O vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson, concedeu uma entrevista para o jornal argentino La Nacion durante sua participação na Campus Party Argentina. Confira!
Você é piloto e treina pilotos, faz música e ainda está envolvido na indústria cervejeira. Como você mescla tudo isso em uma só pessoa?
O segredo está em fazer uma coisa de cada vez. Há uma expressão que se refere a isso como multitarefa; Eu não acredito nisso.
Mas você tem muitas facetas…
Não, eu apenas faço uma coisa de cada vez.
Como você descreveria a si mesmo, então?
É uma questão muito, muito difícil, eu não sei responder. Se eu tivesse um cartão de visita (que eu não tenho) não saberia o que colocar nele. A última coisa que eu pensei que iria colocar é mecânica quântica. Pois poderia ser uma partícula que está em dois lugares ao mesmo tempo. Isso provavelmente é “multitarefa”.
Quando você era adolescente, o que você queria ser?
Quando eu era muito jovem, queria ser o maquinista de uma locomotiva a vapor, pois elas ainda eram usadas. Parecia uma profissão muito nobre. Mas depois que deixaram de usá-las, eu queria ser um astronauta; Eu pensava que era inteligente. E eu acabei sendo um rockstar (risos).
E em que momento você se interessou em aviões?
Bom, o interesse pelos aviões começou quando eu era muito pequeno. Meu padrinho estava em um RF na Segunda Guerra Mundial. Eu sempre estava por perto, e ele me levou para ver shows aéreos e brincar com suas aeronaves; ele era engenheiro, não um piloto.
Eu cresci entre os aviões. Mas eu sempre fui muito ruim em física e matemática na escola. Então eu pensei que não havia nenhuma possibilidade de ser um piloto. Pensei em entrar para o exército, eu passei dois ou três verões da minha infância cavando poços e mergulhando. Então eu fui para a faculdade e consegui um diploma em História Moderna e decidi que não iria me juntar ao exército: Melhor para eles, seria um soldado terrível!
Eu queria ser baterista, mas tive alguns problemas logísticos: eu não podia dirigir automóveis, pois eu não tinha carteira de motorista, e nem carro. Ser baterista era difícil, pois era sempre necessário levar seu instrumento para algum lugar. No fim, eu acabei descobrindo que podia cantar. E no palco eu fazia mais de uma coisa: tocava bateria e fazia teatro. Quando criança, fiz teatro de rua.
Eu acho que a minha aproximação com a música tinha a ver com o que eu queria criar, uma espécie de teatro na mente das pessoas; o Heavy Metal e o Rock fizeram isso em mim. Queria passar para outras pessoas o que eu sentia quando escutava a música.
Mas isso não foi suficiente, porque então começou a fazer outras coisas.
Sim, eu sei. Isso é terrível! Não? Isso soa como se eu fosse um criminoso (risos)
Em qual momento da sua carreira surgiu essa necessidade?
Meu maior problema foi que quando eu tinha 16 ou 17 anos, tinha muitos sonhos… Fazer um álbum, não ser um rockstar, ser um cantor, fazer música e criar grandes ideias para as pessoas. A ideia de estrela do rock é uma idiotice desses realities na TV, Donald Trump faz isso, é um absurdo, é lixo.
Agora você pode se tornar famoso apenas sendo estúpido, mas realmente, as pessoas devem ser famosas por fazer algo, por criar algo real. Isso é o que eu queria fazer, e tinha todos esses sonhos e, obviamente, você tem uma crença completamente irracional de que você terá sucesso, porque se você não acredita, você nunca vai conseguir. Seus pais lhe dizem que você nunca vai conseguir ser um cantor…
Seus pais diziam isso?
Sim claro. E eu disse: o que vocês sabem? Essa é exatamente a resposta certa. Então eu fiz três álbuns com a minha primeira banda e saí em turnê, isso foi quando estava com o Samson. Depois entrei para o Iron Maiden e depois de um ano com eles, aos 21 ou 22 anos, todos os sonhos que tinha foram realizados. E eu pensei, o que eu faço agora? Já tinha um álbum que foi número 1, tinha feito uma turnê mundial, éramos a melhor banda de Heavy Metal do mundo, fui para a América, Japão. Quando eu tinha 17 anos eu não tinha sequer sonhado com isso.
E o que você fez?
Comecei a fazer esgrima para manter minha mente ativa, como tinha feito na escola, tinha habilidade.
Mas em que momento você se tornou um homem de negócios?
Isso veio um pouco mais tarde, mas eu sempre estive interessado. Quando eu estava no Samson, por exemplo, eu me tornei o representante, porque o que tinham não era bom. Então eu fiz isso sozinho. Meu pai era um engenheiro, mas também vendia carros e construía casas.
Essa era a imagem que você tinha…
Não era uma imagem. Não queria ser como ele. Cresci trabalhando com ele, incrivelmente pesado. Aí me dei conta de que não importa o que você faça, tem que trabalhar muito.
Essa é a mensagem que você passa na Campus Party?
Sim, seria uma das mensagens. E tem que fazer uma diferencia na vida das pessoas. Se você quer dar valor ao que faz, tem que se relacionar com as pessoas através do que você faz. Os primeiros computadores, os da Apple, por exemplo, tinham relação com o público. Embora hoje o lançamento dos produtos da Apple seja como o lançamento de uma nova banda de rock, é mais difícil manter essa relação agora, as empresas tornaram-se cada vez maiores. Mas em essência, é preciso estar em contato com o público.
Você está focando em fazer com que os clientes convertam-se em fãs. Como faz isso?
Basicamente é muito fácil converter um fã em um cliente. E isso é algo muito ruim. Quando você cria algo, como a cerveja que criamos, por exemplo, existe um caminho sincero para fazê-lo e que envolve a criação de algo que não é somente um objeto em que você coloca um rótulo e as pessoas compram como uma lembrança, em cinco minutos, só porque é nosso. Deve-se criar uma cerveja genuinamente boa. Que as pessoas reconheçam como uma boa cerveja que tenha vida própria, que o publico seja fanático por ela. Tem que fazer com integridade.
Como você se interessou pela Campus Party?
Interessei-me pela Campus Party uns três anos atrás. Dei uma palestra em um dos eventos em Cali, Colômbia e achei fantástico, a atmosfera foi muito boa. Uma das coisas pelas que as pessoas estavam interessadas em me escutar era… sim, porque eu tinha um lado musical, mas também porque eu estava fazendo coisas relacionadas aos negócios. Era uma forma interessante de me aproximar e falar com estudantes que não tem nenhuma experiência nisso. Eu venho do lado Rock n’ Roll e de outro que para certas pessoas, pode ser chato, como são os problemas econômicos, fazer dinheiro, orçamentos e algo mais importante, lidar com pessoas. A grande mensagem que tento passar é que se isto é sobre tecnologia, na realidade não é assim, é sobre pessoas, como tudo que acontece no mundo. Agora estou lendo este livro sobre uma teoria unificada da história – O Domínio do Ocidente de Ian Morris – mas o que diz aqui é que tudo passa pelas pessoas, sempre é assim.
Você vê potencial em nosso país?
Sim, a Argentina é um país muito inteligente, vocês são inovadores, engenhosos. Tempos difíceis podem ocorrer por muitas razões, incluindo econômica. Eu não quero me envolver na política, mas me parece que todos pensam que a Argentina pode agora realizar todo o seu potencial. Isso é muito bom, porque este é um país enorme que tem muito pela frente. Da América do Sul, é provavelmente o país mais europeu. E eu não quero dizer de uma maneira ruim. Para mim, é óbvio que irá crescer muito rápido.