O Brasil está na rota dos grandes shows internacionais. Se houve tempos em que até os grupos não pertencentes ao mainstream não vinham ao país, receber os maiores nomes mundiais era quase impossível. Foi a partir da terceira edição do Rock In Rio, em 2001,que as portas se abriram, definitivamente. O Iron Maiden, por exemplo, gravou um DVD na citada edição do festival e passou a visitar o país em todas as turnês, e assim aconteceu com o Metallica e tantos outros nomes do metal, rock e pop.
Porto Alegre acabou embarcando nessa onda e recebe quase todos os grandes artistas que vem ao país, mas sempre tem espaço para uma atração inédita. E a noite do último dia 19 foi uma dessas, já que o Bon Jovi, um dos maiores nomes do hard rock de todos os tempos, finalmente fez sua estreia ao público gaúcho. Cheio de hits, montou um set list com músicas de todas as suas fases, tentando agradar as diferentes gerações de fãs.
A chegada ao estádio foi complicada. Cada vez mais popular, os aplicativos de transporte como Uber, Cabify e 99POP foram as principais escolhas, o que ocasionou uma sobrecarga no sistema de embarque e desembarque, trancando os principais acessos ao estádio. Para quem programou chegar com antecedência, certamente não teve problemas, já os que deixaram para a última hora podem ter encontrado dificuldades. Com a situação, chegamos ao estádio com certo atraso e perdemos boa parte do show de abertura.
Responsável pelo aquecimento, a dupla americana, The Kills, subiu ao palco com a simples missão de entreter o público até o show do grande nome da noite. Com 30 minutos de atraso, pudemos conferir metade do show e ver que o público quase não conhecia a banda, assim, aproveitava para se localizar, ir aos banheiros e bares para garantir o souvenir mais desejado dos últimos shows: Os copos personalizados.
Com 10 minutos de antecedência, todas as luzes se apagaram para o prenúncio do que viria. O telão mostrou uma bandeira do Brasil, logo, apareceram imagens de Porto Alegre e luzes que indicavam os caminhos até o Beira Rio. Um lindo trabalho da produção que encerrou com a imagem do estádio e suas luzes vermelhas.
Em um estádio sempre dividido, seja no passado entre maragatos ou ximangos, atualmente é entre gremistas e colorados a divisão. Se o show foi no estádio do Internacional, Bon Jovi logo igualou as coisas ao entrar vestido de azul no palco.
Divulgando seu mais recente trabalho, o grupo abre a apresentação com a faixa-título, This House is Not for Sale. Vale lembrar a separação entre o grupo e o guitarrista Richie Sambora, uma vez que a música possui trechos ácidos e fortes que parecem ser direcionados à questão. Mesmo sendo nova, parte dos presentes mostraram conhecer bem a faixa e, associado à empolgação de início do show, deram uma ótima resposta.
Uma viagem no tempo vem em seguida: Slippery When Wet, álbum de 1986, segue como um dos marcos do hard rock, e foi com Raise Your Hands que o show continuou e teve a primeira grande interação com os público ao ritmo do refrão.
Bon Jovi falou com os presentes pela primeira vez, visivelmente impressionado com o estádio. “Quem construiu este belíssimo local para tocarmos essa noite? É realmente muito lindo”, exclama o cantor. “É a nossa primeira vez aqui em Porto Alegre, ainda vamos para o Rio e São Paulo. Esse país é incrível e as garotas ficam cada vez melhores”, completa Jon Bon Jovi.
Mais uma de Slippery When Wet, o clássico, You Give Love a Bad Name, foi o primeiro grande hit da noite que agitou os fãs. Do disco New Jersey, o hit Born to be my Baby é outro grande momento do show.
Jon Bon Jovi é um show à parte. No alto de seus 55 anos, sendo mais de 30 deles a frente do grupo, o vocalista tem a plateia em sua mão durante toda apresentação. Com muita energia, Jon dança, interage com as câmeras no palco, toca violão, olha para os presentes e tem domínio total, ou seja, um frontman como poucos.
Nos anos 2000, o grupo não conseguiu álbuns tão impactantes como nas décadas de 80 e 90, mas algumas boas canções foram lançadas, sendo Lost Highway e Because We Can algumas delas.
Outra sequência com passagens para o passado. I’ll Sleep When I’m Dead, do álbum Keep the Faith, de 1992. Mas a banda foi além e presenteou os gaúchos com um clássico de 1983, a faixa Runaway. Jon Bon Jovi pede que nos próximos 3 minutos todos fiquem de olho no maior rockstar de todos os tempos: O tecladista David Bryan. O músico, com seus cabelos loiros cacheados, é o responsável por uma das grandes introduções do rock na citada música. Runaway foi um dos momentos mais marcantes da noite, e como o próprio vocalista anunciou: Depois dessa, o resto é história.
“Obrigado Porto Alegre, como estão até agora? Eu diria que nós devemos ir em frente”, dispara Jon, dando a deixa para We got it Goin’ On. Uma pequena pausa, a banda saiu do palco ficando apenas Jon com seu violão. Uma das grandes músicas do grupo, Someday I’ll Be Saturday Night, foi apresentada em versão acústica com uma roupagem bem diferente, deixando o clima bem intimista, o que lembrou o álbum acústico This Left Feels Right.
Aproveitando o clima criado, a épica e dramática Bed of Roses emocionou não só o público, mas o músico. Cabe um parêntese e salientar o sensacional trabalho de produção do show, com um som impecável, iluminação incrível e os telões de alta definição para captar cada detalhe do show, o que colaborou muito para saldo positivo da noite.
Jon Bon Jovi utiliza a passarela que o aproxima do público, e com uma bandeira do Brasil, ele é ovacionado pelos fãs. Do último grande álbum do grupo, Crush, veio o It’s My Life, o que pareceu ser a preferida de muita gente. A boa Have a Nice Day não ficaria de fora, mas Who Says You Can’t Go Home foi a ótima surpresa.
Jon volta a conversar com todos. Fala que o grupo tocará mais uma das novas, mas antes irá apresentar a banda. E, um a um, Bon Jovi apresenta os músicos com destaque para o novo guitarrista, Phil X, que tem a difícil missão de substituir Sambora, mas o faz com muita qualidade, discrição e técnica.
Rollercoaster trouxe imagens no telão de um parque de diversões que lembrou o Pier Santa Mônica, de Los Angeles. E mais um clássico à vista: Wanted Dead or Alive é um dos grandes momentos da carreira do grupo, e foi sensacional assisti-la ao vivo. Outro hit recente e popular, Have a Nice Day funcionou muito bem ao vivo, tendo um belo trabalho da produção do grupo ao veicular no telão o carismático emoji vermelho, capa do álbum.
Keep the Faith ganha ainda mais pujança ao vivo; Bad Medicine, na sequência, ganha ainda mais, sendo o hit responsável por encerrar a primeira parte do show, com Jon Bon Jovi descendo do palco e indo até a pista para cantá-la frente a frente aos fãs e os cumprimentando e repetindo diversas vezes o marcante refrão até ouvir os 40 mil presentes cantando junto.
Com exatas duas horas de show, a banda se despediu rapidamente agradecendo a todos. Três minutos depois, o grupo volta ao palco ao som de “Olê, Olê, Olê…”, e executa In These Arms e a grata surpresa, Blood on Blood, de New Jersey.
Antes de anunciar a última, Jon falou, mais uma vez, com todos: “Brasil, eu quero muito agradecer a todos vocês; vocês estiveram conosco em todos os momentos, em nossos altos e baixos. Eu amo muito, muito, vocês! Muito obrigado!”
Vem a despedida, e se você nunca assistiu a um show do Bon Jovi não sabe como Living on a Prayer é incrível. A música é uma das mais famosas da carreira da banda, é conhecida no mundo inteiro até por quem mal conhece Bon Jovi e rock, em geral. Mas presenciar ela ao vivo é impressionante e indescritível! Tudo funciona: Cada nota, frase e refrão, todo fã de música deveria presenciar esse momento.
Com quase 2h30 de show, a banda se despede de todos, Jon Bon Jovi vai ao chão, exausto, pela grande noite de rock que deu em sua estreia na capital do Rio Grande do Sul.
Se muitos esperavam Always ou I’ll be there for you, o grupo deixou na espera e abriu mão delas. O hard rock é feito de grandes baladas e essas são umas das mais importantes. O show foi sensacional, mas o grupo deixou os presentes com um leve dissabor esperando por essas. Montar um set list com tantos anos de carreira e tanto material de sucesso não é tarefa fácil, mas nada que apague uma das mais históricas noites de Porto Alegre.