“I want to know, have you ever seen the rain”? Sim, é o refrão de um dos maiores clássicos da banda de country rock, Creedence Clearwater Revival, mas, por ironia e capricho da natureza, caiu como uma luva para a apresentação das lendas James Taylor e Elton John na noite do último sábado (01), no Rio de Janeiro, visto a quantidade impressionante de chuva que o São Pedro teimou mandar para os fãs cariocas.
Munidos das mais diversas formas e estratégias para se protegerem do aguaceiro, os cariocas foram recompensados com duas apresentações que variam fácil, fácil entre predicados como sensacional, maravilhoso, incrível e fantástico. Vamos aos fatos…
James Taylor
A noite de festa na Apoteose começou pontualmente às 20h com a elegância, simpatia e talento do gênio musical James Taylor, que sem pestanejar refrescou a memória dos fãs com vários clássicos de sua carreira, que, acredite ou não, já passam dos notórios quarenta anos de atividade. Alicerçado por uma incrível banda, o cantor e violonista desfilou pérolas do folk rock e blues rock do teor de Wandering; Everyday, cover do outro gênio musical, Buddy Holly; Country Road; Only a Dream in Rio e (I’ve Got to) Stop Thinkin’ ‘bout That.
Com o português na ponta da língua, Taylor mostrou uma entrega pouco vista no universo musical, já que a conversa e o bate papo com o público era feito em cada intervalo de música, o que corroborou, e muito, diga-se, para o ótimo clima intimista do show. E o resultado dessa bem quista relação de amizade e afeto com seus fãs, veio sob a arrepiante participação dos fãs em canções como You’ve Got a Friend, cover da cantora e compositora, Carole King; Sweet Baby James; Your Smiling Face e Shed a Little Light, que encerrou a apresentação do norte-americano com chave de ouro.
Em noventa minutos de música, James Taylor mostrou o porquê de ter passado no inexorável teste do tempo, afinal, sua vasta discografia, bem como seu talento ímpar, respaldam o franzino James como um dos mais influentes e estimados músicos da história da música contemporânea.
Elton John
O segundo ato da noite estava sob responsabilidade de outro ás da música contemporânea, afinal, o britânico, Elton John, com seu rock psicodélico fundido ao mais puro rhythm and blues, já passa também dos quarenta anos de bons serviços prestados à primeira arte.
A chuva teimava em participar da festa, então, o que restou ao público fora concordar com a presença do indesejado convidado e dar de ombro aos inconvenientes. E fora fácil esquecer as intempéries do pé-d’água quando o Sir Elton John começou sua apresentação com os acordes da poderosa e imponente, The Bitch Is Back. Sem pausa e direito a respiro, Bennie and the Jets irrompeu a Apoteose com suas melodias mais que convidativas à curtição.
Diferente de James Taylor, Elton John raro se reporta aos fãs, deixando tal responsabilidade para o poderio sonoro de sua robusta discografia. Com isso, temas como a vibrante Rocket Man (I Think It’s Going to Be a Long, Long Time); a dramática e afável Tiny Dancer; a emocionate Don’t Let the Sun go Down on Me, que fora dedicada à memória do saudoso cantor George Michael, e o rock visceral de Your Sister Can’t Twist (But She Can Rock ‘n Roll) garantiram o sorriso largo no rosto dos fãs.
O perfil artístico de Elton é tão especial quanto inestimável, já que está reunida na mesma ‘persona’ a criatividade ilimitada de um surpreendente compositor, a destreza técnica e o virtuosismo do catedrático e, por fim, a performance e representação artística digna aos grandes intérpretes.
E o retrato genuíno de seu peculiar perfil artístico pôde ser testemunhado em músicas como Saturday Night’s Alright for Fighting; Candle in the Wind e no desfecho empolgante com o rock direto de Crocodile Rock, que teve os fãs cariocas cantarolando o pegajoso refrão. Em duas horas de puro rock psicodélico banhado ao mais genuíno rhythm and blues, Elton John mostrou que talento aliado ao virtuosismo, carisma e boas doses de primor são adjetivos homogeneizados a sua carreira.
A chuva bem que tentou tomar o lugar de protagonista da noite, mas James Taylor e Elton John vieram armados com todo poderio sonoro e ótimas apresentações, o que a fez se submeter ao seu lugar de antagonista que tenta, tenta, causar prejuízo aos mocinhos da trama e, no final, se vê renegado ao esquecimento e desprezo. O que restou ao público carioca foi lavar a alma – sem trocadilhos, por favor – pelos dois maravilhosos shows que aportaram na cidade.