O vocalista Edu Falaschi, ex-Angra, respondeu a uma série de perguntas feitas pelo guitarrista e líder da banda, Rafael Bittencourt, em uma entrevista conduzida pelo ex-empresário do grupo, Paulo Baron, no canal de Regis Tadeu no YouTube. As declarações foram transcritas pelo Whiplash, com sutis adaptações para o texto escrito.
As perguntas foram lidas por Paulo Baron para Edu Falaschi, que respondia em seguida. Em uma delas, Rafael Bittencourt questionou: “Eu, Rafael, me senti desrespeitado quando você fraudou o Ecad, requerendo a liberação do recolhimento autoral em 9 de seus shows durante a turnê do ‘Temple of Shadows’ (nota do editor: ao que tudo indica, refere-se à recente turnê solo de Edu Falaschi tocando músicas do álbum ‘Temple of Shadows’, lançado pelo Angra em 2004). Aparentemente, você entregou ao Ecad uma lista de músicas que não eram do ‘Temple of Shadows’. Por que você fez isso?”.
Ecad é uma sigla para o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, associação responsável por recolher e distribuir os direitos autorais das músicas a seus autores. Em uma de suas funções, a organização cobra valores dos responsáveis por realizar apresentações ao vivo no que diz respeito às canções que são tocadas em tais eventos. O dinheiro é revertido a quem criou tais obras.
“Não faço ideia do que ele está falando”, respondeu Edu Falaschi, inicialmente. “Eu não faço o cadastro de Ecad, nem pago. A impressão que dá é: ‘vou tentar queimar o Edu’. Tenho todos os contratos, posso mostrar, dizendo: ‘o Ecad é pago e produzido pelo contratante, que é o produtor de evento local, e pela casa de shows”, completou.
O vocalista afirmou que o Angra “é uma banda difícil, visto a atitude do Rafael de mandar uma notificação extrajudicial para um amigo”. Falaschi se refere à situação em que o guitarrista enviou uma notificação extrajudicial – ou seja, fora do âmbito jurídico – para resolver sobre o nome de uma turnê solo do cantor. A tour, chamada originalmente “The Angra Years”, tornou-se “Rebirth of Shadows”.
“Sabendo disso, quando comecei minha carreira solo, e sabendo que iria cantar músicas de todos nós, todos os cuidados para ser 100% correto foram tomados. Não posso responder por um erro de terceiro. Se tiver algum erro de Ecad, provavelmente, nem estou sabendo. Não sou eu que cuido. Eu canto e vou embora”, declarou.
Em seguida, Edu Falaschi afirmou que sente-se triste com a situação e revelou que o Angra tem uma dívida de quase R$ 40 mil com ele, relacionada a direitos digitais. “Triste chegar a esse ponto. Eu não preciso disso, graças a Deus. Existe uma dívida real, o Angra – o Rafael, que é o representante – me deve mais de R$ 35 mil de direitos digitais. Quase R$ 40 mil, arredondando hoje em dia. Nunca foi pago. Sabe o que eu fiz contra isso? Em quantas lives fui falar? Quantos advogados e notificações? Zero”, disse.
A situação, de acordo com Falaschi, está sendo resolvida apenas nos últimos tempos, mas os valores oferecidos, segundo ele, não seriam adequados. “Agora que meu empresário está negociando para ver se o valor é isso mesmo, pois eles querem pagar uma porcentagem de quando entrei para o Angra. Nem advogado coloquei no meio. Meu empresário disse que estão usando uma base de cálculo de quando você entrou para o Angra, de quando não era conhecido. Hoje em dia, essas músicas vendem no streaming muito diferentemente da época em que eu entrei. Mesmo assim, falei para meu empresário ver o que fica bom para todo mundo. Não quero treta”, afirmou.
O baterista Aquiles Priester também teria o mesmo valor a receber do Angra, conforme dito por Falaschi. “Os caras me devem uma grana preta, perto de R$ 40 mil, de um direito digital que não poderia ter colocado sem eu autorizar. Assim como o Aquiles, pois devem R$ 40 mil para ele também. O dinheiro desse digital, que foram milhares e milhares de dólares, já foi sacado e usado para coisas do Angra, pelo que eu soube”, disse.
Apesar disso, o vocalista garantiu que, até então, nunca havia comentado sobre esse assunto em entrevistas – mesmo sendo um valor maior do que o de um possível problema com o Ecad. “Nunca reclamei, nunca fui na mídia falar. É triste ter que falar isso, pois ele está fazendo essas acusações. Se eu tiver que fazer uma pergunta, vai essa: ‘por que nunca me pagaram nada?’. O cara fala de Ecad… vamos supor que teve algum problema de Ecad, de algum produtor que não fez, ou colocou música errada. Estamos falando de R$ 150, R$ 300, R$ 1 mil se for um show grande. Já eu estou falando de R$ 40 mil. E eu cobrei zero vezes. Como tínhamos uma parceria, sempre fazendo coisas juntos, nunca fui para cima de nada”, disse.
“Quando eu cantava no boteco para 100 pessoas, ninguém me procurava”
Em outro momento, Edu Falaschi apontou que conseguiu superar seus problemas nos últimos anos e está em um bom momento de sua trajetória na música. O cantor disse que as insinuações feitas por Rafael Bittencourt têm a ver com o período atual vivenciado por ele na carreira.
“Graças a Deus, não preciso do Rafael ou do Angra, nem de nada. Eu me virei sozinho. Com problema de voz, minha mãe faleceu, mil problemas. Fui lá, sozinho, e me reergui. Quando eu estava tocando para 100, 200 pessoas no boteco, ninguém me procurava para perguntar de Ecad. E eu já cantava Angra. Agora que estou fazendo sucesso, com um DVD lindo que eu dei para o fã, é fácil, né? Eu entendi por que, agora, vieram essas insinuações. Não vou comentar. Todos já entenderam. Não tenho medo, não devo nada a ninguém e pode fazer o que quiser que não vai achar nada. Não fiz nada errado”, afirmou.
Falaschi também declarou que a dívida de aproximadamente R$ 40 mil em direitos digitais não é a única relacionada a seus tempos de Angra. “Não tem só essa dívida, mas essa é uma das principais. Está lá a minha música no canal do Angra, há anos, tocando e vendendo, e eu nunca recebi um centavo. E nunca reclamei, nem fui na mídia. É triste”, disse.
A entrevista pode ser assistida, na integra, no player de vídeo a seguir:
Por Igor Miranda
Fonte: Whiplash