e calculado pela banda e empresariamento para obtenção de mais público e aparição regular em canais como MTV e VH1.
Então, tratar Risk como um erro abominável é exagero e deveras desproporcional! É uma obra musical distante do Megadeth de Rust in Peace (1990) e So Far, So Good… So What! (1988), evidentemente, mas reserva uma oportunidade única de curtir um Megadeth fora da caixa do thrash metal. The Doctor Is Calling, Wanderlust, Crush ‘Em, Insomnia e I’ll Be There sustentam o repertório de Risk e advogam a favor do subestimado disco.
Black Sabbath – Cross Purposes (1994)
Os fãs mais ortodoxos cometem uma heresia em minimizar o trabalho de Tony Martin no Black Sabbath. O cantor, na verdade, deveria ser ovacionado e aclamado, pois ajudou seu xará, Tony Iommi, a manter a banda viva e ativa, diga-se, numa época em que pouquíssimas pessoas tinham a coragem e disposição de atuar sob a égide do Sabbath.
Dos cinco trabalhos de estúdio assinados por Martin, Cross Purposes é um dos que passa em branco, pois existe numa espécie de limbo, sem as críticas ferrenhas voltadas ao Forbidden (1995) e sem os contidos e dissimulados elogios reservados a Headless Cross (1989), ou seja, é um disco praticamente invisível na discografia do grupo e que merece segunda, terceira… chance, pois há um repertório interessante a ser descoberto e ou relembrado.
Genesis – Calling All Stations (1997)
Em meados dos anos 90, Phil Collins vivia um dos piores momentos de sua vida, enfrentando divórcio e toda sorte de desventuras, o que o fez sair do Genesis. Tony Banks (teclado) e Mike Rutherford (baixo e guitarra) optaram por continuar com o grupo em atividade, então recrutaram o cantor escocês Ray Wilson para ocupar o posto de Collins.
Com tal formação saiu Calling All Stations, décimo quinto e derradeiro álbum de estúdio do Genesis. Ao contrário do que a maioria das pessoas consideram, o disco reserva para si momentos grandiosos como em There Must Be Some Other Way, The Dividing Line, Not About Us, Alien Afternoon, Shipwrecked e a faixa-título.
Ainda que tenha um apelo comercial com a presença de algumas baladas, o repertório de Calling All Stations não é tão açucarado como o da era Phil Collins; talvez seja um dos fatores para a recusa do grande público ao trabalho. Mesmo assim, o disco rendeu boas colocações nas paradas europeias e disco de ouro em várias praças.
Mötley Crüe – Mötley Crüe (1994)
Eventualmente, o segredo do sucesso do Mötley Crüe esteja na tosquice e mediocridade de seus músicos e na perfumaria e frivolidade de viver o estilo de vida rockstar, já que no momento em que contou com um vocalista de capacidade técnica, potência vocal e que sabia cantar no tom das respectivas canções, o grupo descarrilhou feio e quase foi perda total.
O álbum autointitulado falhou miseravelmente no âmbito comercial, mas não necessariamente pela presença de John Corabi; a ruína chegou por desentendimentos entre Tommy Lee (bateria) e Nikki Sixx (baixo), troca de empresariamento, briga por dinheiro e, até mesmo, por boicote da MTV.
O repertório de Mötley Crüe foi apenas o bode expiatório de todas adversidades vividas pela banda, afinal, o disco fora a primeira vez em que o grupo contou com um vocalista de verdade, dito isso, as músicas não podem ser tão pavorosas assim. Então, se tiver com paciência e tempo, dê uma chance ao disco como uma forma de celebração ao bom trabalho de Corabi.