Nos anos 60, o mundo saboreou o puro malte rock inglês; foi uma invasão musical bancada essencialmente por bandas como The Beatles, Rolling Stones, The Who e The Kinks. Ainda que os avanços tecnológicos fossem a conta-gotas, em comparação aos dias atuais, os artistas, bem como seus fiéis escudeiros, os produtores, empreendiam verdadeiras alquimias musicais nos estúdios, forçando, dessa forma, uma bem sacudida nas bases e padrões culturais ingleses e, consequentemente, de outros países.
A porta estava aberta, logo, quem quisesse fazer parte da brincadeira podia chegar, pegar seu banquinho e fazer seu som. O limite era imposto apenas pela criatividade de cada músico e ou banda. Ao final dos anos 60, a Inglaterra, apesar das heranças malditas do pós-guerra que ainda cismavam em pairar no ar, dava um jeito de ser um terreno fértil à cultura.
Talvez a necessidade de ter uma válvula de escape aos inúmeros desafios socioeconômicos vividos no dia a dia, a juventude, que se viu com poucas opções, considerou que uma da melhores opções era se embrenhar em um estúdio para fazer música; assim, uma das consequências diretas era ficar longe de brigas e confusões e, claro, de passar um tempo no chão frio de um xilindró.
Na virada da década, muita gente já investia infinitas horas nos estúdios desenvolvendo novas fusões e cruzamentos musicais. Teve uma turma, por exemplo, que pegou o requinte erudito e o misturou com o rock; outro pessoal preferiu misturar o jazz ao rock e salpicá-los com blues; há quem preferiu aumentar a intensidade do blues e mosqueá-lo com pitadas de ocultismo.
O teor lírico também recebia tratamento de realeza e seguia as mais diferentes abordagens: poéticas, futurísticas, científicas, históricas, etc. Como dito anteriormente, a limitação era imposta apenas pela criatividade de cada indivíduo. As únicas regras vigentes eram: primeira, as canções precisavam soar agradáveis aos ouvidos; e segunda, ter profundidade artística.
Na aurora dos anos 70, o rock progressivo, uma das principais correntes musicais de tal época, seguia os referidos preceitos, à vista disso deixou as trilhas do underground para figurar nas manchetes dos maiores meios de comunicação e, evidentemente, no gosto do público.
Nas linhas a seguir, convidamos você a rememorar 5 destaques do rock progressivo inglês dos anos 70. Cabe frisar que o objetivo não é esgotar a carreira de cada grupo citado, apenas recordá-los e tecer breves comentários sobre tais bandas.
1. Emerson, Lake & Palmer
Um dos pioneiros do rock progressivo, o ELP é sobretudo um supergrupo. E não é daquele tipo de supergrupo fajuto em que se juntam três caras pseudo-famosos que só se escoram nas campanhas de marketing, pois o som reside em quarto ou quinto plano.
O trio era uma máquina muito bem azeitada para compor obras que mereciam – e merecem – o título de geniais. Emerson, Lake and Palmer (1970), Tarkus (1971), Trilogy (1972), Brain Salad Surgery (1973) e os megalomaníacos Works Volume 1 e Works Volume 2 percorrem todos os pontos fortes da troika inglesa.
2. King Crimson
A exemplo do ELP, o King Crimson, que se apoiava na inventividade de músicos como Bill Bruford (bateria) e Robert Fripp (guitarra), recheava suas músicas com letras pautadas em temas profundos como paranoia, surrealismo e sonho. Os ditames instrumentais seguiam as mesmas premissas herméticas das letras.
A cada audição é possível perceber novas nuances e dinâmicas nos trabalhos do grupo, então não tenha a pretensão de esgotar todo o potencial artístico do conjunto; apenas curta sem moderação.
3. Pink Floyd
Nos primeiros álbuns, a música do grupo se impunha como um oásis – água, afinal – àqueles que estavam sedentos por sons lisérgicos que despertavam o lado mais abstrato e metafísico do ser humano.
Depois de certa milhagem, os caras trataram de dosar o mão, assim momentos contemplativos se misturaram a sons mais palatáveis ao grande público. Jogada de mestre, que garantiu presença nas paradas de sucesso e muitos milhões de dólares em suas contas bancárias.
4. Genesis
Salvo suas particularidades sonoras e performáticas, o Genesis seguiu os mesmos passos do Pink Floyd: começou como um conjunto de rock progressivo para os bichos-grilos do estilo. No entanto, com o passar dos anos, provou o saboroso gostinho de figurar nas paradas de sucesso, portanto, tratou de sortir mais seu catálogo, mas jamais nivelando por baixo sua arte.
5. Jethro Tull
O líder da banda Ian Anderson já chegou a afirmar que nunca tocaria guitarra tão bem quanto o saudoso Jimi Hendrix, sendo assim, aderiu a um instrumento que poderia dominar com maestria e o qual seria o maioral do pedaço – no caso fora a flauta.
E foi sob as bases da flauta de Anderson que o Tull ergueu seu império artístico. As intervenções acústicas e o teor medieval se entrelaçaram de forma sublime à proposta dos caras. Qualquer álbum dos anos 70 que o ouvinte escolha para ouvir estará bem servido musicalmente.