Eu pensei em diversas maneiras de iniciar este texto, contextualizando sobre o ambiente e o clima da cidade, a expectativa criada, relembrando um pouco da história do Blind Guardian com Porto Alegre, de sua origem e inovação no power metal, de um Bar Opinião com ingressos esgotados, do trabalho brilhante de produção, mas não tem como ser diferente: Como esta banda envelheceu bem!
Oito anos separaram os alemães desde a última passagem pela cidade, este foi o maior hiato desde a primeira aparição do grupo em Porto Alegre, no distante ano de 2002. De lá para cá foram 4 apresentações, sendo esta a quinta visita do Blind Guardian ao Bar Opinião.
São 21 anos transitando pela cidade e alcançando gerações diferentes durante este período. O público presente mostrou bem esta variação, se alguns estavam lá vendo o grupo pela quinta vez, outros nem eram nascidos quando aconteceu o primeiro show na cidade.
A tour atual tem como tema central o excelente álbum The God Machine, um dos melhores lançamentos de 2022 e, indiscutivelmente, o melhor trabalho do grupo desde Nightfall in Middle-Earth (1998).
E se o trabalho de estúdio foi bom, ver o grupo ao vivo em 2023 é simplesmente incrível. O que Hansi Kürsch (vocal), André Olbrich (guitarra), Marcus Siepen (guitarra) e Frederik Ehmke (bateria) estão fazendo no palco é tão brilhante quanto.
A começar pela surpresa: Se um show é roteirizado com set list igual em todos os lugares, parte do inesperado já se vai, uma vez que acessar set list de qualquer show no mundo hoje é muito simples, aliás, esta foi uma das falas de Hansi.
Enquanto o público tenta adivinhar cada próxima musica baseada no show anterior, ele falou sobre a Internet estragar estas surpresas, e por isso o show seria diferente. Falando em show, vamos a ele.
Pontualmente, às 21h, as luzes se apagaram e começou a intro nos PA’s, um a um os membros do grupo entraram ao palco e começaram a tocar Imaginations From the Other Side para delírio dos quase 2 mil presentes.
Muito interativo, Hansi conversou com o público, falou sobre o longo período sem visitar a cidade e sobre o novo material. Blood of the Elves foi a primeira do disco e foi muito bem recebida. Um dos grandes clássicos, Nightfall, chegou mantendo lá no alto.
A primeira grande surpresa do setlist foi com uma volta ao ano de 1992. Se o álbum Somewhere Far Beyond é sempre lembrado nos shows por causa de the Bard´s Song – In the Forest, aqui ele recebeu outra grande menção com a excelente Ashes to Ashes.
Falando em surpresa, Violent Shadows foi uma inesperada das novas canções a estarem no repertório. Já Skalds and Shadows veio com a responsabilidade de dar uma acalmada, após a primeira parte insana de riffs.
A calmaria durou pouco, visto que Time Stand Still (At the Iron Hill) e a ótima Secrets of the American Gods agitaram novamente o público.
Nesta parte cabe uma observação! Os funcionários do Bar Opinião distribuíram garrafas de água para os fãs que estavam nas primeiras filas da pista, já um reflexo das novas medidas de políticas de shows.
As guitarras saíram do palco e entraram os violões; nesta hora todos sabem o que esperar. Sem segredo, os acordes de The Bard´s Song – In The Forest fizeram a alegria de todos. Eu já havia assistido o Blind Guardian algumas vezes, mas nada se comparou a como foi em 2023.
Um público sedento cantou muito alto cada trecho e verso da música, Hansi nem precisou fazer esforço; apenas observou e admirou a paixão dos fãs pela canção e pelo grupo.
Antes de ir para o bis, mais dois clássicos do grupo: Majesty e Traveler In Time. Sem demorar muito, retornaram ao palco com a longa Sacred World, clara menção ao álbum At the Edge of Time. Outro ponto alto da noite veio com Lord of the Rings e uma resposta tão forte do público que novamente deixou o grupo admirado.
O público então começou a cantar o refrão de Valhalla, ou seja, pedindo pela música, mas novamente surpreendendo os fãs, a banda incluiu uma faixa bônus que não estava prevista no setlist.
Hansi falou com todos e explicou que iriam incluir este som se não se importarem. Born in a Mourning Hall foi a grata surpresa, com ostenta um riff marcante e um refrão melodioso, que foi cantado em uníssono.
Para fechar, mais uma dobradinha de grandes clássicos: A tão esperada e pedida Valhalla com direito a mais de três minutos do público cantando os versos: ‘Valhalla, Deliverance, Why’ve you ever forgotten me’; e para fechar tudo, a pesada Mirror, Mirror!
O Blind Guardian se despediu com a certeza da missão cumprida, um respeito admirável aos seus fãs, uma energia latente e um compromisso gigantesco com o seu papel.
Além de músicos, são profissionais, e isso não é tão comum no mercado fonográfico. Se God Machine mostrava a banda rejuvenescida, a tour vem confirmando isto e criando boas expectativas pelo que o grupo ainda tem a acrescentar na sua longa história no metal.