O prazer de ver um artista ou banda perto de completar os trinta anos de carreira e não se sentir acomodado é admirável e algo raro nos dias de hoje, infelizmente, visto que a maioria usa as muletas do passado para prosseguir aos trancos e barrancos suas respectivas carreiras.
Bem, a banda sueca, Dark Tranquillity está, sim, perto das três décadas, mas longe de usar fórmulas caquéticas e fajutas, tampouco muletas para transitar com sua música nos quatro cantos do planeta. Pelo contrário, o bom serviço prestado ao death metal melódico é a constatação imediata na audição do novo álbum de estúdio, Atoma.
O simpático guitarrista, Niklas Sundin, conversou com o RockBizz e contou um pouco mais sobre o novo disco; o momento atual da banda; a partida do guitarrista, Martin Henriksson, e a cena metálica da Suécia. Então, a ocasião pede uma brännvin e Atoma em alto e bom som para degustar a entrevista a seguir.
Faz vinte e cinco anos que vocês começaram o Dark Tranquillity. Conte um pouco sobre o começo de carreira. Você imaginava que iria começar um novo tipo de som conhecido, agora, como Gothenburg Sound?
Niklas Sundin: Sim e não. Decidimos, desde o início, tentar encontrar um som original e usar a nossa criatividade para criar algo que não soasse como as outras bandas. Demorou um ano ou dois para chegarmos lá, mas sabíamos que estávamos fazendo algo muito diferente. Por outro lado, nunca pensamos que (com a ajuda de outras bandas, claro) criaríamos um novo subgênero de metal, e isso ainda é muito difícil de acreditar.
O que mudou na cena do metal sueco depois que o Dark Tranquillity lançou o álbum Skydancer?
Niklas: Uau! Seria preciso um livro para dar uma boa resposta a esta pergunta (e de fato tiveram alguns lançamentos nos últimos anos sobre o tema). Em resumo, a maior diferença é que a cena de metal (e isso não se aplica apenas à pequena cena de death metal a qual iniciamos) é muito mais imaginária, por assim dizer.
Onde começamos, havia apenas algumas pessoas na Suécia que até sabia sobre a existência do metal underground, e agora é um tipo de música completamente aceita. Bandas de metal conseguem boas posições nas paradas de sucesso e fazem parte da cultura mainstream de uma forma que era impensável no passado, o que é bom e ruim, é claro.
Agora, vocês irão lançar o novo álbum, intitulado Atoma. O que você pode nos dizer sobre o novo disco?
Niklas: Bem, Atoma representa muito trabalho duro e estamos muito orgulhosos dele. A minha melhor descrição é que ele é um pouco mais colorido e diversificado do que os últimos dois ou três álbuns. Além disso, hoje em dia é muito fácil para as pessoas interessadas escutarem as músicas online, então, eu prefiro deixar a música falar por si só.
As coisas eram diferentes há vinte anos, onde se comprava álbuns baseado no que se lia em entrevistas e críticas, mas hoje é muito mais fácil deixar as pessoas escutarem por si mesmas e terem uma impressão “pura” da música.
Eu ouvi Atoma algumas vezes. Cara, já estou viciado! Como fazer um álbum tão maravilhoso mantendo suas influências e adicionando coisas novas?
Niklas: Não sei (risos)! Não há ciência exata por trás disso. Nós apenas fazemos o nosso melhor e levamos muito tempo organizando isso. Nosso filtro de qualidade é muito forte; nós escrevemos um monte de música, e somente os melhores riffs e melodias entram no álbum.
Além disso, todos os membros da banda participam das composições e arranjos, o que ajuda a manter as coisas interessantes e diversificadas. Em minha opinião, bandas com apenas um compositor pode ser um pouco previsível, às vezes.
É errado dizer que Atoma é um dos melhores álbuns do Dark Tranquillity?
Niklas: Isso é totalmente com o ouvinte, mas a maioria dos comentários e opiniões dos fãs parecem dizer que é o nosso melhor álbum há muito tempo. Pessoalmente, eu gosto de pensar que cada álbum é uma documentação do que a banda era em uma determinada época, então, para mim, nenhum álbum é melhor ou pior do que o outro.
Quais portas você acha que o novo álbum abriu para a banda?
Niklas: Este é o nosso 11º álbum e a banda existe há quase trinta anos, então, para ser realista, acredito que, provavelmente, não terá muitas portas novas sendo abertas neste momento. Estamos felizes pela ótima resposta, tanto para o álbum quanto para os shows na atual turnê norte-americana, mas não esperamos um avanço de repente.
Martin Henriksson formou a banda com Mikael Stanne, e de repente Martin deixou a banda no último mês de março. Como você se sente sobre esta situação? A saída dele afetou Atoma de alguma maneira?
Niklas: A saída de Martin nos afetou profundamente! Por vinte e cinco anos tivemos uma formação muito estável, com quatro dos cinco membros originais ainda na banda, então, as mudanças de membros foram pouco comuns.
Devido ao bloqueio e falta de inspiração, Martin não estava compondo muita música nos últimos cinco ou seis anos, então, eu não diria que sua partida afetou Atoma. Mas ele é um ótimo guitarrista e teria feito um ótimo trabalho fazendo parte das gravações.
Em 2014, vocês tocaram em São Paulo. Você se lembra de alguma coisa daquela noite? Tem planos de voltar e tocar as músicas do Atoma para os fãs brasileiros?
Niklas: Tenho boas lembranças do show em São Paulo, era um público muito apaixonado que nos deu uma recepção calorosa. Haverá muitos shows na divulgação de Atoma, e espero que tenha pelo menos um show no Brasil, então vamos esperar o melhor. No momento, não está decidido exatamente quando a turnê sul-americana irá acontecer, mas provavelmente será em 2017.
Obrigado pela entrevista. Gostaria de deixar uma mensagem para os fãs brasileiros e convidá-los para conferir o novo álbum Atoma?
Niklas: Bem, obrigado por ler essa entrevista e pelo apoio em todos esses anos. Cheers!
Colaboração: Marcelo Prudente