Meados dos anos 80, o Black Sabbath era a casa da mãe Joana, isto é, era uma banda essencialmente desorganizada, atolada em dívidas, sem gravadora… Uma verdadeira balburdia dentro e fora dos palcos. As trocas de integrantes eram constantes e os abutres do mercado musical estavam se fartando com o grupo morto-vivo.
O senso de união ganhou seu primeiro relance com a entrada do vocalista Tony Martin, contudo, tudo ganhou corpo e vigor quando o baterista Cozy Powell foi fichado na empresa, e a turma, que era liderada pelo riff master Tony Iommi, começou a trabalhar em seu primeiro rebento.
O Sabbath com Ozzy era um passado bem distante, o conjunto com o saudoso Ronnie James Dio também era gélido corpo enterrado a sete palmos do chão, sendo assim, o caminho mais inteligente era focar nos novos potenciais da banda e se firmar por conta própria, sem ficar emulando o próprio passado.
Com uma aura sombria, sonoridade fundamentada nas melódicas e açucaradas texturas e nuances oitentistas e performances caprichadas, Headless Cross ganhou o mundo em abril de 1989 pela I.R.S. Records.
Diferente da época setentista da banda, por exemplo, em que Iommi era o responsável por criar as canções de forma solitária; em Headless Cross, o guitarrista trabalhou no esquema colaborativo, pois Cozy Powell e Tony Martin apresentaram muitas ideias e conteúdos para o disco, o que fez o chefe, Toninho, respirar com mais alívio e não sentir o peso de ter que levar o mundo nas costas.
Não é um disparate, tampouco um delírio, afirmar que o disco possui dois protagonistas: as linhas de guitarra de Iommi e o vocal afiado, dinâmico e intimidante de Martin. A bateria de Powell não fica muito atrás em termos de grandeza, já que é robusta e proeminente, além disso, se funde à grandeza de todo o repertório.
Sem contar a importante presença do tecladista Geoff Nicholls, que arrematou os sons com uma bem-vinda atmosfera taciturna, capaz de gelar a espinha e causar o ranger de dente nos mais imponentes tr00zões.
O teor lírico fincou a bandeira no ocultismo e no folclórico Capeta, o que foi um prato cheio aos cidadãos de bem da época, que adoraram odiar o álbum e taxar os músicos como os emissários do Cão. Publicidade orgânica e sem custo algum!
Algumas curiosidades permeiam o caminho de Headless Cross: primeira, a participação de Brian May (Queen) em When Death Calls; e segunda, para não conflitar com o álbum de Ozzy Osbourne, No Rest for the Wicked, a música Hero passou a se chamar Call of the Wild e Devil’s Daughter se tornou Devil & Daughter.
Headless Cross tem muito a oferecer aos fãs do Black Sabbath, todavia, apesar de ter um público cativo, é uma obra-prima esquecida na discografia do Black Sabbath.
Além do caprichado conteúdo musical, o álbum foi uma grande conquista para tal momento do grupo: provou que tinha muita lenha para queimar, a fonte criativa não estava seca e, principalmente, provou que estava longe da extinção, como alguns abutres almejavam.