Para quem ficou os últimos sessenta anos perambulando pela Via Láctea ou colonizando o planeta vermelho, Marte, provavelmente não sabe que o Black Sabbath criou o heavy metal, gênero musical mais odiado por quem tem ouvidinhos sensíveis, e que seu vocalista original, Ozzy Osbourne, é uma persona sui generis, dotado de uma voz inigualável, carisma muito acima da média, personalidade excêntrica e consideráveis doses de loucura.
Com o Sabbath, o cantor colocou no mercado álbuns caprichados do quilate de Black Sabbath (1970), Paranoid (1970), Master of Reality (1971), Vol. 4 (1972), Sabbath Bloody Sabbath (1973) e Sabotage (1975).
Ao longo desse processo, o talento musical de Osbourne e seus parças – a saber Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) – rivalizaram com os mais diversos abusos de drogas e biritas, que eventualmente cobraram um preço alto e puseram em xeque a criatividade da trupe e, até mesmo, a continuidade da banda.
O combo formado pelos excessos, desânimo, problemas com empresariamento, imaginação em baixa e arranca-rabo entre os músicos trouxe um racha à banda. Ozzy ficou sozinho nesse imbróglio e fora mandado ao RH para assinar a rescisão de contrato em 1979.
Voo solo
Demitido e sem perspectiva, o Príncipe das Trevas foi salvo pela empresária Sharon Arden – futura Senhora Osbourne. Goste ou não da sargentona, concorde ou não com o modus operandi da cruela, a mulher colocou de pé uma bem-sucedida carreira solo ao Madman.
Trabalhos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a Madman (1981), Bark at The Moon (1983), The Ultimate Sin (1986), No Rest for the Wicked (1988), No More Tears (1991) e Ozzmosis (1995) deram uma segunda encarnação à carreira de Osbourne e a reputação de vanguarda na música pesada.
Deu as caras
Com carreira solo acumulando ainda mais sucesso do que outrora, tendo, inclusive, direito à Grammy, Ozzy se tornou uma figura bem-quista por praticamente toda cena rock n’ roll e heavy metal. Dessa forma, muitos grupos e artistas queriam orbitar em torno do comedor de morcego, tê-lo em suas respectivas obras musicais e, claro, abrilhantar e alavancar suas carreiras.
Sendo assim, o eterno Príncipe das Trevas deu as caras nos trabalhos de algumas bandas e amigos de longa data. E são tais participações especiais do vocalista britânico que queremos recordar neste artigo.
Do hard rock ao progressivo, do nu metal ao industrial, Ozzy emprestou seu talento a uma turma da pesada, que você pode conhecer ou recordar nas linhas abaixo.
Iron Head – Rob Zombie
O Spookyman deu o pontapé em sua carreira solo com o incrível Hellbilly Deluxe, em 1998. Então, para o segundo ato, o material teria que estar no mínimo no mesmo patamar.
Ligeiro como poucos, Zombie pediu reforço em The Sinister Urge, e o Madman deu aquela força na pesada Iron Head. A canção é um dos destaques do álbum que ainda conta com Demon Speeding, Feel So Numb e Scum of the Earth.
Hey Stoopid – Alice Cooper
Outro caso de encorpar o trabalho do amiguinho! Em 1989, a tia Alice botou no mercado o mega platinado Trash, logo, o sucessor tinha a responsabilidade de fazer frente ao citado disco. O papa pombo deu uma palhinha na faixa Hey Stoopid, participando também do videoclipe da canção.
Buried Alive – Rick Wakeman
Wakeman e Osbourne são amigos de longa data: a amizade surgiu nos anos 70, quando o Yes e o Sabbath trabalharam em seus respectivos álbuns, mas em um mesmo estúdio. Sendo assim, uma parceria entre os caras seria uma questão de tempo, e rolou no trabalho Return to the Centre of the Earth, de 1999.
A faixa é assentada no rock progressivo e repleta de partes sinfônicas, portanto, é deveras interessante contemplar a voz do Madman sob tais circunstâncias.
Shock the Monkey – Coal Chamber
Em meados da década de 1990, o nu metal/new metal era a sensação do mercado norte-americano, era o estilo de som pesado que dava as cartas e lotava as arenas. Em vista disso, veteranos como Metallica e Ozzy Osbourne, por exemplo, logo uniram forças aos calouros e caíram na estrada numa forma de unir o passado e o então presente.
A família Osbourne foi além, já que Sharon resolveu empresariar um dos nomes do nu metal. O escolhido fora o Coal Chamber, que chegou ao segundo álbum com a participação do Madman no som Shock the Monkey, que é um cover de Peter Gabriel.
I Ain’t No Nice Guy – Motörhead
A amizade entre Ozzy e Lemmy Kilmister começou na década 1970, ficou mais próxima ao longo dos anos 80 e, no comecinhos dos anos 90, a dupla era unha e carne, a ponto de um trabalhar no álbum do outro.
Para o Motörhead, Osbourne emprestou seus dotes vocais em I Ain’t No Nice Guy, que ainda conta com um solo de guitarra de Slash (Guns N’ Roses).
Close My Eyes Forever – Lita Ford
Lita ganhou notoriedade como a guitarrista da banda Runaways, contudo, depois que o quinteto se separou, Ford partiu sozinha em busca de um lugar ao Sol. O começo de sua empreitada solo foi tímido; na verdade, aquém do esperado. A coisa mudou de configuração quando Sharon Osbourne passou a gerenciar sua carreira.
O dueto com Ozzy em Close My Eyes Forever fora um dos frutos do novo gerenciamento, o que garantiu sua sobrevivência no concorrido mercado fonográfico.
Stillborn – Black Label Society
Além de ser dependente da esposa/empresária, o cantor britânico sempre foi submisso ao talento de seus guitarristas, principalmente. Portanto, em 2003, o Madman resolveu quitar sua “dívida” com Zakk Wylde dando o ar da graça em Stillborn, faixa do álbum The Blessed Hellride.
Take What You Want – Post Malone
O negócio aqui é meio estranho, para dizer o mínimo! A tola necessidade de querer se alinhar ao que está em moda pode custar caro, mas o Madman parece não ligar para tal questão e participou da faixa Take What You Want, do rapper Post Malone.
O resultado é, pois, muito aquém de tudo em que o artista colocou a sua voz, então, ouça com restrição, já que enjoo e tontura são alguns dos sintomas ao ouvir demasiadamente o som.