É sabido que a música dos americanos do Dream Theater se compromete em trazer ao ouvinte uma musicalidade abrangente, incorporando elementos dos mais variados estilos e origens, mas que sob a batuta do exímio ex-baterista Mike Portnoy e do virtuoso guitarrista John Petrucci – completa, atualmente, a banda James Labrie (vocal); Mike Mangini (bateria); Jordan Rudess (teclado) e John Myung (baixo) – foram talhados de tal forma resultando na legitimada e apreciada identidade musical do grupo.
Além disso, o complexo e criativo conteúdo lírico os diferencia dos temas abordados pela grande parte das bandas que versam sob o mesmo estilo. E uma prova disso é o mais novo registro de estúdio da banda, o álbum The Astonishing, que se personaliza em caráter de uma distopia passada no século 23, no qual a primeira arte passou a ser perpetrada e monopolizada pelas máquinas. No entanto, um grupo de rebelde trabalha para destituir e destronar as mentes por trás de tal alienação e disparate.
E foi para promover a trama de contornos dramáticos que a banda aportou na cidade do Rio de janeiro (Vivo Rio) na noite de ontem, (23) – com apresentação em Belo Horizonte (21/06); São Paulo (22/06) e Curitiba (25/06) –, com a ousada proposta de apresentar na íntegra o novo álbum, totalizando em quase três horas de apresentação dividida em dois atos.
Com belíssima produção e ornamentação de palco com as signas que remetiam à história narrada, postes de luz que se temporizam ao século 1940 e flâmulas com o logotipo da banda espalhados pelo palco, praticável da bateria e teclado davam a ambiência perfeita para exposição da arte do grupo norte-americano. E como se não bastasse, a sábia decisão de aprofundar o público na história com a exibição de um filme trouxe imersão e sinergia do público carioca ao que fora exibido pela banda.
Por se tratar de um enredo e apresentação de complexidade elevada, a ação de nomear e apontar destaques é uma tarefa inglória e injusta, visto que a qualidade, unicidade e atributos superlativos na performance da banda se prolongou por toda apresentação. Mas num ato de irresponsabilidade é fácil ressaltar ótima receptividade a temas como “The Astonishing”, “The Gift of Music”, “A Better Life”, “A Savior in the Square” e “Hymn of a Thousand Voices”.
O público, que compareceu em grande número, foi presentado com uma performance matadora dos cincos músicos, contudo, o virtuose guitarrista John Petrucci puxou em diversos momentos da apresentação os holofotes para si, arrancando efusivos aplausos da plateia. Outro destaque ficou por conta do baterista, Mike Mangini, que cativou sua posição na banda por conta de seus predicados, no entanto, é claro que a desenvoltura, hoje, do músico é bem maior, visto que se sente mais confortável e livre no posto que ocupa, e mais, não devendo nada ao seu antecessor.
O Dream Theater cativou o público carioca com um show complexo e instigante embalado numa história dramática, onde a inteligente decisão de aprofundar os fãs ao enredo por meio de artifícios visuais fora um tiro na mosca. A crítica negativa fica na conta da produção da banda, que atrasou o show em quase quarenta minutos, o que não foi nada legal quando se tem uma sexta-feira de labuta pela frente.