A década de 1980 foi uma das épocas mais frutíferas para o setor fonográfico, com bandas e estilos musicais surgindo a todo minuto e público sedento pelos materiais que ganhavam as rádios. E mais, os festivais de som pesado como o icônico Monsters of Rock, em Castle Donington, estavam surgindo e obtendo uma importância capital para o setor.
As novidades e os bons ventos não queriam dizer que os medalhões da música estavam fadados ao ostracismo e, consequentemente, ao óbito. Jamais! O Black Sabbath, por exemplo, foi um dos bastiões do som pesado que conseguiu se reinventar no comecinho dos anos 80 e aumentar a abrangência de sua arte com a entrada de Ronnie James Dio; fato facilmente percebido nos seminais Heaven and Hell (1980) e Mob Rules (1981).
Depois da saída de Dio, em 1982, o grupo britânico experimentou uma inconstância em seu lineup e em sua música. Ame ou odeie, mas é inegável que o porto seguro da banda, pelo menos na seara vocal, veio anos depois da saída de Ronnie, com a entrada do incrível e subestimado Tony Martin.
Martin debutou no Sabbath na segunda metade da citada década, no décimo terceiro registro de estúdio da banda, The Eternal Idol. O disco, no entanto, não conta com composições do cantor; ele apenas colocou a voz em músicas escritas e idealizadas pelo big boss, Tony Iommi. O cantor só começou a contribuir criativamente com o grupo no trabalho seguinte, Headless Cross, lançado em 1989.
Para os fãs ortodoxos, Headless Cross, assim como todas as obras assinadas por Martin, é uma perda de tempo que podem ser chamadas de tudo, menos Black Sabbath. Essa miopia musical é mais comum do que se pode aturar, infelizmente, contudo as críticas são facilmente silenciadas com o repertório do espetacular álbum.
Dito isso, vamos elencar cinco razões que tornam Headless Cross um dos melhores álbuns dos anos 80, então, já pode tirar a poeira do vinil ou CD, botar no player e, claro, aumentar o volume pois o som é nada menos que incrível.
1. Iommi & Powel
Se Tony Martin ainda estava em estado probatório por parte dos fãs, Tony Iommi (guitarra) e Cozy Powell (bateria) não tinham que provar nada a ninguém, já que tinham milhagem suficiente para chancelar a qualidade criativa e musical de qualquer projeto que participassem. Portanto, só o simples fato de ser assinado por Iommi e Powel, o disco merece uma grande consideração do público e audições desprovidas de sentimento maliciosos das viúvas de Ozzy Osbourne e Ronnie James Dio.
2. Letras
Nos anos 80, com o rock e metal invadindo o mainstream, a mídia hegemônica e pessoas ociosas como Mary ‘Tipper’ Gore, ex-esposa do ex-senador e ex-vice-presidente do Estados Unidos, Al Gore, fundou o Parents Music Resource Center (PMRC), que fora um comitê para que os pais pudessem ter mais controle sobre o tipo de música consumido pelos jovens.
Assim, álbuns e canções que estavam em desacordo e desalinho com os “bons costumes” da hipócrita sociedade norte-americana receberiam um selo de alerta: Parental Advisory Explicit Content.
Crítica direta ao comitê ou apenas uma feliz coincidência, o teor lírico de Headless Cross é essencialmente voltado ao ocultismo e satanismo, o que deixou muita gente dormindo de luz acesa por um bom tempo.
Logo, vale uma conferida criteriosa nos versos de sons como Devil and Daughter, Call of the Wild e Black Moon. Caso considere pertinente dormir de luz acesa, não se sinta constrangido, não.
3. Brian May
O guitar hero do Queen, Brian May, não é o músico que fica pulando de galho em galho, ou seja, não fica participando de todo e qualquer projeto musical em que é convidado. No entanto, May topou fazer uma participação em HC, e veio sob o solo de When Death Calls. A presença de Brian na canção fora a faísca para uma amizade com Iommi, a qual é conservada até os dias atuais.
4. Música & Capa
É óbvio que a capa de uma obra musical seja a representação gráfica das canções, entretanto, o rock e metal já nos provaram que tal previsibilidade nem sempre é levada ao pé da letra. Portanto, a simbiose entre as músicas e a soturna capa assinada por Kevin Wimlett torna todo o ritual de audição uma experiência mais imersiva e prazerosa.
5. Distorção
O timbre da imponente Gibson SG de Iommi é mais afiada e cortante que uma obsidiana! Na época, porém, alguns guitarristas estavam amansando o som e diminuindo o ganho do amplificador, todavia, Iommi manteve o som cheio e pesado, o que fora um pesadelo para os engravatados que buscavam domesticar e pasteurizar o som do Sabbath. Canções como Nightwing, Kill in the Spirit World e a faixa-título são poderosas e dão de ombros às receitas infalíveis de sucesso musical de quem nunca encostou numa guitarra.