Angra Fest: Shows emocionantes impressionam público gaúcho

Os festivais de metal são raros no país! Uma tentativa aqui e outra ali, mas nenhum consegue criar a tradição necessária que outros estilos de música conseguem. Ultimamente, bandas têm realizado seus festivais como o Slipknot, que segue uma ideia nascida décadas atrás com o Ozzfest. O Angra fez algumas vezes o seu Angra Fest, ao longo dos últimos anos. Em 2023, o festival chega pela primeira vez a Porto Alegre, com o Viper e Matanza Ritual. O evento aconteceu no palco do Araújo Viana.

Viper

A história do power metal brasileiro passa pelo Viper. O grupo liderado por André Matos fez sucesso nos anos 80, especialmente com os álbuns Soldiers of Sunrise (1987) e Theater of Fate (1989). Entre muitas mudanças de formação, tendo passado por uma tour de reunião com André nos anos 2010, o grupo se juntou ao Angra nessa edição do Angra Fest. Atualmente com Leandro Caçoilo (ex-Eterna) nos vocais, o grupo vem buscando retomar o espaço que um dia tiveram no metal nacional.

Às 18h35, o grupo sobe ao palco com Under the Sun, um dos trabalhos mais recentes do grupo. A segunda é o clássico Knights of Destruction e é seguida de A Cry From the Edge. Então, vem duas da fase pós-André em sequência: Revolution e a quase punk Coma Rage. Pit conversa com o público gaúcho, parabeniza a cidade pelo aniversário; Leandro faz a mesma coisa, citando os 251 anos da capital gaúcha e falando sobre o último show dessa tour. Agradecem o público, equipe e produtoras pela realização desses shows.

To Live Again vem na sequência, animando a plateia com outro clássico da primeira fase. Uma das favoritas de Pit, segundo Leandro, vem na sequência e é Prelude to Oblivion. O telão de fundo mostra uma imagem do maestro André Matos e é impossível não se emocionar. Ao fim da música, um fã levanta uma camiseta de André e Leandro aproveita para dedicar a próxima a ele, pedindo também que o público ajude cantando junto.

O clássico Living for the Night é cantado em uníssono por todos em formato a capela, com todos largando seus instrumentos e indo à beira do palco, no refrão a banda volta aos seus lugares. Para encerrar, outra de Evolution: Rebel Maniac. A banda é toda apresentada durante a execução.  Aos gritos de “olê, olê olê olê, Viper, Viper”, o grupo ainda toca o clássico We Will Rock You, do Queen, em uma versão pesada e veloz. Às 19h30, o grupo sai do palco muito aplaudido pelo bom público que conferiu a abertura.

Matanza Ritual

Com Jimmy London à frente, é outro grupo que passou por uma separação, tendo acrescido Ritual em seu nome. A banda foi um estrondoso sucesso nos anos 2000, com hits na MTV e aparições nos principais canais de comunicação do país. Foi o grupo de rock mais bem-sucedido do Brasil em muito tempo e seus hits falando sobre bebidas, brigas e mulheres lotavam os shows da banda em todos os lugares. Em 2018, veio a separação e hoje temos o Matanza Inc. sem Jimmy e o Matanza Ritual com Jimmy.

Às 19h55, a trilha de 2001: Uma Odisseia no Espaço ecoa pelo auditório enquanto o grupo vai assumindo seus lugares no palco. O chamado do Bar é a música escolhida para abrir o show. Meio psicopata, Remédios Demais e A Arte do Insulto seguiram sem intervalos. Bom é Quando Faz Mal é um convite a todos para irem à rua, de referência ao Araújo Viana nessa noite.

Jimmy fala com os presentes: “Porto Alegre, eu ia falar uma coisa rude e pouco educada, mas fiquei sabendo que era aniversário de Porto Alegre, então eu trouxe um presente para a cidade. Por que que ninguém sorri em Porto Alegre? É aqui que ninguém gosta de ninguém”? Eu Não Gosto de Ninguém, mais atual do que nunca, é cantada por todos. O grupo vai revisitando a carreira com Tudo Errado , O Que Está Feito, Está Feito e O Último Bar.

“Todos os presentes aqui essa noite fazem parte de um clube? Que tipo de clube poderiam fazer parte? O que será que une todas as pessoas que vieram nessa noite de comemoração. Será um tipo de associação, escola de samba, sindicato. Eu pergunto que tipo de clube estamos falando, de um clube muito especial, o clube dos… “, pergunta Jimmy, e o público responde alto: “canalhas!”. Clube dos Canalhas abre a nova trinca seguida de Country Core Funeral e Carvão, Enxofre e Salitre.

Outra das antigas e já identificada pelo público em seu primeiro riff é Pé na Porta E Soco na Cara. Jimmy apresenta o baterista Amílcar Christófaro, como um dos embaixadores do metal no país. Amílcar é conhecido por seu excelente trabalho no Torture Squad. Jimmy, inclusive, fez o show com a camiseta da banda. Amílcar faz um breve solo antes de começar Tempo Ruim, seguida de Mulher Diabo e Conforme Disseram as Vozes. A sequência final começa com Mesa de Saloon; a ótima Todo Ódio da Vingança de Jack Buffalo Head; o hit Ela Roubou Meu Caminhão e a veloz Interceptor V6, encerrando o show pontualmente às 21h.

Angra

Acompanhar shows do Angra é uma constante na minha vida, há mais de 20 anos me faço presente em praticamente todos os shows da banda na cidade. Em 2022, na tour de 20 anos de Rebirth, o Angra fez um show morno e sem tanto compromisso (confira o review aqui), então a expectativa maior era ver a postura da banda dessa vez, sendo a headliner de seu próprio festival e com um set list bem mais variado sem focar em Rebirth.

Às 21h27, começa tocar Tom Sawyer, clássico do Rush. É com ela que o telão é recolhido e as luzes se apagam, hora da grande estrela da noite. Sem lançar material inédito desde 2018, a tradicional abertura com a primeira faixa do álbum mais recente fica de lado, cabendo a Newborn Me, de Secret Garden, a missão de começar tudo. A animação do telão com trechos da música e material promocional da época, que ainda contava com Kiko Loureiro na guitarra, se faz presente. Felipe Andreolli e Rafael Bitencourt mostram todo seu virtuosismo de imediato; Fábio Lione fica confortável em um palco grande e a altura do espetáculo. Marcelo Barbosa e Bruno Valverde completam o quinteto.

Nothing To Say vem sem qualquer aviso e leva o público a loucura! Se o Viper iniciou as citações a André Matos, impossível não relembrar de seus agudos nessa canção. Seguindo com sons antigos, a apresentação vem com Angels Cry, do primeiro álbum da banda. Travellers Of Time, do excelente Omni, traz a primeira do último trabalho de estúdio da banda. Lisbon, de Fireworks, faz o público entoar as partes iniciais em coro e acompanhar Lione com palmas. Rafael dá um show no solo, enquanto isso Lione interage com o público e traz todos para acompanhar.

A primeira faixa da era Falaschi a aparecer foi Ego Painted Gray, canção do controverso Aurora Consurgens. Lione diz que gosta muito dessa música e não sabe porque não fazia parte do set list regular do grupo. O cantor anuncia uma de Temple of Shadows, com partes em português e inglês, falando que o italiano ia tentar as partes em português. Late Redemption então é anunciada. A faixa, que conta com ninguém menos que Milton Nascimento em sua versão original, é uma das marcantes do grupo.

“Agora eu preciso escutar suas vozes, estão cansados? Vamos ver”, diz Lione. Mostrando um grave potente, além dos agudos, Fábio brinca com a plateia e é aplaudido por todos. Outro grande clássico: Rebirth. A balada tem mais de 20 anos e é sempre emocionalmente presenciar ao vivo.

Os gritos de “Olê, olê olê, olá, Angra, Angra” são interrompidos pelos pesados riffs de Winds of Destination, outra de Temple of Shadows. O álbum Aqua também é lembrado em Lease of Life. Voltando a Omni, a bem sucedida Black Widow’s Web é muito bem recebida por todos. Lione ao anunciar fala que a faixa foi gravada com a Sandy e Alissa, do Arch Enemy. Rafael faz as vozes de abertura originalmente gravadas por Sandy. Os guturais de Alissa são feito por Lione que mostrou toda a potência e variação vocal que possui. O vocalista volta a interagir com o público fazendo todos repetirem suas linhas. Mais uma vez mostra o seu alcance em notas altas e baixas.

Rafael volta ao palco, dessa vez sozinho, com seu violão e um banquinho. Conversa com o público, falando sobre ser a primeira vez da banda no Araújo Viana e sobre a última data do Angra Fest. O músico pergunta sobre quem está vendo a banda pela primeira vez e um número expressivo de pessoas se manifesta. Ele agradece pela oportunidade e inicia uma série acústica com a música mais antiga da banda, Reaching Horizons. Outra grata surpresa e um dos mais marcantes momentos da noite.

O guitarrista dedica o show a todos os membros que já passaram pela banda, falando que tem o sangue, a dedicação e o suor de muitos deles. Fala sobre o integrante especial que não está mais entre nós e que, sem ele, não existiria o Angra. Chama Fábio ao palco que também fala sobre André, que conheceu ele antes de Rafael e Kiko, na Itália. Make Believe então é tocada. A versão intimista é emocionante e tocou a todos.

Se no texto anterior eu fiz críticas sobre a postura da banda no palco e como ela soava um tributo dela mesmo e sem liderança, o que se viu nessa noite foi muito diferente. Rafael assumiu sua posição, marcou a presença e liderou a noite. Falando mais uma vez sobre as bandas do Angra Fest e as viagens que estão fazendo juntos.

Cada música representa uma fase da banda, falou sobre Newborn Me ser o último álbum com Kiko Loureiro antes de se juntar ao Megadeth. Se a preocupação tomava conta, Rafael agradeceu por ter encontrado Marcelo Barbosa. Apresenta também o baterista Bruno Valverde. Para completar, apresenta Felipe Andreolli, um dos mais antigos da banda.

Lione assume a palavra e fala sobre a música, como ela toca o coração das pessoas e como nasce do coração. Apresenta Rafael Bitencourt como o coração das composições do grupo. A música volta com Waiting Silence, mais uma de Temple of Shadows. A música tem uma das linhas de baixo mais marcantes do grupo e Felipe usa e abusa da potência de suas cordas.

O grupo interpreta Parabéns pra Você em homenagem ao aniversário da cidade e em seguida Bleeding Heart, mais uma cantada por todos. Na sequência, Magic Mirror para encerrar essa parte do show. Dois minutos de silêncio e Unfinished Allegro anuncia o retorno de todos com Carry On, sem tempo de respiro; Nova Era é emendada para delírio de todos.

Para encerrar, chamam membros da equipe e outras bandas para uma jam especial e tocam Wasted Years, do Iron Maiden. A sensação final é de alívio! Ver o Angra agindo como a banda gigante que é e em um palco a altura e com a atitude que se espera. Que venham outros, que venha mais material e shows sempre com surpresas e novidades.

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