Na teoria, o quinto álbum da banda Tool se tornou algo como um Chinese Democracy do metal alternativo. Em abril deste ano, o disco 1000,000 Days, lançamento mais recente do grupo, completa 12 anos, além de marcar dez anos desde que eles começaram a dar indícios do novo projeto. Caçar esses sinais se tornou um passatempo para muitos fãs e jornalistas, já que os integrantes parecem fazer questão de divulgar informações desconexas.
No fim do ano passado, o baterista Danny Carey disse em uma entrevista que o álbum “com certeza” sairia em 2018. Por outro lado, o vocalista Maynard James Keenan esclareceu em um post no Twitter, em janeiro, que o disco “não. Vai sair esse ano. Não.”
Enquanto isso, o mundo continua girando: a banda faz shows em arenas quando e onde quer, preenchendo setlists com um catálogo amplo de sucessos. Keenan se tornou um produtor de vinho bem sucedido, Carey toca com o projeto Volto!, o guitarrista Adam Jones dá indícios de ensaios nas redes sociais e o baixista Justin Chancellor faz questão de garantir em entrevistas que o processo de composição do novo álbum está bem encaminhado.
Seria esse mais um caso, assim como o álbum de 2008 do Guns N’ Roses, em que a ausência do projeto é o fator que o torna interessante? Provavelmente não. Diferente do Chinese Democracy, em que fãs e críticos focaram principalmente no espetáculo tosco da não-existência do disco (em vez de pensarem em como o projeto soaria), o próximo lançamento do Tool parece aguçar a curiosidade de fãs puramente em um nível musical. E isso simplesmente porque a banda é muito boa.
Os quatro álbuns que eles já lançaram contêm algumas das composições mais ricas e imersivas do rock dos últimos 25 anos. O que aparentemente era pra ser uma banda cult, é na verdade um gigante mainstream: os dois discos mais recentes chegaram ao topo da parada norte-americana, e o antecessor chegou à segunda posição. Considerando o conteúdo do trabalho que eles produzem e a quantia imensa de tempo e atenção que as músicas exigem dos ouvintes, esse sucesso todo se mostra espantoso. O som da banda não é apenas obscuro ou perverso, é radicalmente ambicioso.
Até hoje, faixas como Sober e Stinkfist são consideradas marcos do metal, mas a grandiosidade de composições mais recentes como The Grudge e Schism transcendem completamente a época em que foram lançadas. Nenhuma banda conseguiu misturar da mesma forma a progressão esmagadora, a dinâmica cativante e a ressonância emocional como Tool conseguiu no álbum Ænima, de 1996.
No cenário atual, a banda sueca Meshuggah aponta para uma magia rítmica parecida, enquanto o Deftones combina uma sensualidade exuberante com catarse violenta , mas até mesmo os maiores sucessos desses grupos parecem limitados perto da maravilha kubrickiana que é o álbum Lateralus. Considerando o crescimento das letras e das músicas que o Tool exibiu entre 1993 e 2001, é uma pena que não tenhamos conseguido acompanhar de perto o progresso deles na última década – período que, julgando pelas apresentações ao vivo mais recentes, pode-se dizer que os quatro integrantes estão no ápice da capacidade musical.
Toda o ritmo deliberado e a abordagem insistentemente old-school da banda – eles nunca disponibilizaram os álbuns nos serviços de streaming ou venderam digitalmente – parece fazer sentido. O som, além das visionárias, meio-sagradas, meio-profanas artes de capa dos projetos, são feitos para serem saboreados como um banquete extravagante, e não como um mero lanche da tarde. Os discos são absurdamente recheados de informação, teias complexas de tempos angulares e poliritmos de torcer o cérebro, presságios e elegância instrumental. Apesar de tudo isso, o vocal dinâmico e emocionalmente nu de Keenan consegue transformar até as faixas mais espinhosas em contagiantes.
Enquanto aguardamos pelo novo álbum, veja abaixo alguns dos sucessos do Tool.
https://youtu.be/RxohtKtWNtw
Fonte: Rolling Stone