The End Tour é o nome da última incursão mundial realizada pelo os criadores do heavy metal, o Black Sabbath. A banda, capitaneada pelo o homem de ferro, Tony Iommi, cumpriu, entre os altos e baixos, abusos dos mais diversos matizes, desavenças, brigas judiciais, discos seminais e canções imortalizadas, a tarefa de moldar a música contemporânea a seu rigor, sem concessões, onde o peso da guitarra de Iommi; o vocal anasalado e afiado de Ozzy Osbourne; as letras soturnas e o baixo pujante de Geezer Butler e a bateria “jazzy” de Bill Ward são tônica de sua maravilha arte.
Como não poderia ser diferente, o Brasil recebeu tratamento VIP e se deu ao luxo de embolsar quatro apresentações – Porto Alegre (28/11); Curitiba (30/11); Rio de Janeiro (02/12); São Paulo (04/12) –, e mostrou, mais uma vez, que o público brasileiro tem um apreço para lá de especial por Ozzy & CIA, reunindo exércitos de fanáticos a fim de celebrar as últimas missas negras no país.
O show na capital fluminense, que aconteceu na noite de ontem na Apoteose, pode levar facilmente os predicados como sublime, brilhante e primoroso, no entanto, há mais detalhes nas entrelinhas da apresentação dos britânicos que merecem um registro escrito esmiuçado, visto a grandeza e a marco histórico da última passagem em terras cariocas.
A noite começou sob os acordes da banda californiana, Rival Sons, que mostrou o porquê da adulação recebida pelo público e os padrinhos do Sabbath, visto que seu saboroso classic rock curtido em barril de carvalho abre o baú de preciosidade dos anos 1970, onde o guitarrista Scott Holiday – completa a banda Jay Buchanan (vocal); Michael Miley (bateria); Dave Beste (baixo) e Todd Ögren-Brooks (teclado) – prova que a lição de casa foi feita e aprendida, e dentre os inúmeros frutos é o novo álbum de estúdio, o interessante Hollow Bones.
Com o repertório conciso, porém, empolgante, com canções do teor de Eletric Man; Secret; Keep on Swinging e Fade Out, o Rival Sons trouxe ao público a sensação de estar num pub esfumaçado da cidade de Tennessee (EUA), gozando do bom e velho Jack Daniel’s maturado em barril de carvalho virgem e com o ótimo e bem vindo classic bluesy rock dos norte-americanos como trilha sonora. A percepção é que o Rival Sons tem potencial para ostentar posição de vanguarda no universo da música pesada, entretanto, tal conquista só dependerá da prosperidade do já percebido talento e competência do grupo.
A troca de palco é rápida para que a última missa negra do Sabbath fosse celebrada pelos três originais cavalheiros do apocalipse – completa a banda, na atual encarnação, o competente baterista Tommy Clufetos e o tecladista Adam Wakeman. O telão mostrava cenas de um mundo caótico e pós-apocalíptico, talvez não muito longe do futuro próximo, onde a única forma de vida é o Satanás, e fora, exatamente, o tinhoso que fez surgir o logotipo da banda embebido em chamas dando o pontapé ao culto maléfico dos britânicos em território carioca.
A sinistra Black Sabbath é o canto de entrada; as lisérgicas Fairies Wear Boots e Snowblind são os salmos cantados em ode às loucuras e excessos perpetrados nos anos 1970 pela banda e fãs; a aclamação ao senhor das trevas se encontra nas estrofes e refrãos da empolgante N.I.B.; já Into the Void e Children of the Grave comungam da mesma essência: o peso. O ato penitencial vem com a ácida e crítica War Pigs; a oração eucarística de Iron Man é soberba e convidou a todos cantar de forma uníssona sua melodia, assim como Paranoid é certeira em fechar, de forma energética, a missa negra dos britânicos.
Falar dos predicados de Tony Iommi e Geezer Butler como instrumentistas é redundante e fora de esquadro, visto que suas respectivas qualidades já foram mais do que constatadas nas últimas décadas de bons serviços prestados à música, assim como é supérfluo trazer holofote à persona carismática e hipnotizante de Ozzy Osbourne. Entretanto, é importante ressaltar a bola fora da atual turnê do grupo que é a ausência do baterista Bill Ward, uma vez que o músico é, sim, gene vital para a formação do DNA da banda.
O Black Sabbath se aposenta dos palcos, mas deixa o legado de banda precursora do heavy metal fundamentado por álbuns que são o bê-á-bá do estilo, o que serve de fonte fecunda para as novas gerações se influenciarem e seguirem de forma inequívoca o caminho apontado pelos mestres. Obrigado, Black Sabbath!
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