Muitas coisas são tidas como improváveis no mundo, e na lista das improbabilidades têm itens como: o raio não cai duas vezes no mesmo lugar; ser premiado diversas vezes nos famigerados e duvidosos jogos de azar; o KISS diminuir o portfólio de produtos em seu merchandising e o Helloween reunir-se com os ex-integrantes Michael Kiske (vocal) e Kai Hansen (guitarra). Pois bem, o último item na mencionada lista de improbabilidades pode ser cortado do quadro, uma vez que as rugas do passado entre os citados músicos e o Helloween foram superadas e o anúncio da festejada Pumpkins United Tour foi confirmada e, para alegria dos fãs brasileiros, com apresentações no Brasil.
O Brasil acabou não dando o pontapé da turnê mundial dos alemães como fora previsto, já que Colômbia, Costa Rica e México saíram na frente e receberam o grupo primeiro, no entanto, a perna brasileira era uma certeza e começou ontem (28), em São Paulo, com o Espaço das Américas em lotação máxima e com a responsabilidade de ser o local para as filmagens de um futuro lançamento em DVD, Blu-Ray, entre outras mídias e formatos.
A expectativa era, como se esperava, enorme, dado que seria a primeira vez em que os citados Michael Kiske e Kai Hansen e o resto do grupo – completado por Andi Deris (vocal); Michael Weikath (guitarra); Markus Grosskopf (baixo); Sascha Gerstner (guitarra) e Dani Löble (bateria) – estavam tocando juntos em território tupiniquim. Com uma produção de palco muito bacana, onde três telões exibiam vídeos de acordo com o teor lírico de cada canção e um jogo de luz impecável para proporcionar um ambiente perfeito para celebração de uma das maiores e mais comentadas turnês dos últimos tempos do cenário metálico, a instituição do power metal alemão começou sua hipnótica apresentação com a arrasa quarteirão Halloween, que, em perfeita sintonia e entrosamento, recebeu o duo vocal de Michael Kiske e Andi Deris. Talvez valha até ir além e afirmar que era um trio, visto que os fãs bradavam em alto e bom som os versos e refrãos da maravilhosa canção e podem, pois, reclamar um papel de relevância na execução do clássico.
Sem tempo para tomar fôlego e ou gole d’água, Dr. Stein tomou de assalto o Espaço das Américas com suas melodias alegres e contagiantes, o que fora mais do que um convite aceito pelo público a pular, cantar e, lógico, curtir em absoluto o mágico momento. Merece notoriedade o bom clima e a amizade entre os músicos, uma vez que fica evidente a todos o agradável ambiente na banda, implicando positivamente e diretamente na qualidade do show e no sorriso fácil no rosto dos músicos.
Diretamente do clássico Keeper of the Seven Keys Part 1, a intensa I’m Alive é uma ode aos primórdios do power metal, onde o Helloween desbravava fronteiras como um tanque Panzer em frente às linhas inimigas. A sacada de trazer Kiske dividindo o vocal em algumas canções da fase Deris fora muito bem acertada, com isso temas como grudenta Why e a balada Forever and One (Neverland), que recebeu um arranjo mais intimista, tiveram um sabor especial.
Kai Hansen é o DNA do power metal, e como tal o medley com Starlight, Ride the Sky, Judas e Heavy Metal (Is the Law) rememorou a essência do hoje adorado estilo. E é valido e interessante trazer luz à incrível técnica de Hansen na guitarra, onde, mesmo com a execução de intricados riffs e melodias, o músico não deixa nenhuma nota bater na trave, sobrando tempo até para brincadeiras com os amigos de banda.
Se Hansen é o gene do power metal, How Many Tears é a descendência do estilo, e na canção estão todos os requisitos que marcaram, como brasão em couro, a natureza do gênero. As pegajosas I Can, Sole Survivor e Power mostraram que os anos 90 fora uma década bem criativa e frutífera para o grupo. Mas os imbatíveis hinos Eagle Fly Free e Keeper of the Seven Keys roubaram a cena, uma vez que o esplendor e a grandiosidade das citadas canções são de colocar lágrima nos olhos de muito barbudo convencido a ‘troll’.
O ‘encore’ veio com a pompa e a mensagem otimista de Future World e a hard rocker I Want Out, onde ambas as canções foram uma convocação aos fãs cantarem o mais alto possível seus refrãos e melodias, sendo, claro, alguns dos muitos pontos altos em toda a apresentação da banda.
Com quase três horas do mais puro e genuíno power metal, o Helloween mostrou o porquê de todo carinho e bajulação por parte dos fãs, onde nem a escorregadela de Kiske ao esquecer um pedacinho da letra de Keeper of the Seven Keys, os pequenos problemas de ordem técnica como o telão central que parou de funcionar e veicular as animações respectivas às músicas e os contratempos que pipocaram vez ou outra com as guitarras de Sasha e Kai e o baixo de Markus anuviaram a ótima performance da maior banda de power metal de todos os tempos.