Roger Waters guarda em sua memória as horas que antecederam a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Em caravana pelo país com a turnê “Us + Them”, o músico britânico acumulava shows em cinco capitais brasileiras e uma sequência de vaias de apoiadores do candidato quando chegou a Curitiba naquele 27 de outubro de 2018. Um dia depois, Bolsonaro seria consagrado vencedor para comandar o Brasil por quatro anos.
O motivo da reação de parte de seu público eram os protestos encabeçados pelo artista contra o então candidato do PSL, feitos durante as apresentações. Na capital paranaense, não seria diferente. A intervenção daquele dia, contudo, traria uma novidade. “Fui ameaçado de prisão”, relembra ele.
“Disseram que se eu fizesse alguma coisa política no meu show depois das dez da noite, me colocariam na prisão”, afirma Waters, em entrevista à coluna. Sem nomear o seu mensageiro, o fundador do Pink Floyd se refere à norma da legislação eleitoral que restringe a realização de propaganda política a menos de 24 horas da votação.
Logo após a execução do clássico “Welcome to the Machine”, os telões do estádio Couto Pereira exibiram uma mensagem em meio a luzes vermelhas dispostas sobre o palco e o som incômodo de uma microfonia. “São 9:58. Nos disseram que não podemos falar sobre a eleição depois das dez da noite. É lei. Temos 30 segundos. Essa é nossa última chance de resistir ao fascismo antes de domingo. Ele, não!”, dizia o texto. Como uma recapitulação do que havia ocorrido em outras cidades, o público se dividiu entre vaias e aplausos.
Desde então, Roger Waters se manteve um crítico do mandatário, a quem chama de neofascista. “De longe, vi a Covid no Brasil e a bagunça pavorosa que o governo fez disso. Tenho lido muito sobre as coisas que Bolsonaro diz. Ele é um porco fascista convicto, como sabemos.”
Há duas semanas, o músico se uniu a personalidades como o filósofo Noam Chomsky, o ator Danny Glover e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em um manifesto que reivindicou a criação de “um poderoso movimento de solidariedade internacional” em defesa da democracia no Brasil. Mais de 400 signatários já se uniram a eles.
Articulado pelo Washington Brazil Office (WBO), think tank brasileiro e apartidário sediado nos Estados Unidos que vem se mobilizando em defesa das instituições, o texto foi lido publicamente na última quinta-feira (22), em evento realizado na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
“Devemos nos unir em solidariedade a todos no Brasil, pois esperamos que a maioria das pessoas acredite na democracia, no Estado de Direito e nos direitos humanos”, diz Roger Waters, que defende o voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Queremos mostrar nosso desdém absoluto por neofascistas como Bolsonaro.”
Por Mônica Bergamo
Leia a entrevista completa em Folha de São Paulo