O ano de 2017 ficará guardado na memória afetiva dos fãs brasileiros de som pesado, já que uma demanda avassaladora de grandes bandas internacionais deram as caras pelos lados de cá, onde nenhum fã ficou desamparado, pois, os inúmeros subgêneros do rock e metal como o thrash, death, black, power, hard e classic foram contemplados com grandes artistas e, consequentemente, excepcionais apresentações, ou seja, o ano, em termos de diversidade, fez muito bonito.
Mas para fechar com chave de ouro e colocar a cereja na temporada 2017 seria de bom gosto que uma atração de renome e importância na edificação e identidade do rock n’ roll tivesse tal incumbência, e foi o grupo britânico, Deep Purple, o proclamado a encerrar o período com seu classic rock regado a fortes doses de metal. Todavia, as boas notícias não parariam por aí, visto que o maravilhoso southern rock dos norte-americanos do Lynyrd Skynyrd e o hard rock bonachão do Tesla engrossariam o cast e elevariam o nível de diversão à estratosfera.
Entretanto, por motivo grave e triste, que fora o diagnostico de um linfoma na filha do vocalista Johnny Van Zant, obrigou o Lynyrd Skynyrd a cancelar sua apresentação, cabendo o Cheap Trick a tarefa de substituir e agitar o público brazuca no lugar dos colegas de Jacksonville, Flórida. Então, fora com o Deep Purple, Cheap Trick e Tesla que o cast do Solid Rock estava formado e pronto para oferecer a maior atribuição do rock n’ roll: a diversão.
A estreia em território brasileiro para o Tesla foi positiva e deixou uma ótima impressão do que o grupo é capaz em seu habitat natural, ou seja, no palco. O público que conseguiu chegar a tempo, visto que o trânsito para a Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, em uma sexta-feira, é teste de paciência, pôde assistir algumas pérolas do hard rock oitentista como Modern Day Cowboy; Heaven’s Trail (No Way Out); Lil Suzie; Signs e Love Song. E vale menção honrosa ao ótimo guitarrista Frank Hannon, que extraiu belos solos, timbres e riffs de suas hipnotizantes guitarras gibsons.
Com rápida mudança de palco, o Cheap Trick, que era uma incógnita para grande parte do público, uma vez que sua popularidade é predominantemente concentrada no território norte-americano, trouxe seu classic rock direto e sem firulas ao Solid Rock. O extenso repertório do grupo contemplou hits como I Want You To Want Me; The Flame; Surrender e Hello There e temas novos como Long Time Coming e When I Wake Up Tomorrow. O Cheap Trick, que é formado pelo simpático Rick Nielsen (guitarra e vocal); Robin Zander (vocal e guitarra); Tom Petersson (baixo e vocal) e Daxx Nielsen (bateria), não se intimidou com o público carioca e segurou, tropeçando aqui e acolá, a bronca pesada de substituir o Lynyrd Skynyrd com coragem.
Poucas são as lendas do rock & metal operante e com comichão criativo pronto a servir o presente com novas e boas canções, mas é nessa descrição que o Deep Purple arquiteta sua bem sucedida carreira que beira os cinquenta anos de atividades. E é sob o insinuante nome, Long Goodbye Tour, que o grupo irrompeu a Jeunesse Arena com o hino Highway Star, o que fora, lógico, motivo de sobra para a euforia e agitação dos fãs cariocas.
Com qualidade sonora que beirava a perfeição e imagens ao telão que remetiam o teor de cada canção, músicas como Strange Kind of Woman, Lazy, Perfect Strangers e Space Truckin’ puderam ser apreciadas e contempladas em seus pormenores, o que levou a uma incrível vibração e sinergia entre público e banda. É chover no molhado exaltar a técnica e desenvoltura de Ian Gillan (vocal); Ian Paice (bateria); Roger Glover (baixo); Steve Morse (guitarra) e Don Airey (teclado), visto que o prestígio, brilho e reconhecimento de irrepreensíveis instrumentistas e músicos os correlacionam.
Todavia, seria um desatino, quiçá, uma irresponsabilidade não dedicar especial holofote ao incrível Don Airey, que roubou a cena em uma noite em que todos, sem exceção, eram protagonistas. Don é sinônimo de musicalidade e técnica apurada, e isso ficou claro desde o primeiro acorde proferido pelo músico.
Smoke on the Water, que ostenta, eventualmente, o riff mais famoso do rock n’ roll, ganhou reforço de Rick Nielsen nas seis cordas e, lógico, o público solfejando cada melodia e cantando cada refrão e verso. O bis ficou na responsabilidade de Hush, cover de Joe South, e Black Night que exaltou o quão poderoso e viciante é um riff de guitarra, encerrando em alta frequência o show dos ingleses.
Por mais que o Deep Purple permaneça em palco, o grupo omitirá um ou outro clássico, já que sua discografia do passado e presente preza pelo bom gosto e qualidade, e isso ficou, pois, fundamentado para o público carioca na noite de ontem (15). E como era de se esperar, o Solid Rock arrematou a temporada 2017 com classic/hard rock de primeira e fez a alegria e assegurou a satisfação dos fãs que se dispôs a curtir um espetáculo de quem é um espetáculo.