Angra: Hiato pode ser uma boa oportunidade de sair do atoleiro ou continuar a sete palmos do chão

A máquina do rock precisa estar perfeitamente azeitada para rodar em sua plenitude e conceber bons produtos, àqueles que passarão com os pés nas costas pelo implacável teste do tempo. No entanto, quando uma ou mais peças de tais engrenagens mostram desgastes, a coisa começa a desandar e o efeito é invariavelmente infeliz – às vezes é até catastrófico e sem um lampejo de resolução.

A banda brasileira Angra, por exemplo, é o curioso caso em que nunca operou em plenitude, uma vez que problemas com empresário e formação e desastrosos planejamentos – para ficarmos apenas em 3 pontos – nortearam boa parte de sua carreira.

Mesmo assim, aos trancos e barrancos, o quinteto criou obras maravilhosas como Angels Cry (1993), Holy Land (1996), Rebirth (2001) e Temple of Shadows (2004), os quais presentearam os fãs com muitos sons caprichados e em uma linguagem musical diferente das demais bandas de cena brasileira e internacional.

Contudo, o que eram questões pontuais se tornaram atribulações crônicas e prejudicaram o funcionamento da máquina. Basta correr superficialmente os ouvidos em discos deploráveis como Secret Garden (2014), Ømni (2018) e Cycles of Pain (2023) para constatar a pane criativa e o modo piloto automático o qual se chafurdou.

A coisa é tão dramática que vale uma comparação grosseira, mas que ilustrará bem o ponto em que queremos chegar. A Crypta, que é uma banda formada em 2019, colocou no mercado seu segundo álbum, Shades of Sorrow, em agosto de 2023. O Angra, grupo com mais de trinta anos de estrada, ou seja, com mais experiência, lançou seu décimo álbum, o já citado Cycles of Pain, em novembro de 2023.

A Crypta, apenas em 2024, fez três turnês europeias e uma norte-americana para promover o mais recente produto. Sem contar shows em festivais gringos como Resurrection Fest, Summer Breeze e Sweden Rock e apresentações pelo Brasil. Além do mais, há por vir uma tour pela América do Norte com o Hatebreed e outros. As meninas não param!

Já o Angra pouco promoveu o seu novo produto no mercado internacional e doméstico, ou seja, muitas praças não foram contempladas pela então nova tour. A coisa ficou ainda mais confusa com shows acústicos no meio do caminho, o que passou a sensação de querer virar a página da série Cycles of Pain.

Portanto, como uma banda essencialmente nova como a Crypta consegue tocar em “todos os lugares” e um conjunto veterano como o Angra fica a ver navios? É uma das provas que o negócio está colapsando e que decisões erradas no âmbito artístico e empresarial têm sido a tônica dos caras ao longo dos últimos anos.

Recentemente, o quinteto anunciou a Temple of Shadows 20th Anniversary Tour, que é, como o nome já entrega, a celebração das duas décadas do seminal Temple of Shadows; depois disso, os rapazes entrarão em um hiato.

A torcida é que a pausa nas atividades sirva para uma arrumação geral da máquina Angra! Do frontman ao atual estilo sonoro, que é no presente um pastiche borrado do insosso Dream Theater, tudo precisa de uma retifica. Fabio Lione pode ser o cara certo para o Rhapsody of Fire e para bandas que fazem turnês pela Terra Media, todavia, para o Angra, o gringo fica mais perdido do que uma freira em lua-de-mel.

Logo, os societários da empresa, caso desejem vingar no mercado fonográfico, deverão agir dedicadamente para que a banda possa ressurgir das cinzas, visto que, do jeito em que está, repousará a sete palmos do chão e sem um pingo de chance de redenção.

Um adendo aos Angretes, que se melindram e choram desmedidamente com qualquer crítica ao grupo. O espaço aqui me concedido pela empresa RockBizz tem como única incondicionalidade o apoio ao rock n’ roll e todas as suas quase infinitas vertentes, não aos músicos, aos rock stars, se preferirem, uma vez que queremos conservar, pois, o livre critério de crítica com a intenção de consolidar um ambiente autônomo à comunicação, isto é, sem as pressões de atores do mercado fonográfico e passando longe da complacência de alguns veículos de imprensa.

Não promovemos ídolos, tampouco celebridades instantâneas e meramente comerciais para satisfazer uma parcela do público. Vamos criticar quando acharmos pertinente e vamos elogiar também se assim julgarmos cabível.

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