A maioria do público vê o rock progressivo como um movimento típico da década de 1970, já que foi uma das mais importantes correntes musicais de tal época. O período foi, sem dúvida, o ápice comercial e criativo do estilo. Nomes como Yes, Supertramp, Genesis, ELP, Pink Floyd, King Crimson e Jethro Tull empolgaram os fãs com obras musicais as quais a genialidade e o capricho imperavam do começo ao fim.
O patriarca do Tull, Ian Anderson, por exemplo, surpreendia seu público a cada álbum; mesmo que a flauta do bardo e os elementos acústicos fossem uma constante. Para alguns engravatados do setor fonográfico, a carreira de Jethro, que em certo momentos se entrelaçava com a solo de Anderson, era uma caixa de surpresa.
O mercado, bem como o público, não sabia o que esperar do grupo: ora o blues era o prato principal como em This Was (1968), Stand Up (1969) e Benefit (1970); ora soava essencialmente folk como em Songs from the Wood (1977) e Heavy Horses (1978).
Houve também flerte com a música eletrônica nos álbuns A (1980) e Under Wraps (1984); um quê mais energético em Crest of a Knave (1987) e Rock Island (1989), além disso, teve espaço para um pomposo e elegante jazz em Roots to Branches (1995).
Ao trilhar diferentes roteiros musicais, Anderson declarou abertamente que estar livre a novas facetas sonoras era um dos elementos que mantinha o som de seu grupo tão interessante. Os bichos-grilos do progressivo certamente desejariam que Ian tivesse se atido à formula empregada em Aqualung (1971) e Thick as a Brick (1972); porém, a sapiência do flautista estava além das fronteiras do rock, pois jamais estigmatizou sua arte.
Por sua maestria musical, aliado ao forte temperamento e ao ímpeto de perseguir seus objetivos a qualquer custo, o músico sempre esteve dois ou três passos à frente dos concorrentes e também da turma que assinava os cheques.
Ao fim disso, Ian Anderson pagou, claramente, o preço, em termos mercadológicos, ao impor sua vontade e decisões artísticas. O bardo escocês é um gênio musical que sempre ficou à margem do mercado fonográfico, mas o azar é de quem nunca ou pouco teve contato com sua arte.
Não dá pra concordar com o autor. Em primeiro lugar, o blues foi o prato principal apenas do primeiro disco. Nos seguintes, ele aparece aqui e ali, mas desde o segundo, no qual Anderson assume a liderança do grupo, o estilo claramente não predomina. Também não dá para concordar com a tese principal do texto. Ora, o próprio fato do Tull sempre mudar de estilo é reflexo que a banda não passou infensa aos movimentos do mercado fonográfico, bastando observar que a mudança de estilo muitas vezes acompanhou o que já estava em voga no universo do pop/rock, em especial nos primeiros 20 anos da banda: progressivo no começo da década de 70, uma rápida pegada “roxy music” nos meados do 70, eletrônico no começo pro meio dos anos 80, e hard rock na virada dos oitenta para o noventa. A excessão nesse período dos primeiros 20 anos talvez tenha sido o breve período na segunda metade dos anos 70 com a ênfase no folk rock. Nos vinte anos seguintes, acompanhado pela perda de protagonismo da banda no cenário musical, em termos de mercado sobretudo, é que se observa com clareza uma maior independência em relação ao mercado, mas isso certamente não vale para a banda no seu auge comercial. Isso muitas vezes passou batido pois a banda conseguia desviar a atenção para excentricidades do flautista encantado no centro da cena. Músicos talentosíssimos, sem sombra de dúvidas, mas jamais, insisto, uma banda à margem do mercado em sua era dourada.