Fim do Sepultura: Fãs vira-latas vão aprender a valorizar a maior banda de metal brasileira só depois de perdê-la

Quando, por volta de 1984, uns moleques espinhentos e cheios de energia se reuniram para montar uma banda de rock, os mais céticos tacharam a intenção dos garotos como uma mera brincadeira de criança – fogo de palha, como diriam os mais antigos – e que não iria longe.

Ironicamente, para o desespero e para um bem-vindo cala-boca nos cidadãos de bem da época que nunca tiveram intimidade com arte e cultura, os moleques não só foram adiante com a ideia de montar uma banda rock, como também revolucionaram a música pesada mundial e colocaram o Brasil no mapa do estilo musical como uma das principais potências mundiais.

Depois do estágio embrionário, o Sepultura cresceu, ganhou corpo e acabou cumprindo a árdua missão de ser o maior representante do rock e metal brasileiro. Discos antológicos como Morbid Visions (1986), Schizophrenia (1987), Beneath the Remains (1989), Arise (1991), Chaos A.D. (1993) e Roots (1996) trataram de inserir o quarteto nas principais trincheiras do som pesado.

Em um mundo dominado pelo protecionismo, cujo o lema é: farinha pouca, meu pirão primeiro, o Sepultura chegou e fixou residência em territórios estrangeiros até então fechados à cultura e arte brasileira. A banda se tornou – e ainda é – a expressão máxima da música verde e amarela no mundo. Da Tailândia ao Chile, da Suécia ao Canadá, da Austrália ao Japão, o Sepultura sempre fora o nosso representante musical mor.

A distância que separa o grupo mineiro de seus pares brasileiros, por exemplo, é gigantesca: seja em DNA sonoro ou no modo profissional em que conduz suas atividades, o conjunto legitima a responsabilidade não obrigatória de estar na vanguarda do metal nacional e de puxar a locomotiva da cena doméstica para frente.

Porém, parte dos fãs, dominados pela tola síndrome de vira-lata, não conseguem enxergar o quão benéfica é a existência do Sepultura. Esta parcela do público ainda cisma se prender a padrões antigos, desgastados, que só têm aderência em saudosistas presos a uma realidade cujo bordão mais repetido é: Sepultura não é Sepultura sem os irmãos Cavalera.

Imbecilidade facilmente silenciada e rechaçada por álbuns como Machine Messiah (2017) e Quadra (2020). Trabalhos que transbordam em cada acorde, riff, verso e solo genialidade igual ou maior que outrora.

Agora, com o anúncio da derradeira turnê, e, eventualmente, com a execução de um último ato, os fãs vão se deparar com uma lacuna que jamais será preenchida, novamente. Dificilmente, o país gerará um outro representante cultural e artístico de tal calibre.

Há muitas bandas boas no cenário nacional, mas que não reúnem os predicados necessários para se firmaram no mercado. Basicamente, no Brasil roqueiro e metaleiro atual, quem tem repertório, não tem grana para fazer as engrenagens do show business rodarem; e quem tem grana para bancar o por trás das câmeras, não tem repertório.

Embora não pareça para alguns barizons, o fim do Sepultura pode trazer uma dura e custosa realidade à cena metal nacional, que poderá submergir e colapsar em pouco tempo.

Esperamos e torcemos que até o dia do último acorde de Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo), Derrick Green (vocal) e Eloy Casagrande (bateria) aconteça, uma nova era do rock e metal surja de forma essencialmente profissional e criativa, e que o bastão do Sepultura esteja em boas mãos.

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