Andre Matos: A voz do metal brasileiro

Equiparar a arte de fazer música ao jogo de xadrez pode ser uma analogia fria e, talvez, sem fundamento, afinal, o primeiro prioriza as emoções e segundo detém o foco nas questões analíticas.

Todavia, tanto o cenário musical quanto o estratégico do xadrez tomam as precauções de terem consigo suas respectivas peças chaves, as quais em um estalar de dedos conseguem mudar todo um cenário.

Pensar no cenário metálico brasileiro e suas principais figuras – ou peças fundamentais – vêm fácil, fácil à cabeça o nome Andre Matos e toda sua obra que faz do heavy metal nacional não uma unanimidade por excelência, mas uma prova que, com muito comprometimento, talento e com a máxima de fale menos e faça mais, se constrói uma carreira de sucesso.

Os discos seminais que o vocalista lançou como Theatre of Fate (Viper), Angels Cry e Holy Land (Angra) e Ritual (Shaman) atestam tal ideia.

E para saber mais da reunião com a banda Viper, disco novo, carreira solo, ópera rock Tommy e outros pormenores de sua carreira, batemos um papo com o simpático, Andre. Então, caro amigo, pode abrir a sua gelada e aumentar o som porque o bate-papo é dos bons.

Parece que o ano de 2012 reserva boas surpresas aos seus fãs antigos com a turnê To Live Again Tour, rememorando seu tempo com a banda Viper. Conte-nos um pouco mais dessa história de reavivar a época do Viper?

Andre Matos: Bem, essa foi uma ideia que nós, ex-membros do Viper, os remanescentes da formação original, tivemos, pois, independente das nossas carreiras e tudo que ocorreu ao longo dos anos, nós nos mantivemos amigos, vizinhos de bairro, em São Paulo.

Ou seja, volta e meia nós nos encontrávamos para bater papo e sempre voltava à tona essa ideia de fazer alguma coisa comemorativa, fazer algo para valer.

Há uma fase anterior em que o Viper voltou com outro vocalista, o Ricardo Bocci, que era um excelente cantor, e lançou o disco de inéditas, All My Life, cujo álbum eu participei e realizei alguns shows como convidado.

Com isso, o Viper estava em outra etapa com o vocalista próprio, e eu super focado na minha banda solo; logo, a reunião com a banda não se faria possível.

Mas eu sabia que passaria um período no Brasil, porque não estou morando o tempo todo aqui, e voltaria ao país para turnês da banda solo e para a gravação do novo disco, cujo processo começará em breve.

Com isso, eu teria essa disponibilidade e coincidiu de encontrar com o pessoal do Viper. Aliás, quem levantou muito essa questão da reunião foi o pessoal do site Wikimetal, porque são nossos amigos há muitos anos, desde o começo da banda.

Eu me lembro que cada um dos integrantes foi entrevistado um por vez; nessas entrevistas se via muito claramente que havia em cada um a vontade de voltar trabalhar novamente juntos, mas a questão era: vontade nós temos, no entanto, não sabemos quando e como.

E foi questão de alguns meses atrás que nos encontramos e veio a ideia definitiva de fazer a reunião com todos os membros originais, inclusive com o Yves Passarel.

Mas o Yves não é membro do Capital Inicial?

Andre: Sim! Ele está no Capital há dez anos e a banda tem uma agenda fixa com shows marcados pelo ano inteiro, então, nessa reunião ele colocou para a gente: ‘Quero muito participar por uma questão de amizade e afinidade, mas não poderei participar de todos os shows, porque tenho compromissos marcados há mais de seis meses e não posso faltar’.

São 22 anos que separam o artista Andre Matos e a banda Viper.  Nesse ínterim, com certeza, ambas carreiras passaram por inevitáveis processos de amadurecimento.

Você acredita que esse fator tempo será facilitador, no sentido de algo como calçar aqueles confortáveis pares de chinelos, ou será algo que exigirá mais cautela, afinal, são carreiras com respostas e vivências diferentes?

Andre: Com certeza será como colocar um par de chinelos antigo! Eu me mantive mais ativo na cena, mas, honestamente, entre nós não há problema quanto a isso, mesmo que, eventualmente, eu tenha alcançado uma projeção maior fora do Viper; não irá interferir em nada. E mais, naquela época era muito difícil alcançar uma projeção desse tipo. Nós fomos um dos pioneiros.

O que prevaleceu de tudo isso foi a nossa amizade. Nós nos gostamos muito, de verdade. E nos ficou muito claro quando entramos no estúdio para ensaiar pela primeira vez. Eu, por exemplo, não sabia o que esperar, mas me surpreendi positivamente ver os caras tocando.

E há uma coisa que costumo responder em entrevista quando me perguntam qual o período da minha carreira que mais gosto e ou tenho boas memórias, eu sempre digo: foi o período com o Viper.

Mesmo com o estrelato da sua carreira com Angra e os álbuns Angels Cry e Holy Land?

Andre: Sim! O Angra foi pontuado pelo profissionalismo. O Viper era tudo na raça! Nós pegávamos ônibus de linha carregando instrumentos nas costas para tocar na periferia ou onde havia espaço, e quem viveu isso nunca esquece, então, eu dou muito valor a essas coisas.

Nós fazíamos música por amor, pelo romantismo de fazer heavy metal num país recém saído da ditadura militar, onde nada era permitido, por isso essas experiências foram tão interessantes e marcantes para cada um de nós.

Essa volta não vai se basear somente no saudosismo e nostalgia, afinal, somos pessoas diferentes hoje em dia que evoluíram de uma forma ou de outra, portanto, a ideia não é tentar imitar o que éramos há vinte anos, mas, sim, resgatar um pouco daquela essência.

E mesmo com experiências e vivências diferentes, quando nos juntamos no estúdio para tocar, a fraternidade continuou existindo.

O projeto tem como força motriz a execução dos álbuns Soldiers of Sunrise e Theatre of Fate.  Ambos são discos relativamente pequenos, que juntos totalizam algo perto de um concerto de uma hora e meia. Vocês planejam incluir outro material ou talvez uma música nova?

Andre: Nós estamos preparando algumas outras coisas, mas nada inédito. Não foi composto nada inédito e isso, teoricamente, seria uma segunda etapa do trabalho que nós não planejamos ainda.

Nós vamos fazer uma turnê comemorativa que vai durar um mês e meio, ou seja, começa e termina aí.

Como se fosse evento único! Haverá uma continuação disso? Isso depende de inúmeros fatores e nós não queremos dar o passo maior que as pernas prometendo mil coisas agora, porque o que temos de concreto é essa turnê com começo, meio e fim.

Além disso, vou me dedicar exclusivamente à minha carreira solo, porque já estou gravando o disco novo, e a partir de agosto ou setembro já estarei em turnê com a carreira solo, então, para aqueles que pensam: o Viper vai continuar agora? Não! É uma coisa pontal.

Que atribuição de valor e responsabilidade você agrega a ambos os discos na formação do cenário metálico brasileiro?

Andre: Eu não quero puxar a sardinha para nossa brasa dizendo que nós éramos os únicos, porque não os fomos. Antes de nós, o pessoal do Stress, Dorsal Atlântica, Sepultura, Vulcano, Santuário, Centúria, Salário Mínimo, etc, já tinham lançado seus discos, e essas bandas que devem ser lembradas e veneradas por quem se interessa pela origem do movimento.

A diferença é que nós começamos com uma idade tenra, vamos dizer assim. Eu comecei com treze para catorze anos; o Pity tinha quinze, ou seja, todo mundo variando entre catorze a dezesseis. Éramos garotos querendo fazer musica, querendo fazer metal.

O primeiro show foi o que pegou fogo?

Andre: O primeiro show foi em 1985, e não foi esse que pegou fogo, não. Esse foi mais tarde em 1988 ou 1989. Eu já tinha feito o número com a tocha várias vezes e nunca tinha pegado fogo, mas é aquela história: o cara que se afoga é o que sabe nadar bem! Depois daquele episódio nunca mais. Mas tem um pessoal que ainda espera esse número nos novos shows (risos).

Mesmo colocando fogo no palco e a pouca idade vocês compartilharam todo o movimento heavy metal da época.

Andre: (risos) Soldiers of Sunrire foi lançado em 1987, e não deixa de ser um dos pioneiros do estilo. Já o Theatre of Fate, de 1989, foi um marco, porque foi um dos primeiros discos nacionais com uma produção internacional, e lógico que há de dar crédito a isso, afinal, veio um renomado produtor inglês para gravar o álbum.

O disco foi gravado num estúdio, que não existe mais, que era da BMG/RCA, em São Paulo, e que tinha um equipamento absurdo, tanto que o som daquele disco é atual e as músicas são maravilhosas.

Eu sou suspeito para falar, mas acho as canções tão incríveis que falam por si só. Esse álbum é o caso de estar na hora certa e no lugar certo.

Com o Viper e Shaman você lançou dois álbuns de estúdio e com o Angra um pouquinho mais: três discos de estúdio. Por que dessa inquietação?

Andre: Vou ser muito sincero com você: funciona enquanto há clima e sincronicidade na banda, e se em algum momento isso é atrapalhado ou cessado, o desenrolar são as brigas de egos e coisas do gênero.

E para mim isso não funciona. Eu não sou o tipo de cara que topa subir no palco com uma pessoa a qual não estou me dando bem ou não falo, estar lá apenas pelo negócio ou lado do business. Então, eu não tenho medo de recomeçar, aprendi a recomeçar desde cedo.

Praticar esse desapego é difícil, não é?

Andre: Uma separação é sempre difícil e doloroso.

Mudando de assunto, o seu nome sempre foi sinônimo de qualidade musical. Dito isso, o projeto Symfonia, com o álbum In Paradisum, passa longe de qualquer coisa que você já tenha produzido, visto que o projeto falha com ideias mal trabalhadas e elaboradas. E olha que tinha gente boa no negócio como você, Uli Kusch e Timo Tolkki. Então, por que a coisa desandou de tal forma?

Andre: Symfonia iniciou como um projeto que tomou ares de banda e foi interrompido precocemente. Eu acho que foi uma coisa que poderia ter evoluído e ter feito mais, mas não dependeu de mim. Foi arbitraria a decisão de cessar esse projeto.

Você acha que não teve a demanda suficiente para o projeto?

Andre: Eu não tenho nada a reclamar em relação a isso, porque acredito que tudo que você começa, e olha que eu tenho experiência nisso de recomeçar tudo, você tem um caminho a trilhar, então, você não pode esperar estar no topo da montanha de um dia para o outro, há o caminho a trilhar e é justamente nesse ponto que houve discordância de mentalidades entre os envolvidos, achando que só reunindo alguns nomes famosos a coisa seria um sucesso imediato.

Você considera que In Paradisum depõe contra ou a favor de sua carreira?

Andre: Eu gostei muito! Eu o considero um ótimo disco composto por ótimos músicos e os shows foram de uma energia incrível, com feedback excelente para a banda e química excelente no palco.

Por mim, eu não tenho nada a reclamar, mas eu sou um cara que tenho a tendência de fazer as coisas não visando o lucro imediato, eu faço só quando realmente gosto e me alimento disso.

O lucro financeiro vem depois, afinal, sobrevivo de fazer música, dão-se outros jeitos de sobreviver, mesmo apostando num projeto a médio prazo.

Ás vezes, você precisa fazer um segundo, terceiro ou quarto disco para receber o merecido reconhecimento. Muitas são as bandas que esperaram quase dez anos para chegar ao patamar que elas mereciam.

Você lançou com o Angra três discos de estúdio oficiais, sendo que os que estouraram foram o Angels Cry e Holy Land. Como foram os feedbacks dos discos e turnês naquela época?

Andre: Na época, o álbum Holy Land foi extremamente criticado, e hoje, talvez, seja considerado o melhor da carreira do Angra.  Mas na época nós sofremos, principalmente no Brasil. No mercado internacional, não! Aqui foi muito detonado, mas lá fora foi bem entendido.

Devido aos elementos brasileiros?

Andre: Justamente! Muita resistência do público, que muitas das vezes é extremamente conservador. O disco demorou uns dez anos para ser bem aceito aqui no Brasil. E, sem dúvida, é um dos discos o qual me entreguei em 100% na composição.

A composição na época era focada em você e no Rafael Bittencourt?

Andre: Sim!  O foco era em nós, mas os outros também participaram.

O conceito do álbum veio de quem?

Andre: Se eu não me engano, eu desenvolvi esse conceito junto com o Rafael, mas a música, Holy Land, eu fiz sozinho. E esse conceito do título do disco veio da música que eu fiz.

Diante do feedback que vocês tiveram na gringa com o Holy Land seria esperado um álbum nos mesmo trejeitos, mas foi totalmente o outro extremo com o Fireworks.

Andre: Com certeza, porque a tendência é você sempre evoluir para algum lugar.

E é difícil agradar todo o público. Por exemplo: se fizer um disco igual ao anterior você está sem criatividade e se inovar demais você perde suas raízes.

Andre: A grande sacada, na realidade, e em como tudo na vida, é você ter o equilíbrio. As pessoas não entendem o que é estar na pele de um músico.

É muito fácil criticar quando você não tem a responsabilidade de fazer as coisas, mas quando você faz, você fica numa corda bamba: farei um trabalho que é motivador para mim? Ou farei aquilo que meu público deseja ouvir? Muitos incorrem no erro extremo de se repetir apenas para satisfazer o público, já outros correm o risco oposto: não satisfazer nada o público e fazerem aquilo o que querem.

As coisas não são por aí! Você tem que lembrar que você não faz música só para você. Quer fazer música só para você? Grava suas próprias canções e você mesmo as escuta sozinho. Eu faço isso. Tenho minhas composições clássicas que compus para mim.

Mas, por outro lado, essa postura reacionária e o medo de inovar são perigosos, porque você vai receber criticas como: mais do mesmo; o cara não tem mais criatividade e não se reinventa há anos, então, há de achar o caminho do meio, nem tanto ao mar e nem tanto a terra, sabendo inovar e manter suas raízes, o que é benéfico, mas isso demanda concentração e muito autocontrole.

Em relação a sua colocação, quais os exemplos, na sua carreira, as coisas foram de um extremo ao outro?

Andre: Fireworks (Angra) e Reason (Shaman) foram discos extremos, no sentido de termos feito aquilo que queríamos naquele momento e não o que esperavam de nós, com isso a receptividade não foi a mesma dos discos anteriores.

Por outro lado o Symfonia, o qual eu compus com o Timo Tollki, eu o considero um disco bom, mas vejo que não inova. O álbum segue o power metal europeu, nórdico, com tudo muito reto e preciso.

Verdade! O som é bem quadrado e com forte referência à carreira do Stratovarius antigo.

Andre: Eu sempre deixei claro: nós não estávamos tentando reinventar o estilo, apenas pegar o melhor de cada um e colocar num álbum.

Só de gravar com o Uli Kusch deve ter sido uma experiência em tanto, não é?

Andre: Poxa, cara! Trabalhar com o Uli foi fantástico. Eu sabia da história dele com o Helloween e Masterplan, mas não sabia do extremo bom gosto para os arranjos e som da bateria; e mais, ele gravou tudo em dois dias.

Selecionei três momentos de sua carreira e gostaria que você comentasse sobre, ok? Primeiro, Angra – Angels Cry; segundo, show do Shaman e convidados em São Paulo, que sucedeu o disco RituaLive; terceiro, o álbum Time to be Free.

Andre: Angels Cry foi um sacrifício para ser realizado e foi a primeira vez que nós gravamos fora do Brasil. Nós ficamos literalmente exilados durante meses na Alemanha gravando o álbum, mas em contrapartida tivemos oportunidade de conhecer pessoas incríveis como Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray), sendo que foi no estúdio dele que aconteceram as gravações do disco.

Trabalhamos com Sascha Paeth, que virou um amigo e parceiro para vida, com o Charlie Bauerfeind, que era o produtor na época.

Mas não foi fácil o processo de superação, sendo assim, um álbum difícil de terminar. O material estava todo na mão, porém, vimos, realmente, a realidade de trabalhar com os gringos e constatar o quão era diferente a forma que trabalhávamos aqui no Brasil.

O show do Shaman, RituaLive, foi quase que um milagre, porque tínhamos uma única chance para fazer aquilo, e lógico, tinha que dar certo. Acertamos no repertório, convidados, local do show, cenário, equipe, etc.

Eu considero, sem falsa modéstia, que é o melhor DVD já lançado por uma banda nacional no segmento heavy metal tanto em termos de produção quanto finalização.

O Time to be Free é mais um momento de superação e desapego, afinal, eu estava me responsabilizando por algo, que para mim era muito temeroso: dar minha cara a bater.

Você chegou hesitar?

Andre: Claro! Eu sair com uma banda com o nome Andre Matos? Eu nunca pensei em fazer isso, tampouco pensei ser um tipo de Ozzy Osbourne. As responsabilidades nas minhas costas quadruplicaram, na verdade.

Mas eu nunca quis um enfoque autocrático à banda, sempre quis deixar muito aberto para que todos participasse, opinassem e compusesse, a fim de ser e ter, realmente, o espírito de banda.

Sob uma perspectiva educacional você foi um profissional cuidadoso, lapidando-se a cada passo dado na carreira. E esse cuidado, lógico, lhe gabaritou com vários títulos, entre eles regente.

Por seu currículo, você foi escolhido a participar da peça teatral Tommy – uma encenação da Opera Rock da banda, The Who. Qual foi a sensação de estar em um palco estrelando uma das mais conhecidas, e por que não, maior opera rock já escrita?

Andre: Esse foi o ápice da minha carreira até hoje, e com certeza fora a coisa mais empolgante que eu já fiz. Ser o protagonista de um musical, cuja música é absolutamente incrível, é, com certeza, marcante. O fato de estar com uma orquestra; coral; num auditório impecável e com todo aparato de opera, foi uma experiência sensacional, a qual nunca tinha tido na minha carreira.

Como foi sua entrada para a peça?

Andre: O bacana que ninguém me conhecia! Quando cheguei para fazer o teste tinha mais de trinta pessoas querendo ser o Tommy, e eu não sabia que tinha que levar um acompanhante para fazer o playback no piano, e me perguntaram: ‘onde está o seu acompanhante’? Respondi que não tinha e faria o canto à capela para a banca de jurados.

Nessa banca havia professores de técnica vocal; diretores de teatro; a maestrina, que regeu a orquestra; diretor da secretaria de cultura, ou seja, era um negócio que botava medo. Eu me lembro da pergunta que me fizeram: ‘Só o papel principal lhe interessa ou você faria algum outro’?

Comentei que só faria sentido para mim o papel principal, porque esse, sim, seria um grande desafio, e uma semana depois recebi um telefonema da maestrina Mônica dizendo que eu tinha sido o escolhido.

Alguém do elenco o reconheceu?

Andre: Durante os ensaios, no meio do pessoal do coral, tinha uma garotada que me reconheceu. Os maestros e diretores falaram: ‘Espera um minuto, como eles te conhecem’? Eu expliquei e assim ficaram sabendo da minha carreira, mas já passava quase um mês do decorrer dos ensaios da peça.

Foram quantos concertos?

Andre: Foram três shows, todos sold out! Cada noite ficava quase quinhentas pessoas para fora do teatro sem poder assistir. E, com certeza, eu adoraria repetir isso.

E por falar em opera rock, você participa do projeto Avantasia que em muito se assemelha a uma opera rock. Como foi excursionar com esse projeto e estar no palco com tantas vozes, onde, por incrível que pareça, há espaço para todos brilharem?

Andre: Foi também uma experiência maravilhosa, porque foi uma turnê mundial por quatro continentes, tocando em lugares incríveis onde eu nunca tinha estado como a Rússia. Quanto ao nosso relacionamento, o clima era de pura interação e amizade, com diversão a cada noite.

E eu sou amigo de longa data de todos, então, excursionar pelo mundo com aqueles caras foi algo memorável. Digo mais! Foi a primeira vez que eu tive o gostinho de excursionar como headliner de todos os principais festivais do mundo, ou seja, o tratamento nos concedido foi realmente vip.

Os fãs já pediam essa turnê há tempos.

Andre: Pois é! Mas demorou quase dez anos para o Avantasia ir para estrada. E foi o Sascha Paeth quem convenceu Tobias [Sammet] a levar o projeto aos palcos.

O projeto Virgo, também com o produtor Sascha Paeth, é longe da jurisdição do heavy metal, mas é de uma qualidade invejável por muitos músicos. Há chances do Virgo contemplar, mais uma vez, a luz do Sol?

Andre: Não rolou um segundo disco, porque, tanto eu quanto o Sascha, andamos ocupados com outras coisas. Além disso, alguém precisa se interessar em lançar o álbum, pois o mercado fonográfico mudou muito desde aquela época até os dias de hoje, e o disco necessita de viabilidade para ser lançado.

Mesmo sendo um som acessível, o qual há potencial de atingir o público fora do heavy metal?

Andre: O Virgo foi trabalhado de maneira errada, sendo colocado somente para os fãs de heavy metal, enquanto ele poderia transcender isso. O disco é, sim, interessante para o público de metal, o qual mostra um lado “B” nosso, porque o som é focado num rock mainstream com influências de Journey, Queen e coisas desses tipos, mas, lógico, sem querer soar uma cópia ou pretensioso. O disco tem influências de blues e pop, também; trazemos para o conceito ares ‘vintage’.

Sobre o seu próximo disco de estúdio, o que você pode adiantar para nós?

Andre: Posso adiantar que as músicas estão em fase final de composição e o álbum é um equilíbrio entre os discos Time to be Free e Mentalize. Nós conseguimos chegar numa fórmula espontânea de aproveitar o melhor de cada fase da banda, sem perder a essência e a identidade, mas, ao mesmo tempo, dando liberdade para criatividade que quisermos ter com músicas fortes e marcantes.

E as turnês? Vocês não conseguirão pegar os festivais de verão europeus.

Andre: A partir de setembro já caímos na estrada. Mas esse período de lançamento não é bom para os festivais europeus, mas tem rolado alguns festivais de inverno, entre os meses de novembro e dezembro, por exemplo: Master of Rock, na Republica Tcheca. Talvez participemos de alguns desses festivais.

Muito se especula, e já virou quase crendice no meio heavy metal que você foi um dos finalistas a integrar o Iron Maiden. O que de fato aconteceu? Se houve algum contato seu com os britânicos, como foi o desenrolar da história nos bastidores?

Andre: Quando o Bruce [Dickinson] saiu do Iron Maiden em 1992, a gravadora EMI, através dos representantes aqui no Brasil, começou procurar eventuais substitutos aqui no país.

Na época, eu tinha recém saído do Viper e não tinha gravado o primeiro álbum do Angra, apenas uma demo, e isso foi um baque para banda, porque havia, segundo eles, a grande chance de eu ser escolhido, o que interromperia completamente os planos da gravação do primeiro disco, então, o material mandado para o pessoal do Maiden foram os dois discos do Viper e a demo do primeiro disco do Angra.

Eu, particularmente, nunca viajei na história de que eu fosse o escolhido, porque o Iron Maiden é uma banda demasiadamente britânica para que escolhessem um brasileiro para cantar, então, já não tinha grandes planos em relação a isso, então, foi natural que escolhessem o Blaze.

O interessante que anos mais tarde, quando me aproximei mais do pessoal do Iron, nós estávamos na gravação do álbum Fireworks na Inglaterra, em 1998, eu fui ao show deles como convidado, e tive a oportunidade de conversar melhor com Rod Smallwood [empresário do Iron Maiden], quando ele comentou: ‘você foi um dos três finalistas. E você ainda continua cantando muito bem’.

O Angra dividiu o palco com o Bruce Dickinson na turnê do Fireworks, não foi?

Andre: O Angra estava em alta na França, com isso, conseguimos fazer um show gigantesco no Zenith, em Paris, com mais de cinco mil pessoas. Convidamos o Bruce, que foi da Inglaterra à França pilotando seu próprio avião, só para o nosso show.

Foi maravilhoso porque ele é um dos caras que me inspiraram. Graça a Deus, eu tive oportunidade de encontrar todos os meus ídolos pessoalmente, como: Rob Halford, Dio, Eric Adams, e todos foram tão gentis, e essa foi a grande lição que aprendi.

Há pouco tempo houve o fatídico festival Metal Open Air, o qual você estava escalado como uma das atrações. Como a maioria sabe, o festival foi um desfile de erros e decisões mal tomadas e com mais tantas doses de irresponsabilidades.

Não como uma situação isolada, mas em todo contexto. O que falta para o Brasil ter festivais de heavy metal comprometidos com público e artistas como vemos no mercado internacional?

Andre: No Metal Open Air, nós queríamos tocar em respeito ao público, mesmo sem receber cachê, mas quando chegamos ao aeroporto faltava metade das passagens de ida e não havia nenhuma de volta, ou seja, ficamos totalmente sem condições logísticas para fazer o nosso trabalho.

Eu acredito que houve boas intenções no início do projeto, de fazer um grande festival, mas por uma questão de ineficácia e de dar um salto maior do que as pernas, as coisas tenham se complicado.

Eu, particularmente, acredito que ninguém agiu de má fé, mas rolaram os problemas e não souberam agir com o profissionalismo necessário. No final de contas resultou num grande desrespeito com o público e as bandas, obviamente. E cabe, agora, a justiça analisar e julgar quem é o culpado.

Esse ano você comemora vinte cinco anos de carreira. Nesses anos, tenho certeza que estão contidas todas às sortes de emoções. Mas o que você falaria ao garoto Andre Matos de vinte cinco anos atrás?

Andre: Você deveria ser engenheiro (risos). Na verdade há muitas coisas que eu gostaria de ter sido, por exemplo um médico. Adoro a medicina e sou um pouco hipocondríaco. Mas eu cumpri minha sina, sou músico e sou muito feliz por isso.

Obrigado pela entrevista, gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Andre: Agradeço a oportunidade de falar mais uma vez com vocês; agradeço o apoio durante todos esses anos e, o que depender de mim, eu continuarei firme e forte levando minha carreira adiante. Obrigado!

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