A habilidade de tomar as melhores decisões, seja em qual instância considerar, garante invariavelmente bons resultados e, consequentemente, o êxito, e claro que no mundo do entretenimento tal máxima se empregada também repercute e produz excelentes respostas.
Um ótimo exemplo de decisão bem tomada fora à escalação do lineup do Liberation Fest 2018, tendo na dianteira da festa metálica as bandas Arch Enemy e Kreator, outros grupos como Walls of Jericho, Excel, Shaman e Genocídio figuraram no cast do festival de determinadas cidade – o evento teve (tem) compromisso em Porto Alegre, Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo.
No show realizado ontem, 16, no Circo Voador, Rio de Janeiro, o festival tinha escalado Excel, Walls of Jericho, Kreator e Arch Enemy, no entanto, por intempéries climáticas nos Estados Unidos, a vocalista Candace Kucsulain, do Walls of Jericho, ficou impossibilitada de embarcar para o Brasil, o que gerou o cancelamento da apresentação da banda. Uma pena! Todavia, o evento, que teve lotação quase que absoluta, fora um sucesso e merecedor de predicados para lá de assertivos.
A farra começou com os trabalhos da experiente banda californiana Excel, que defendeu com unhas e dentes seu crossover. Com o thrash e hardcore a flor da pele, sons de seus três álbuns de estúdio: Split Image, The Joke’s on You e Seeking Refuge repercutiram de forma muito favorável entre o público que aplaudia efusivamente ao término de cada canção e pedia, ao fim da apresentação, por mais som. Ficou claro que Dan Clements & Cia garantiu uma janela de oportunidade para futuros shows no Brasil.
A Defesa Civil do Rio de Janeiro terá de fazer uma minuciosa inspeção nas instalações do Circo Voador, já que a maravilhosa devastação sonora imposta pelo Kreator abalou, com certeza, as estruturas da casa de show. Sem piedade alguma, Phantom Antichrist ecoou como uma hecatombe nuclear, já indicando que a apresentações dos alemães não seria nada menos que impecável.
A bandeira da nova turnê do Kreator é o novo álbum, o ótimo Gods of Violence, com isso, novos clássicos forjados a ferro e fogo como Satan is Real, Hail to the Hordes, Gods of Violence e Fallen Brother foram seguidas por incessantes e brutais urros em seus sedutores versos e refrãos, a intensidade fora tamanha que em muitos momentos a toada emitida pelos thrashers era capaz de encobrir o som dos PA’s.
Calma lá, que os fãs old school não ficaram desamparados, não! O show tremeu com a crueza de Pleasure to Kill, Flag of Hate, Phobia, Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite) e Enemy of God que tomaram de assalto à alma dos fãs e afirmaram ser a trilha sonora perfeita para um iminente apocalipse e, claro, para os inúmeros mosh pits e circle pits que tomaram conta da pista.
O Kreator, que é formado por Mille Petrozza (vocal, guitarra); Jürgen “Ventor” Reil (bateria); Sami Yli-Sirniö (guitarra) e Christian Giesler (baixo), está numa fase criativa incrível, dito isso, é fato que o grupo desmitificou, com a atual turnê e o já citado novo álbum, a lenda que apenas os materiais de começo de carreira têm valor e são sinônimos de arroubo entre os fãs.
‘Devagar com o andor, que o santo é de barro’, pode vociferar o fã mais crítico e questionador sobre a afirmação anterior, dando a entender que não é para tanto e é, pois, uma mera bajulação medíocre a favor dos alemães, entretanto, não o é. O público que prestigiou o cataclismo sonoro instituído pelo Kreator está de prova.
Com rápida troca de palco e ornamentado com bandeiras e backdrop com o logotipo do Arch Enemy, o ambiente estava pronto para o grupo aniquilar os ouvidos de seus fãs com a quinta-essência de sua vasta discografia. O terremoto de proporções épicas que abalou solo carioca começou com o trio The World Is Yours, Ravenous e Stolen Life.
Seguindo a premissa e os passos do Kreator, o Arch Enemy goza, também, de um ápice criativo e produtivo em sua carreira, com isso, o resultado está em shows esgotados por onde tem passado, discos encabeçando a lista de mais vendidos e canções na ponta da língua dos fãs.
Muito dessa bonança deve ser creditada à entrada da vocalista Alissa White-Gluz (ex- The Agonist) e do guitarrista Jeff Loomis (ex-Nevermore) – completa a banda Michael Amott (guitarra); Daniel Erlandsson (bateria) e Sharlee D’Angelo (baixo) –, que deram uma bem vinda injeção de adrenalina e elevou, ainda mais, o nível técnico do grupo.
O monstruoso abalo sísmico continuou sem um pingo de compaixão aos ouvidos alheios com temas da nova safra como War Eternal, You Will Know My Name, Avalanche e As the Pages Burn, do álbum War Eternal. Já o mais recente disco Will to Power colaborou com as poderosas First Day in Hell, The Eagle Flies Alone e The Race. Sons mais antigos também tiveram sua chance de brilhar, e para tal a banda escolheu o peso e a energia de Nemesis, We Will Rise e Fields of Desolation.
Em pouco menos de noventa minutos de música que presou pelo equilíbrio entre a técnica apurada, muito peso e melodias e refrãos mais grudentos do que chiclete derretido no asfalto fumegante, o Arch Enemy tratou de demonstrar em seu habitat natural, o palco, o porquê que uma legião de barulhentos, fiéis e calorosos fãs o segue e prestigia sua arte.
Conforme comentado anteriormente, não há mistério, tampouco truque de mágica e ou milagre. Decisões quando tomadas de forma acertada, vão resultar, invariavelmente, em bons frutos. Dessa forma, o Liberation Fest 2018, no Rio de Janeiro, foi um sucesso e já está, sem dúvida, na vanguarda dos eventos dedicados ao som pesado e que volte em 2019 com um lineup tão poderoso quanto o deste ano.